Brasília - A menos de uma semana de ser julgado por três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou a jornalistas estrangeiros que a impugnação de sua candidatura à Presidência da República, consequência provável de uma condenação, seria uma "fraude". Além disso, o petista declarou que vai continuar "brigando" até o fim para concorrer no pleito de outubro.
"Na minha vida eu não conheço a palavra desistir e não faço uso dela", disse Lula aos jornais 'El País', 'The New York Times', 'The Guardian', 'La Nación', 'Die Zeit' e 'Liberátion'. "Se o Lula for proibido de ser candidato por uma decisão política do Judiciário, obviamente está se montando uma fraude", disse em terceira pessoa.
O petista voltou a se declarar inocente da condenação do juiz Sergio Moro, após ter sido acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. "A aceitação (da denúncia) tal como ela foi me faz supor que estamos diante de processo mais político do que jurídico."
"Eu não posso julgar o que vai decidir o tribunal porque eu não conheço nenhum juiz. A única coisa que eu espero é que eles tenham lido o processo e com base nisso eles decidam respeitando o Código Penal e a Constituição", disse Lula sobre o julgamento da quarta-feira que vem.
Lula declarou que vai continuar na corrida presidencial mesmo se a sentença lhe for desfavorável, usando os recursos disponíveis. "Vou continuar lutando porque quero viver até os 120 anos... para estar forte, para estar bem de saúde, para estar de bom humor... O dia 24 para mim não é o Dia D, é um julgamento. Tenho mais nove ou dez processos."
Pauliceia e pajelança
Tal como fez no Rio, Lula se reuniu quinta-feira à noite com artistas em São Paulo. Na Casa de Portugal, o ex-presidente voltou a criticar a força-tarefa da Lava Jato e o juiz Moro, dizendo que eles inventaram uma "mentira" e que agora "não conseguem voltar atrás". Lula afirmou ainda que seu julgamento virou uma questão de "soberania nacional".
"Os delegados da Lava Jato mentiram. Mentiu o Ministério Publico quando fez a acusação e mentiu o juiz Sergio Moro quando me condenou. Como é que eles vão dizer agora que eu não tenho um tríplex?", questionou. Lula disse que sempre acreditou na democracia, mas que agora entende que existem dois tipos dela: uma "democracia formal" e a "democracia que queremos", disse o petista, retomando o discurso de que os governos não petistas trabalharam para vender o patrimônio nacional e manter a desigualdade. "Igualdade (para eles) é uma palavra com forte conteúdo e pouca praticidade." O petista ainda enumerou as realizações de seu governo e disse que, apesar de tudo, o brasileiro "aprendeu que é bom ter direito" e "a andar de cabeça erguida".
Ontem à tarde, o "pixuleco", boneco inflável representando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um uniforme de presidiário, foi inflado na porta do apartamento do petista em São Bernardo do Campo. Vídeo gravado pelo secretário do setorial sindical do PT, Paulo Cayres, mostra o boneco de 13 metros de altura sendo inflado.
No vídeo, Cayres xinga os manifestantes e conclama a militância do PT a ir retirar o "pixuleco" de lá. "Esse balão não vai ficar aqui. Todo mundo tem que vir para cá. Vamos ter que tirar hoje senão eles vão permanecer aqui!" O ativista Guilherme Boulos fez coro, e logo a militância sem-teto compareceu em peso.