Por bruno.dutra

Brasília - Os primeiros indicadores relacionados à produção industrial de julho trouxeram um sopro de ânimo ao governo. “Um ânimo com cautela”, segundo uma fonte envolvida na avaliação de dados conjunturais. A elevação da produção de papel ondulado, da produção de carros e do tráfego de veículos pesados nas rodovias pedagiadas são os principais indicadores que levam a equipe econômica a apostar em uma melhora no segundo semestre, como vem prevendo o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Economistas ouvidos pelo Brasil Econômico têm a mesma avaliação: o segundo semestre deverá ser um pouco melhor para a indústria, com reflexos sobre o restante da economia. As expectativas quanto ao tamanho da melhora variam, mas há um consenso: o que virá pela frente não é brilhante. Parte dela é creditada a um motivo meramente estatístico: a fraca base de comparação, já que o desempenho econômico de junho ficou abaixo das expectativas. O maior número de dias úteis, que fará o país trabalhar mais, também influenciará os resultados do semestre.

A produção de papel ondulado, divulgada ontem, mostrou expansão de 2,93% em julho em relação a junho. O indicador, que tem uma correlação importante com a atividade da indústria, levou, por exemplo, o economista-chefe do banco Itaú, Ilan Goldfajn, a promover uma leve revisão, para cima, de sua previsão para a Produção Industrial Mensal (PIM) de julho, calculada pelo IBGE. Ao invés de uma contração de 0,2% o indicador deverá mostrar uma modesta expansão de 0,2% em relação ao mês anterior, de acordo com análise divulgada pelo banco. Se isso ocorrer, lembra o economista em seu relatório, será a primeira vez desde janeiro que a PIM figurará no terreno positivo na comparação mês a mês. Mas no caso da criação de empregos com carteira assinada, o Itaú projeta “um dado ligeiramente negativo” para o mesmo mês.

Nos próximos dias, a divulgação de indicadores de julho se mistura à de outros, bem piores, ainda relacionados a junho. O IBC-Br (índice calculado pelo Banco Central, considerado uma espécie prévia do PIB) a ser divulgado hoje, na avaliação do Itaú, deverá reforçar a expectativa de contração do PIB no segundo trimestre do ano.

O fraquíssimo mês de junho é uma das principais explicações para a aparente melhora. “Junho foi um horror. A realização da Copa realmente parou o país. Foram muitos feriados, para evitar os problemas de mobilidade durante os jogos”, diz o economista-chefe da Opus Investimentos e professor da PUC-RJ, José Márcio Camargo. Ele espera um desempenho melhor no segundo semestre do ano, “mas não significa que teremos um crescimento forte”, ressalva, que projeta para 2014 uma expansão de 0,3% para o PIB. É uma variação inferior à expansão média de 0,81% para o PIB captada pela mais recente pesquisa Focus, do Banco Central, que traz as expectativas de instituições financeiras.

“Junho é uma base de comparação muito baixa. Assim fica fácil crescer. Se pudéssemos excluir a influência da Copa sobre os indicadores de junho, talvez não tivéssemos um resultado positivo”, pondera a economista Margarida Gutierrez, professora do Coppead (Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro). “É cedo para dizer que há uma recuperação. Vejo ainda muitas incertezas no segundo semestre”, completa ela.

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, mais otimista, trabalha com um PIB de 1,3% para este ano. Mesmo assim, Perfeito também é contido na avaliação da economia. “Não será nada brilhante”, diz, referindo-se à melhora prevista para o segundo semestre. Mas ele chama a atenção para um aspecto: “A novidade é que os primeiros dados de julho estão vindo um pouco melhores que o esperado pelo mercado, o que pode provocar uma rodada de revisões para cima nas projeções mais à frente”, diz ele.

“O fundo do poço foi mesmo junho, até por questões conjunturais”, avalia o professor da Unicamp André Biancarelli. Além da realização da Copa, ele cita outro fator: a queda das exportações de manufaturados, em especial de veículos, para a Argentina. “Os dois fatores provocaram um tombo na indústria brasileira”, diz.

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