Um mês depois de sua posse em janeiro de 2011, a presidenta Dilma Rousseff prometeu aumentar os empréstimos subsidiados para os estudantes das universidades particulares do País. A iniciativa visava expandir o acesso ao ensino para uma classe média emergente que cresceu com a adição de 40 milhões de pessoas em uma década.
Desde então, cerca de 8 milhões de pessoas receberam bolsas de estudos patrocinadas pelo Estado, e mais um milhão obteve aprovação para empréstimos estudantis. A demanda tem sido uma bênção para a operadora brasileira de escolas Ser Educacional SA e para seu fundador, Janguiê Diniz. Desde a abertura de capital da companhia, em outubro, a maior já feita por uma empresa de educação no Brasil, as ações subiram 44% e tornaram bilionário o homem de 50 anos.
“Esses programas são extremamente importantes, porque a maioria dos estudantes é jovem e não pode pagar”, disse Diniz em entrevista por telefone de seu escritório no Recife. “Nunca estive realmente interessado em me tornar bilionário, mas em fazer o trabalho que precisa ser feito na educação”.
A receita da Ser Educacional deu um salto de 44% no primeiro trimestre em relação ao ano anterior, para R$ 155 milhões, alimentada por um aumento de 51% no número total de estudantes, que chegou a 113.000 pessoas. Cerca de 19% dos estudantes recebeu bolsas de estudos para cursos de educação profissional e tecnológica pelo programa Pronatec, de Dilma. Aproximadamente 45% dos estudantes da empresa que ainda não se formaram recebeu empréstimos estudantis sob o programa governamental Fies, que cresceu mais de seis vezes para 556.000 contratos desde sua criação, em 2010.
Outras empresas de educação também se beneficiaram com os programas. A Kroton Educacional SA e a Estácio Participações SA cresceram 101 por cento e 83 por cento nos últimos 12 meses, tendo os dois melhores desempenhos no índice Bovespa do Brasil.
Onda de consolidações
Os programas desencadearam uma onda de consolidações. No mês passado, os reguladores aprovaram a aquisição da Anhanguera Educacional Participações SA pela Kroton, transação que fará dela a maior empresa de educação com fins de lucro do mundo. Também foram aprovadas a compra da Universidade São Judas Tadeu pela Gaec Educação AS, por R$ 320 milhões, e a oferta da Estácio para comprar a operadora de universidades Uniseb.
A Ser Educacional comprou as universidades Unespa e ISES, com 12.000 estudantes no Pará, segundo um documento apresentado em 19 de maio.
Dilma disse que aumentará o apoio aos estudantes em universidades particulares se for reeleita. Ela tentará conquistar um segundo mandato como candidata do Partido dos Trabalhadores nas eleições de outubro.
Escola noturna
Diniz, nascido em uma cidadezinha no interior semiárido do nordeste do Brasil, disse que descobriu sua paixão pelo ambiente acadêmico quando se mudou com um tio para o Recife, aos 14 anos. Ele trabalhava como office boy de dia e estudava à noite.
Ele trabalhou como professor da Universidade Federal de Pernambuco e como juiz e procurador do trabalho antes de criar o Bureau Jurídico, um curso preparatório para concursos públicos. Ele criou o Grupo Ser Educacional em 2003 para supervisionar uma crescente rede de escolas.
Hoje, o grupo de Diniz possui 23 instituições em 11 estados; de Manaus, a maior cidade brasileira na Amazônia, até Salvador, capital da Bahia. O bilionário, que nunca apareceu em um ranking internacional de riqueza, disse ter rejeitado ofertas de partidos políticos brasileiros que o apoiariam caso ele se candidatasse ao Congresso.
“Eu me senti honrado, mas acho que o trabalho que estou fazendo na educação é tão importante que preferi seguir este caminho”, disse ele. “É o que eu quero. O sucesso que temos, independentemente de ter me tornado bilionário, é uma consequência do trabalho que fazemos”.