Por bruno.dutra
Rio - A rescisão do contrato para a construção da unidade de fertilizantes nitrogenados (UFN3) da Petrobras, anunciada na última sexta-feira, agrava as incertezas de trabalhadores do município de Três Lagoas (MS), a segunda cidade brasileira com maior número de fechamento de postos de trabalho este ano. A expectativa local é que novos postos sejam fechados na cidade, piorando um quadro responsável por um saldo negativo de 6.045 posições de trabalho no ano, segundo dados do Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Caged). A desmobilização de grandes obras e a crise da indústria automobilística estão na raiz dos problemas dos municípios que mais perderam postos em 2014.
Em Três Lagoas, a indústria de construção civil foi a que mais fechou vagas no ano — ao todo, o setor tem um saldo negativo de mais de 6 mil postos de trabalho entre janeiro e novembro. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil Pesada do município, a desmobilização de obras de uma ponte ligando Mato Grosso do Sul a São Paulo tem sua parcela de responsabilidade, mas grande parte do desemprego é provocada pela crise envolvendo o consórcio responsável pelas obras da unidade de fertilizantes, formado pela Galvão Engenharia e pela chinesa Sinopec.
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“Tem um grupo de cerca de 3 mil trabalhadores que já foram demitidos e ainda esperam a verba rescisória. E ainda tem gente lá no canteiro sem receber seus proventos”, diz o secretário-geral do sindicato, José Cleonildo Dias. Na sexta-feira, a Petrobras informou a rescisão do acordo com o consórcio construtor, “em razão do descumprimento do contrato”, segundo nota oficial: “A companhia está atenta às consequências da inadimplência do Consórcio UFN3 com trabalhadores e fornecedores e está tomando todas as medidas ao seu alcance para que o consórcio cumpra com suas obrigações legais”.
O Sindicato obteve, há 10 dias, uma liminar determinando o bloqueio de R$ 49,9 milhões do consórcio para o pagamento de verbas rescisórias, que começam a ser repassadas aos demitidos. Segundo a estatal, as obras encontram-se 89% concluídas e um novo cronograma será elaborado para definir o início das operações, que estava previsto para este ano. A empresa não informou, porém, qual será a estratégia para garantir o prosseguimento das obras. A Galvão Engenharia foi citada na Operação Lava Jato e teve executivos presos pela Polícia Federal. Há notícias de inadimplência do consórcio com fornecedores locais.
Uma delegação da chinesa da Sinopec chegou ao Brasil na quinta-feira para tentar negociar com a Petrobras uma reversão da decisão da estatal de rescindir o contrato, de R$ 3,1 bilhões de reais. A fonte afirmou que o contrato, assinado em 2011, passou por modificações solicitadas pela petroleira na linha de montagem industrial, que necessitariam de aditivos por custos adicionais do consórcio. Após a deflagração da Operação Lava Jato, porém, os responsáveis pela renegociação do contrato teriam desaparecido.
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Ipojuca (PE), a cidade que teve mais postos de trabalho fechados no ano, também passa por um momento de desmobilização de grandes obras. Mas, neste caso, devido à conclusão da Refinaria Abreu e Lima, também da Petrobras, que na semana passada vendeu sua primeira carga de óleo diesel. Segundo dados do Caged, a cidade tem um saldo negativo de geração de empregos de 18.443. O setor de construção civil foi responsável por 1/3 desse número — fatia equivalente teve a indústria da transformação. Mesma situação vive Porto Velho (RO), que teve um saldo negativo de empregos de 3.415 este ano, com a desmobilização de equipes que trabalhavam nas obras de usinas hidrelétricas no Rio Madeira.
Um dos principais polos automotivos do Brasil, São Bernardo do Campo (SP) ocupa a sexta posição na lista dos municípios com os maiores saldos negativos de emprego, 3.876. Neste caso, a indústria de transformação teve impacto significativo, maior do que o valor total da cidade: foram 4.526 vagas fechadas entre janeiro e novembro, refletindo a redução da atividade de montadores instaladas no município.
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A vizinha Diadema, que também tem forte atividade ligada à produção de automóveis, é outra cidade paulista que figura entre os piores desempenhos no mercado de trabalho no ano, com saldo líquido de 3.429 vagas. São José dos Pinhais (PR), que tem fábricas das montadoras Renault e Volkswagen e de empresas de autopeças, também está na lista.
com Reuters
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