Por marta.valim

Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Mauro Borges, presente na abertura do Encontro Nacional de Comércio Exterior nesta quinta-feira, no Rio de Janeiro, o desafio brasileiro é como enfrentar o grande hiato de produtividade que há no país. “Nós temos um grande hiato de produtividade que é um consenso na agenda nacional, independente da formação partidária. Ele perpassa o comércio exterior, a indústria brasileira e o conjunto das infraestruturas brasileiras”, disse Borges. “Ao 'endereçar' esse hiato estamos 'endereçando' a agenda da competitividade brasileira”, acrescentou.

Segundo o ministro, há dois elementos centrais que explicam a baixa produtividade brasileira, correspondente a apenas 20% da verificada nos Estados Unidos: o estoque de capital fixo brasileiro e de capital humano, com nível de escolaridade muito aquém da dimensão da economia. Outro problema citado por ele é o envelhecimento do parque fabril brasileiro que tem, em média, 17 anos, em comparação com 7 ou 8 anos nos principais países concorrentes.

“Perdemos a capacidade de planejar o país e de fazer grandes investimentos em infraestrutura”, disse Borges. Para ele, o governo vem enfrentando o déficit de capital fixo juntamente com o setor privado, mas “esse é um processo que vai ganhar sua plenitude nos próximos três anos”.

Em relação à estratégia de comércio exterior brasileira, o ministro lembrou a opção preferencial do Brasil pelo multilateralismo e apontou o fortalecimento dos laços com os três grandes parceiros comerciais do país - a União Europeia, os Estados Unidos e a China - e uma maior integração produtiva com a América Latina como caminhos para um novo salto no comércio exterior brasileiro.

O ministro lembrou que, no começo dos anos 2000, o Brasil tinha um fluxo de comércio exterior de cerca de US$ 150 bilhões e hoje esse valor é de US$ 500 bilhões. “Esse é um feito a ser comemorado levando em conta a perspectiva histórica da economia brasileira. É claro que ainda estamos aquém de países como a Coreia do Sul, mas o novo desafio é dar mais um salto nos próximos dez anos e alcançar US$ 1 trilhão”.

Ao defender o multilateralismo, Borges afirmou que essa opção, “vista [pelos críticos] como uma teimosia do governo brasileiro, é a grande estratégia comercial do Brasil”, considerando a dimensão da economia. “Como a economia brasileira é muito grande, ao contrário de outras da América Latina, nós não podemos ser exportadores primários, de 'monoprodutos'. Seria um grande equívoco para uma economia com uma base industrial tão diversificada como a brasileira”, afirmou. “Qualquer acordo comercial regional, mesmo com a UE, que é um fantástico acordo, tem ganhos inferiores àqueles agregados em um grande acordo multilateral, como a facilitação de comércio, do Acordo de Bali”, disse ele.

Segundo o ministro do MDIC, outro motivo para a defesa dos acordos multilaterais é o fato de a Organização Mundial do Comércio (OMC) ser o único fórum viável para a discussão do desalinhamento das moedas como uma questão comercial.

Para ele, contudo, o multilateralismo só se sustenta com uma forte integração comercial com três grandes players, a União Europeia (UE), os Estados Unidos e a China.

Integração comercial

O ministro Mauro Borges considerou o acordo que está sendo negociado com a União Europeia como uma questão vital para a estratégia comercial brasileira. “O acordo possibilita algo que nós sempre almejamos, que é construir, na diversificada base industrial brasileira, uma especialização produtiva. Sem essa especialização, o Brasil não consegue construir vantagens competitivas estruturais”.

Em relação aos Estados Unidos, o ministro destacou os avanços da harmonização técnica e da cooperação tecnológica entre os dois países, em particular, na rede dos grandes laboratórios norte-americanos, onde estão as grandes tecnologias do futuro. “Temos que selar um acordo de bioexportação com os Estados Unidos, o que daria uma base mais importante do ponto de vista da integração com o país do que um simples acordo comercial”.

No caso da China, a parceria estratégica se concretizou com dois instrumentos assinados na última reunião dos Brics, o Novo Banco de Desenvolvimento e o acordo de reservas, que, para o ministro são “um turnpoint desde Bretton Woods”.

Segundo Borges, a importância desses acordos está ligada ao desafio da política externa brasileira no continente africano. “Com um instrumento como esse banco, temos a possibilidade de equacionar a agenda de infraestrutura da África do ponto de vista estratégico brasileiro”.

Ele afirmou também que o contingente de reserva dos Brics não pretende concorrer com o Fundo Monetário Internacional, mas, sim, complementar e fortalecer o Fundo.

Em relação ao fortalecimento da integração produtiva com a América Latina o ministro disse que o Brasil tem uma proposta concreta de antecipação dos acordos de complementação econômica com os países da Aliança Pacífica na América do Sul (Colômbia, Peru e Chile). Segundo ele, o país vai propor a redução do prazo para o acordo de livre comércio com esses países de 2019 para 2016.

“Tem uma série de produtos que não faz sentido o Brasil produzir. Nós temos o privilégio de estar em uma região com uma divisão regional do trabalho das grandes cadeias industriais. Há países hoje [na região] onde o custo da mão de obra é bem mais baixo que o do Brasil”.

Mauro Borges também lembrou da proposta de ampliação do acordo de cooperação econômica no setor automotivo com o México para um acordo de livre comércio. “O México é uma economia fundamental para o Brasil e é de grande interesse ter um acordo geral com o país”, declarou.

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