Por monica.lima

São Paulo - À frente do Datafolha Instituto de Pesquisas há 16 anos, o sociólogo Mauro Paulino afirma que esta eleição será imprevisível, e com características únicas, por ser a primeira após as manifestações de junho do ano passado, que geraram enorme má vontade do eleitor com a política. “Hoje há uma rejeição aos políticos e aos partidos que talvez só se compare à época do impeachment do Collor. O Datafolha aponta que 67% dos eleitores não têm preferência por nenhum partido, é um recorde histórico”, conta. Este ano, acredita Paulino, a eleição não será tão dominada por temas econômicos quanto em 2010. “A economia é importante, mas divide a atenção com a exigência por melhores serviços públicos”. Paulino avalia que a presidenta Dilma Rousseff deveria investir numa vitória em primeiro turno. “Se for para o segundo turno, a possibilidade de ser uma campanha muito acirrada é maior”, alerta o sociólogo, que se incomoda com a especulação na bolsa de valores sobre as pesquisas eleitorais: “É pura jogatina”.

"O eleitor hoje é pragmático e quer melhoria na sua vida"%2C diz o diretor-geral do Datafolha Instituto de Pesquisas%2C Mauro PaulinoMurillo Constantino

Quem vence a eleição presidencial deste ano?

É uma eleição bastante imprevisível, com características diferentes. Em dezembro de 2009, a então candidata Dilma Rousseff estava bem atrás de seu adversário tucano, José Serra. Mas fizemos um exercício com o poder de transferência de votos do Lula e chegamos à conclusão de que, no mínimo, ela iria empatar com o Serra. Mas nessa eleição não dá para fazer um exercício como antes. Em 2010, havia um desejo de continuidade da população, com um candidato de oposição conhecido, o Serra, e uma candidata da situação desconhecida, Dilma. Hoje, a situação é inversa. Há um desejo amplo, de 74% do eleitor, por mudanças; uma candidata do governo conhecida; e dois candidatos da oposição desconhecidos. A taxa dos que conhecem muito bem Dilma é de 53%. No caso do Aécio, 17%. Tem uma avenida a ser percorrida pelos candidatos de oposição para serem conhecidos e passar suas mensagens.

O que esse desejo de mudanças significa?

Os três candidatos colocaram a palavra mudança no slogan. Esse desejo não é só em relação ao governo, e sim uma vontade do eleitor de os políticos agirem de outra forma. Hoje há uma rejeição aos políticos e aos partidos em geral que talvez só se compare à época do impeachment do Collor. O Datafolha aponta que 67% dos eleitores não têm preferência por nenhum partido, é um recorde histórico.

Isso seria um resquício das manifestações de junho de 2013?

Certamente. Junho de 2013 foi um momento muito rico e de importância fundamental no desenvolvimento da cultura política do brasileiro. O cidadão vem exercitando o voto a cada dois anos e se conscientiza gradativamente sobre o significado de votar. Isso é o desenvolvimento da democracia, que ainda é muito jovem. A conscientização do eleitor cresce em uma velocidade muito mais rápida que a dos políticos em geral. Isso acaba acarretando essa rejeição aos partidos. Até mais importante do que a quantidade de pessoas que foram às ruas, foi o número das pesquisas, que apontaram que mais de 80% da população apoiavam as manifestações.

Não é um contrassenso as pessoas continuarem votando nos mesmos políticos, uma vez que não acreditam mais neles?

A oferta de políticos não deixa muita escolha, as pessoas acabam votando por exclusão. Os anseios que se manifestaram em junho não são contemplados. Desde 2008, o principal problema apontado no país, com respostas espontâneas, é a saúde pública. Mesmo em meio à polêmica, o Programa Mais Médicos tinha o apoio de 51% da população no seu lançamento. O que havia de indignação antes das manifestações, caminhou para algo que podemos chamar de revolta. Teve um episódio naquela época muito significativo: no segundo dia de manifestações, a imprensa transmitia ao vivo a pancadaria da polícia em jovens de classe média. No programa “Brasil Urgente”, da TV Bandeirantes, o José Luiz Datena apresentou uma enquete para saber se a população era a favor do movimento, mesmo com a violência, e 60% disseram que sim. Então ele repetiu a pergunta, fez um discurso para tentar induzir a resposta, mas aumentou ainda mais o número de favoráveis. Essas enquetes não têm valor científico, mas foi significativo o fato de o público do Datena responder dessa forma. Por conta disso, ele mudou o discurso.

Essa indignação se reflete no número de 13% de votos brancos e nulos, e 14% de indecisos? Essa é uma taxa considerada alta?

A taxa de 27% de eleitores sem candidatos é inédita neste período da eleição. Quando comparamos com eleições anteriores, ficava em torno de 12%. Esse é um dos indícios de que o eleitor está revoltado e crítico.

Que outros indícios são importantes?

Hoje temos a maior taxa de eleitores que não têm um partido de preferência, 67%. Pela primeira vez, a maioria dos eleitores se mostra contra o voto obrigatório. E a maioria não votaria se não fosse obrigatório. Quando observamos esses números em cidades com mais de 200 mil habitantes, eles aumentam muito. O eleitor está mais desconfiado da política, principalmente nas capitais e centros urbanos.

Essa desconfiança tende a crescer?

Há uma grande parcela do eleitorado buscando mudanças, que ainda não enxerga na oposição a concretização disso e nem vê claramente no governo um vetor de mudança. Desde a semana passada, começou a exposição maior das campanhas.

Como os candidatos se comportarão em relação a essa demanda?

Esta é uma eleição na qual o marketing político terá um papel fundamental. Cada um dos três principais candidatos tem uma mensagem a passar muito específica. A de Dilma é mudar sem perder o que já foi conquistado. A de Aécio, de que ele faz a oposição mais explícita ao governo, mas tem que se defender da imagem negativa do segundo mandato do Fernando Henrique Cardoso — que é um cabo eleitoral negativo, mais tira votos do que agrega. Eduardo Campos tem a missão mais difícil, que é fazer oposição a Dilma sem criticar Lula, e ao mesmo tempo convencer o eleitor da Marina Silva que está em sintonia com suas ideias. E a oposição ainda tem que se tornar conhecida.

Na eleição passada, Serra abandonou Fernando Henrique. Mas parece que Aécio não pretende fazer o mesmo. Como é possível trabalhar a imagem dessa parceria?

Isso é um risco para a campanha de Aécio. Mostrar a imagem de Fernando Henrique e se remeter aos governos dele pode ser negativo. Tanto que, na primeira inserção, a campanha deu sinais de que não irá usar tanto isso.

Eduardo Campos tenta colar na imagem do Lula e se afastar de Dilma, o que até parece uma questão simples, só que Lula e Dilma estão juntos...

O Lula está explicitamente mostrando que Dilma é a candidata dele. Ele não tem a mesma força de transferência de votos que esbanjava em 2010, mas ainda é o maior cabo eleitoral do país. E Dilma tem um tempo de televisão farto. Embora isso não garanta a vitória. Ulysses Guimarães, que tinha 20 minutos em 1989, ainda assim não conseguiu passar sua mensagem. Às vezes, muito tempo de televisão pode se voltar contra o candidato.

Mas hoje não existe uma diferença por conta das inserções?

Sim, a inserção é mais importante que o horário político. Até porque, mais do que nunca, os políticos não são bem-vindos às casas hoje. O horário político fixo deve perder muita audiência depois da primeira e da segunda semana. Já era assim, mas será intensificado nesta eleição, pois ninguém está com vontade de receber os políticos em casa.

Dilma e Aécio já sinalizaram que travarão uma batalha de números na televisão. A petista deve comparar as taxas de juros e a inflação com o último governo de Fernando Henrique, enquanto Aécio deve utilizar os últimos números fracos da economia. Como isso será visto pela população?

Esse é o grande embate: a forma como cada um vai comunicar os vetores que vão definir a eleição. Vai levar vantagem aquele que souber conversar com o eleitor de uma forma mais natural e factível.

Lula vai participar da campanha de Dilma e deve esbanjar carisma na televisão. Isso se refletirá em vantagem para a petista?

O maior trunfo da campanha da Dilma será o Lula. Normalmente, a propaganda na televisão melhora a avaliação do governo. Dilma vai passar a mostrar seus feitos de forma atraente e é fundamental que ela melhore a taxa de aprovação, hoje em 32%, para vencer no primeiro turno. Há um estudo que mostra que, quando o candidato tem uma taxa de aprovação de até 34%, não vence eleição.

A campanha dela prioriza a vitória no primeiro turno?

Essa é a maior chance de vitória da Dilma. Se for para o segundo turno, a possibilidade de ser uma campanha muito acirrada é maior. A reeleição é um plebiscito — ou a população aprova, ou não aprova. As principais simulações de segundo turno mostram que o aperto é cada vez maior.

Dilma vem se mantendo com cerca de 35% da preferência do eleitor, enquanto Aécio não ultrapassa os 23%. É uma situação confortável para o PT, ou já pode ser considerada
um sinal de alerta?

A Dilma permanece como favorita para ganhar no primeiro turno, mesmo com a queda de popularidade. Por outro lado, quando observamos a evolução da avaliação do governo Dilma, ela voltou para o patamar mais baixo, verificado durante o período das manifestações do ano passado (32%). A probabilidade de ter segundo turno é de 50%.

As pesquisas tendem a mudar com o horário eleitoral?

Isso varia. Em 2002, era uma disputa entre Serra, Ciro Gomes (então no PPS), Lula e Anthony Garotinho (na época no PSB). A partir do horário eleitoral, Ciro Gomes passou a crescer muito e encostou no Lula, mas deu uma declaração ruim em relação à atriz global Patricia Pillar (sua mulher naquele período) e despencou. Em 2010, Dilma era desconhecida e, na medida em que teve o nome vinculado a Lula na televisão, conseguiu ultrapassar Serra. É possível que, neste ano, o horário eleitoral também funcione dessa forma.

O Datafolha aponta que 45% dos eleitores acreditam que a Copa foi favorável a Dilma. O que o sr. acha?

A Copa não vai pesar nada. A expectativa de caos nos aeroportos e de uma organização ruim acabou se revertendo. Fizemos pesquisas antes da Copa, durante, e depois que terminou. Notamos que, durante o evento, os brasileiros se mostraram com mais orgulho do Brasil em meio ao sucesso da organização. A taxa de vergonha de ser brasileiro, que havia chegado a 27% antes da Copa, se reverteu. Com a derrota da seleção, esse e outros indicadores sobre o evento voltaram ao patamar do começo.

Então o sucesso da organização acabou anulando a derrota histórica da seleção?

Sim, acabou sendo um zero a zero. Houve uma movimentação durante o evento. O ânimo do brasileiro melhorou, uma vez que a perspectiva de caos se tornou festa.

O que sai como plataforma possível das manifestações de rua para os candidatos?

Nas eleições anteriores, o comportamento da economia ditava a conduta do eleitor. Isso continua importante, mas divide a atenção do eleitor e a formulação do voto com a exigência por um melhor padrão de serviços públicos, especialmente na área de saúde. O eleitor hoje é pragmático, quer melhoria na vida.

É por isso que vimos tantas voltas na discussão sobre o Mais Médicos?

O programa foi criado para dar resposta a essa demanda pela melhora no setor de saúde. A partir do seu lançamento, a taxa de eleitores que citam a saúde como principal problema vem caindo. Ela saiu de um patamar de 50% e hoje está em 38%. Isso é um reflexo da boa avaliação do Mais Médicos.

Eduardo Campos colocou entre suas prioridades de campanha a bandeira para que 10% do Produto Interno Bruto sejam investidos em saúde. Isso pode ajudar a angariar votos?

As propostas têm de ser factíveis. O eleitor vai observar isso também. Ele precisa demonstrar de onde vai tirar recursos para chegar a esses 10%. Em um primeiro momento, ele pode estampar essa proposta no horário eleitoral gratuito e agradar, mas, se no debate ele for questionado sobre o assunto e titubear, pode perder o que ganhou.

O sr. falou dos impactos dessa rejeição aos políticos no plano nacional. Essas questões aparecem também nos estados?

Sim. Mas em São Paulo é um pouco diferente, pois existe uma relação muito próxima do eleitorado com os governos do PSDB, principalmente no Interior. E, também, os candidatos de oposição ainda não são conhecidos. O eleitor acorda para a eleição estadual mais tarde, a partir do horário eleitoral, quando percebe a necessidade de escolher governador, deputados e senadores. Grande parte dos eleitores não acordou ainda para a eleição. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin sai com favoritismo grande, de 56% das intenções de voto, para ganhar no primeiro turno. No entanto, existe a preocupação com a falta de água e a violência urbana. Temos ainda um terço dos eleitores que não escolheu candidatos em São Paulo, é uma taxa recorde. No Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (ex-governador) foi tirado da disputa política deste ano como reflexo das manifestações. O Rio é uma cidade mais crítica e politizada, busca mais mudanças. Foi onde a ex-ministra Marina Silva, então candidata à Presidência pelo PV, teve mais votos em 2010. São Paulo é mais conservador.

Essa relação do eleitor de São Paulo com o PSDB mexe com a decisão do Paulo Skaf (candidato a governador pelo PMDB) de não querer fazer campanha para a presidenta Dilma Rousseff?

Sim, pois São Paulo é um dos estados onde se tem a maior rejeição aos governos do PT.

Isso explicaria o fraco desempenho do ex-ministro Alexandre Padilha, que tem 4% das intenções de voto, para o governo paulista?

Não, é mais pelo desconhecimento da população. Ele vai se apresentar no horário eleitoral. O prefeito Fernando Haddad, neste mesmo momento da eleição, tinha 3% das intenções de votos. Durante a campanha, ele foi lentamente sendo conhecido e, quando foi relacionado ao Lula, acabou ganhando a eleição. O Padilha pode se transformar em uma candidatura forte.

E o Skaf?

Ele já aproveitou muito tempo de televisão com as propagandas da Fiesp (entidade da qual é presidente licenciado) e chegou a esse patamar (16% de intenção de voto) graças a essa exposição. Conseguiu ainda um tempo de televisão considerável e tem um marqueteiro de primeira linha, o Duda Mendonça. Pode se consolidar, nas primeiras três semanas de horário eleitoral, como uma alternativa viável para derrotar Alckmin. Pode ser que o eleitor do Padilha pratique o voto útil, uma vez que Skaf pode se tornar o candidato mais viável para vencer Alckmin.

Enquanto em São Paulo Alckmin é o favorito, no Rio a disputa está bem acirrada, com Garotinho e Crivella empatados. Mas Garotinho tem uma taxa de rejeição de 39%. Isso pode se traduzir em vantagem para o Crivella?

Sim. E também o Rio tem um percentual de evangélicos acima da média nacional. Então, o Crivella teria duas vantagens, embora os evangélicos estejam divididos entre os dois candidatos. O Rio é um estado que guarda surpresas.

A questão da queda da popularidade de Haddad vai pesar para o PT em São Paulo?

Não diria isso. A avaliação do Haddad é reflexo em boa parte dessa resistência do paulistano ao PT. Desse sentimento de revolta e contestação aos políticos, que é maior em grandes cidades, especialmente São Paulo.

Dilma perdeu seis pontos percentuais de popularidade no Nordeste, que é a região onde tem a maior parte do eleitor, de 49%. Isso é preocupante?

Não. Temos que relativizar as variações por região, porque a margem de erro é maior. A grande questão em relação ao Nordeste é como o Eduardo Campos vai se comportar, se vai conseguir extrapolar as fronteiras de Pernambuco, superar um certo preconceito que outros estados têm com Pernambuco e tirar votos da Dilma.

Eduardo Campos se instalou em São Paulo, Aécio tem visitado o estado. Qual será o peso do maior colégio eleitoral do país?

Neste momento, todos os candidatos vão tentar marcar território em São Paulo. É uma parte do país que está um pouco descoberta, o que cria a necessidade nas campanhas de conquistar a empatia dos paulistas.

Como as eleições nacional e estadual se conversam em cada estado?

Tradicionalmente, o eleitor acaba não fazendo ligação, tanto que muitos votam no Alckmin e na Dilma. Historicamente, os eleitores votam mais no nome do que no partido. A empatia com o candidato, com a figura que é criada pelos marqueteiros, acaba decidindo a eleição.

Isso tem alguma relação com a impressão de que a Dilma fica com quase toda a rejeição do Lula, mas não consegue ficar com parte expressiva da aprovação dele?

Quando a gente lembra de Dilma entregando a taça da Copa do Mundo para o jogador da Alemanha, já dá uma ideia de como é difícil para os marqueteiros superarem a imagem que a personalidade da presidenta acaba passando para o eleitorado. É diferente da empatia que Lula cria espontaneamente. Essa é uma dificuldade, fazer com que o candidato se torne simpático, mesmo que ele não seja no dia a dia. Dilma não tem, nem de perto, o carisma do seu padrinho.

Em relação às pesquisas. Enquanto Datafolha e Sensus apontaram que haveria empate técnico no segundo turno, para o Ibope, Dilma ganharia. Como explicar essa diferença de cenário, se os levantamentos foram feitos na mesma época?

Ainda bem que os institutos permanecem com as suas convicções, cada um utilizando um método próprio, apesar de a lei eleitoral tentar cada vez mais igualar os métodos. Sutilezas metodológicas explicam essa diferença. Por exemplo, todo questionário do Datafolha é voltado para trazer o entrevistado para uma situação presente, com questões como “Se o segundo turno fosse hoje, em quem você votaria?”. O Ibope não traz o eleitor para pensar se o segundo turno fosse hoje. Não digo que um esteja certo e o outro errado, são apenas diferentes.

O reflexo dessa diferença foi sentido principalmente na bolsa de valores, que vem oscilando de maneira contundente a cada divulgação de pesquisa eleitoral. Já aconteceu em outras eleições?

Isso é esdrúxulo. A especulação na bolsa é algo que está me incomodando muito. As pesquisas eleitorais estão supervalorizadas. A pesquisa não pode ser vista como um prognóstico, ela é um diagnóstico do que já aconteceu, pois quando é divulgada, já está velha. Tem muito a se percorrer na cultura de leitura de pesquisa no Brasil. Aconteceu algo parecido em 2002, quando o Lula era considerado uma ameaça e, a cada ponto que subia, o dólar subia junto. Esse movimento da bolsa, peculiar desta eleição, é pura especulação, não vejo lógica e nem justificativa para que resultados de pesquisas que mostram estabilidade e variações dentro da margem de erro possam influenciar as ações desse jeito. Isso é pura jogatina, cassino. E essa especulação é estimulada pela lei eleitoral.

De que maneira?

Todo instituto que divulga a pesquisa tem que registrar a realização do levantamento cinco dias antes da divulgação. Isso é anacrônico, não tem utilidade nenhuma. Em tese, seria para os partidos poderem fiscalizar as pesquisas, mas a fiscalização na maioria das vezes se dá após a divulgação. Esse intervalo de cinco dias proporciona a possibilidade de outro instituto, contratado por financeiras, fazer uma pesquisa tentando copiar exatamente o questionário que já foi registrado e repete a mesma amostra. Isso é uma pesquisa clone, confeccionada para ser entregue um dia antes da divulgação oficial. Não com o objetivo de informar, e sim de tentar antecipar o número que Datafolha e Ibope entregarão no dia seguinte, o que dá mais margem para especulações.

Em 2010, as campanhas tentaram abordar temas morais. Qual a possibilidade de esses temas voltarem agora?

Devem voltar. As questões do aborto e da legalização da maconha devem ser levantadas, principalmente após a atitude do Uruguai. E como é um tema no qual Fernando Henrique se envolveu diretamente, e como há acusações na internet em relação ao Aécio, a questão das drogas pode voltar sim.

Aécio pode ser prejudicado?

Se a eleição ficar muito acirrada, principalmente na reta final, pode ser decisivo. Mudanças de pequenas parcelas do eleitorado podem levar a eleição a um segundo turno.

E a questão do aeroporto de Claudio (MG), construído em terras desapropriadas de parentes de Aécio Neves?

Algum impacto tem, não saberia dizer em que grau. Não creio que seja decisivo, pois são muitas denúncias envolvendo diversos partidos e correntes. Isso chega ao eleitor mais como um exemplo de “olha aí como os políticos são”. Tem mais o efeito de aumentar a rejeição à prática política do que um impacto pontual em um candidato.

Os marqueteiros já aprenderam a lidar com as redes sociais?

Os partidos conseguiram desenvolver uma forma de utilizar a internet para fazer o trabalho sujo. Jogam na rede tudo aquilo que não pode ir ao ar na televisão, como boatos, associação de determinados candidatos a uso de drogas, acusações levianas. Mas como as coisas se equilibram, as redes têm status de neutralidade na eleição.

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