Renovação das águas da Lagoa é lenta e prejudica equilíbrio do ecossistema local
Desde 1844 são realizados projetos para tentar resolver o problema da poluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal da cidade. De lá para cá, foram 52 estudos
Por tabata.uchoa
Rio - Já em 1880, a Lagoa Rodrigo de Freitas causava polêmica entre aqueles que tentavam reduzir o mau-cheiro das águas e salvar os peixes que vivem ali. Naquela época, o Barão de Tefé discutia com o Barão de Lavradio a possibilidade de instalar moinhos de vento para bombear água do mar para a Lagoa. “Isso mostra o espírito desse debate que dura um século, com a diversidade de opiniões que já naquele tempo queriam se impor”, conta o engenheiro Victor Coelho, autor do recém-lançado livro ‘Lagoa Rodrigo de Freitas: Uma Discussão Centenária’.
Segundo pesquisadores%2C a renovação das águas da Lagoa com entrada da água do mar é o principal desafio para garantir sua preservaçãoRicardo Zerrenner / Divulgação
Problema antigo, a necessária renovação das águas da Lagoa é lenta demais — isso prejudica o equilíbrio do ecossistema do local, que fica com excesso de nutrientes, a chamada eutrofização. É esse fenômeno que pode causar a mortandade de peixes. Desde outros tempos, esse fator também complica a vida de quem vive no entorno. “Essa questão existe desde a época dos índios. Quando as chuvas caíam ali, sem entrar água do mar, a lagoa ficava doce, o que aumentava a proliferação dos mosquitos, que atazanavam a vida de quem vivia ali”, explica Victor.
Em 1923, foi construído um canal artificial para facilitar a troca das águas entre lagoa e mar, o Jardim de Allah. Contudo, a construção é estreita demais e termina na arrebentação da praia, o que movimenta muita areia. Isso faz com que o canal frequentemente entupa, causando inundações.
A mortandade de peixes é um dos mais graves efeitos da poluiçãoArquivo
Mas esse problema já tem (mais de uma) solução. Em 1992, o professor de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ Paulo Cesar Rosman propôs, em estudo com sua equipe, uma ligação lagoa-mar que terminasse atrás das ondas — mas nada foi feito. Em 2001, novo estudo: dessa vez, com tubulões subterrâneos. Segundo o pesquisador, faltou vontade política do município e do estado, que são responsáveis pela Lagoa.
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“Geralmente, os políticos prometem quando acontece inundação, mortandade de peixes… Aí vem o governador do momento e promete resolver esse problema centenário. Mas passa o problema momentâneo, a imprensa esquece e todos esquecem”, afirma Paulo Cesar.
O professor argumenta que a questão não é falta de verbas para a empreitada. “Não é muito caro, em termos relativos. Na Lava Jato, só um dos diretores da Petrobras se apropriou de US$ 100 milhões. A intervenção custaria um terço disso”, compara.
Victor Coelho analisa em livro tentativas de salvar esse rico ecossistemaYuri Maia / Divulgação
Águas pluviais são fonte de poluição
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Além da renovação de águas, a Lagoa tem outros grandes desafios. “A maior fonte poluidora hoje são as águas pluviais, que ocorrem quando existem grande chuvas. Elas lavam as ruas e pegam matéria orgânica que vai pra dentro da lagoa”, explica Victor.
Para o pesquisador da UFRJ, a geografia do entorno faz desse um problema impossível de resolver. “Não há maneira de impedir isso, a lagoa fica é um ‘anfiteatro’ de montanhas no entorno”, diz Paulo Cesar.
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Mas para Victor, a Lagoa tem a vantagem de ser um cartão-postal. Corpos d’água como a Lagoa de Jacarepaguá sofrem de problemas semelhantes, mas têm menos atenção. “A Lagoa Rodrigo de Freitas tem um fã-clube grande”, brinca.