Por cadu.bruno

Rio - O lápis de grafite, que usamos até hoje, foi inventado na Inglaterra em 1564. Quatro séculos e meio depois, em 2004, os pesquisadores russos Andre Geim e Konstantin Novoselov, da Universidade de Manchester, desenvolveram o processo para a obtenção de um material a partir da esfoliação do cristal de grafite: o grafeno. A descoberta rendeu à dupla o Prêmio Nobel da Física, em 2010. E ao mundo, a perspectiva de produzir materiais mais leves, resistentes, duradouros e sustentáveis.

Grafeno consegue absorver 900 vezes sua própria massa em óleoDivulgação

Dentre as várias aplicações do grafeno, que é biodegradável, pesquisadores da Universidade Mackenzie, de São Paulo, desenvolvem projeto de uma esponja capaz de absorver efluentes, principalmente em águas contaminadas com rejeitos de petróleo, que normalmente ocorrem em vazamentos, como o de 2011, na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, que derramou 588 mil litros de petróleo no mar.

“O grafeno consegue absorver 900 vezes sua própria massa em óleo. Tanto para gases quanto para líquidos”, garante a professora de Química Cecília de Carvalho Castro e Silva, que coordena o trabalho. Outra hipótese de uso do grafeno, diz respeito à produção de uma membrana capaz de dessalinizar e filtrar a água, tornando-a própria para o consumo humano.

“O grafeno é um material novo e tem propriedades excelentes”, explica o professor de Física da PUC-RJ, Fernando Lázaro. Entretanto, por ser uma descoberta muito recente, os efeitos de sua aplicação são uma incógnita.

“O grafeno não é material cuja síntese produza aquecimento global ou poluição. Mas precisamos saber quais reagentes vão processá-lo. O silício é processado quimicamente e produz rejeitos que são contaminantes”, adverte o professor. O que se sabe é que, por suas características, especialmente de resistência e durabilidade, o grafeno deve gerar quantidade menor de lixo tecnológico e industrial, o que é bom para a natureza.

De olho em um mercado de US$ 1 trilhão

“Bem vindos ao futuro”. Foi com essa saudação que o presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Maurício Melo de Meneses, recebeu os convidados para a inauguração do primeiro Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologias da América Latina. O MackGraphe foi lançado na quarta-feira, no Campus Higienópolis da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

Com status de material mais resistente e fino do planeta, além de excelente condutor de eletricidade e calor, o grafeno é considerado o futuro da tecnologia mundial, com potencial de movimentar um mercado de US$ 1 trilhão em vários setores: defesa, eletroeletrônicos, semicondutores, produtos como plástico ou látex, televisões e smartphones, com displays flexíveis e transparentes. Além disso, estudos recentes revelam que o material também pode ser utilizado na filtragem de água.

“Alguns acham que é loucura, mas nosso projeto de grafeno será motivo de orgulho”, garantiu Meneses, afirmando que foram investidos R$ 100 milhões na construção do MackGraphe.

Para o diretor do Centro de Pesquisas do grafeno da Universidade de Singapura, o físico brasileiro Antonio Hélio de Castro Neto, o mundo vive hoje uma espécie de corrida do grafeno. “O Brasil não pode perder a oportunidade de participar desse bolo”, defendeu Castro Neto, reconhecendo, no entanto, que as pesquisas sobre a aplicação do material ainda são muito recentes. “Fazer ciência é sempre um salto no escuro”, afirmou.

Números

200 vezes

Comparado com o aço, material é muito mais forte, porém, extremamente flexível. É um milhão de vezes mais fino do que um fio de cabelo humano. Melhor condutor de eletricidade já conhecido, mais de 10 vezes mais do que o cobre.

US$ 15 mil

Valor estimado de 150 gramas de grafeno, que podem ser extraídos a partir de um quilo de grafite, cujo preço no mercado fica em torno de US$ 1 . Já é o considerado o material mais leve: cada metro quadrado de grafeno pesa cerca de 0,77 miligramas.

R$ 100 milhões

Em reais, foi o investimento feito pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie e pela Fapesp na construção do primeiro centro de pesquisas em grafeno da América Latina, inaugurado em São Paulo, no último dia 2 de março.

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