Por bferreira

Rio - Bonitos, fofinhos e muitos outros adjetivos positivos são atribuídos ao saguis, mais conhecidos simplesmente como micos. Os animais, de porte pequeno, são vistos constantemente pelas árvores em vários bairros do Rio, principalmente próximo a áreas de Mata Atlântica, como Urca, Cosme Velho, Tijuca e Grajaú. Porém, ao contrário do que muita gente pode imaginar, por trás de toda a fofura, os micos escondem doenças e são considerados uma praga para a preservação do mico-leão dourado e de toda a biodiversidade local.

Trilha Cláudio Coutinho%2C na Urca%3A visitantes não devem alimentar os saguis. Os pequenos primatas são considerados espécie invasora no RioErnesto Carriço / Agência O Dia

Atividade comum dos frequentadores da Pista Cláudio Coutinho, no bairro da Urca, a alimentação desses animais foi proibida pelo Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca, unidade de conservação do município. A ação foi divulgada por meio de placas que alertam os visitantes a não alimentarem a espécie.

“Nós sempre falamos aos visitantes que eles não deviam alimentar os animais, mas há menos de um mês colocamos essas placas avisando. É importante porque essa espécie de mico é considerada uma praga aqui no Rio e, podem transmitir doenças, como a raiva humana. Além disso, também podem atacar”, afirma o biólogo Marcelo Andrade, gestor do Monumento Natural.
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Segundo estudo do Laboratório de Ciências Ambientais da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), a presença abundante da espécie em ambientes que não são nativos é um problema nacional, resultado do tráfico ilegal de animais selvagens no Brasil. Vivendo em habitat que não é o deles — os animais são oriundos do Nordeste —, os saguis acabam competindo com outras espécies.
“Toda espécie que não está em seu habitat natural pode causar distúrbio ambiental. Aqui na capital não temos mico-leão, mas em outras regiões do estado, como o Norte Fluminense, onde as duas espécies convivem, há registros de que os saguis afugentam grupos de mico-leão. O sagui não é local e se caracteriza como espécie invasora. Além de competir com outras espécies locais, chega a ser predadora”, explica Carlos Eduardo Verona, pesquisador do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação (Tríade).
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Estudos comprovam que as espécies exóticas invasoras, incluindo o sagui, chegam a ser a segunda pior causa de perda de diversidade no mundo.
CARACOL AFRICANO
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Outro exemplo de espécie invasora é o já conhecido caracol-gigante africano e até mesmo o temido mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus da dengue e zika. Segundo a Secretaria de Estado do Ambiente, a Lista Oficial de Espécies Invasoras ainda está em análise no Conselho Estadual do Meio Ambiente. A lista inclui os saguis da espécie Callithrix, de maior ocorrência no Rio. Segundo a secretaria, depois da oficialização, será implantado o Programa Estadual de Gestão de Espécies Exóticas Invasoras, que definirá ações para controle da proliferação dos animais.
Colégio nota crescimento em dois anos
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Os saguis já estão no cotidiano do carioca faz tempo. Alimentá-los acaba se transformando em uma rotina comum, mas o hábito esconde riscos à saúde do animal e do ser humano. Mesmo localizado em área urbana, o Colégio dos Santos Anjos, na Tijuca, recebe grande população da espécie.
Segundo a Irmã Idanila, diretora do colégio, a recomendação é que os alunos não entrem em contato com os animais: “Eles descem muito quando as crianças estão por aqui, principalmente no horário do intervalo, quando comem o resto de comida. Eles circulam pelas árvores e grades, mas recomendamos que os alunos não os alimentem. Estou aqui há 16 anos e posso afirmar que em dois a espécie está mais frequente nessa região”, conta.
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No Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca, segundo Marcelo Andrade, já houve ocorrências de crianças sendo mordidas por esses animais. “Ali existe o hábito de dar alimento aos micos. á vi crianças sendo mordidas. Alguns, quando se sentem ameaçados, chegam a atacar pessoas”.
É importante não ter contato com os animais ou tentar resolver invasões à residência. Para essas situações, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente orienta que a população não entre em contato, alimente ou tente aprisionar nenhum animal silvestre. Quando o animal aparecer, o recomendado é recorrer à Patrulha Ambiental pelo telefone da prefeitura 1746.
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Reportagem da estagiária Rita Costa
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