Brasília - Nem mesmo o Produto Interno Bruto (PIB) fraco, com a economia tecnicamente em recessão, e os impactos da crise argentina nas exportações para o Mercosul têm impedido o setor de cabotagem em contêineres brasileiro de se expandir em patamar expressivo. Com uma participação ainda reduzida em relação à matriz de transportes do país, o setor vem conquistando a preferência de empresários, que precisam transportar seus produtos por longas distâncias e buscam um ganho de eficiência logística.
Em sete anos de existência, a Log-In, por exemplo, têm visto seu volume transportado crescer em cerca de 20% ao ano. E não está sendo diferente em 2014.
“Tivemos uma redução da ordem de 50% nos transportes realizados para a Argentina. O país já representou um terço dos nossos negócios e agora é responsável por uma fatia de 15%. Mas, ainda assim, tivemos um crescimento total de 19% no nosso volume transportado no primeiro semestre do ano”, conta o diretor-presidente da Log-In Vital Jorge Lopes.
O segredo do crescimento, segundo ele, são os investimentos – da ordem de R$ 1 bilhão - que a empresa vem fazendo na modernização da atividade. “Com o aparelhamento da companhia com novos navios e sistemas para gerenciamento da frota adequados, estamos aumentando a nossa presença nos portos e obtendo uma eficiência maior do que o modal rodoviário. Em distâncias superiores a 1,5 mil quilômetros o nosso modelo é mais competitivo do que o rodoviário”, compara.
O grande diferencial das empresas do setor é que elas deixaram de ser apenas transportadoras de um porto a outro. “Atualmente, a Log-In faz o transporte de mercadorias de porta a porta. Cuidamos da logística das empresas desde a fábrica até o local de entrega”, explica Lopes. Além disso, diz ele, o meio de transporte propicia também maior economia de custos, integridade da carga e segurança para o fabricante.
Na avaliação do executivo, o serviço de cabotagem no país pode ser um instrumento para tornar a indústria mais competitiva. Porém, as condições de operação do setor em relação ao modal rodoviário ainda são desfavoráveis.
“O combustível utilizado na cabotagem acompanha a flutuação dos preços no mercado internacional enquanto o dos caminhões é subsidiado. Se houvesse uma equiparação dos nossos custos ao modal rodoviário, seríamos ainda mais competitivos. Não estou defendendo subsídios para o nosso setor, mas me referindo à possibilidade de um cenário de concorrência igual, em que o combustível para os caminhões também seguisse os preços de mercado”, aponta Lopes, lembrando que os navios pagam ainda Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) nos estados.
Outra grande empresa do setor, a Aliança, teve um incremento de 22,2% na cabotagem no ano passado em relação a 2012 e também trabalha com uma expectativa de expansão de 20% em 2014, além de um crescimento expressivo no longo-prazo. Estimativas realizadas pelo setor apontam que a cabotagem em contêineres ainda pode crescer seis vezes.
“Hoje, podemos dizer que a cabotagem é estratégica para todos os setores da economia, sendo fundamental, por exemplo, no transporte de produtos básicos (alimentos, higiene e limpeza) para as regiões Norte e Nordeste”, afirma o gerente de vendas para cabotagem da Aliança, Gustavo Costa.
Por isso, a empresa reestruturou sua frota de cabotagem, realizando um investimento de R$ 450 milhões. “Em 2014 devemos ter uma maior movimentação de cargas de arroz a partir do porto de Rio Grande, eletroeletrônicos e duas rodas de Manaus, alumínio e níquel de São Luís, no Maranhão, e de alimentos, higiene e limpeza no porto de Santos”, prevê Costa.
“A cabotagem está indo bem por causa do aumento de custos no modal rodoviário. Isso porque o setor paga o combustível utilizado pelos navios a custo pleno enquanto o diesel dos caminhões é subsidiado pelo Tesouro. É um mercado difícil, mas com enorme potencial de crescimento”, ressalta o presidente da consultoria Inter.B, Cláudio Frischtak.