Como reflexo dos cinco anos sem leilões e do foco da Petrobras no pré-sal, a exploração de petróleo dá sinais de desaceleração no país
Por douglas.nunes
O período de cinco anos sem leiloes de áreas petrolíferas e o foco da Petrobras no pré-sal reduziram drasticamente a atividade exploratória no país em 2014. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o número de comunicados de descobertas de óleo ou gás caiu 37,8% com relação ao ano passado e o número de declarações de comercialidade (quando uma empresa decide que vai prosseguir com o projeto) teve queda de 53,8%. Até a semana passada, os dois indicadores têm o pior desempenho desta década.
“Se fura pouco poço, encontra pouco petróleo. É a diminuição da atividade exploratória no país, resultado daqueles cinco anos sem leilões”, avalia o geólogo Newton Monteiro, ex-diretor da ANP. De fato, segundo dados da própria agência, foram iniciados este ano 111 poços exploratórios no Brasil — dos quais 40 ainda não foram concluídos. O número é bem menor do que a média dos últimos anos, de cerca de 400 poços. “A Petrobras só tem perfurado poços no pré-sal e ali não tem muita descoberta hoje em dia”, completa Monteiro.
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Ele se refere à estratégia da estatal para acelerar o desenvolvimento das descobertas do pré-sal e antecipar receitas com a venda do petróleo, depois de anos de produção estagnada. Este ano, a companhia vem focando suas atividades na conexão de poços produtores a plataformas, o que vem lhe garantindo sucessivos recordes de produção — no último dia 21, a estatal anunciou ter extraído de seus campos no Brasil um volume de 2,286 milhões de barris, o maior de sua história para um único dia. Por outro lado, declarou a comercialidade de apenas três campos marítimos até a semana passada.
A declaração de comercialidade é a última etapa da fase de exploração de um contrato petrolífero no país. Depois dela, o concessionário apresenta à ANP um plano de desenvolvimento das reservas, comprometendo-se com os investimentos necessários para pôr o projeto em operação. Este ano, foram apenas 6 declarações de comercialidade, quase todas da Petrobras — em 2010, por exemplo, foram 30, muitas delas de empresas privadas com atuação no Brasil.
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Entre 2009 e 2013, o Brasil não teve leilões de áreas petrolíferas, sob o argumento de que o governo precisava definir um novo marco regulatório após a descoberta do pré-sal. A falta de oferta é apontada pelas empresas do setor como principal causa da redução da atividade exploratória no país. No ano passado, foram realizados três leilões, mas os projetos ainda não chegaram à fase de perfuração de poços, que depende de análises prévias sobre as melhores locações para perfurar.
A retração da atividade exploratória tem impactos nas empresas prestadoras de serviços relacionados à exploração de petróleo, que investiram fortemente na implantação de unidades brasileiras desde meados dos anos 2000. O tema foi um dos destaques durante a última Rio Oil & Gas — feira do setor de petróleo que acontece a cada dois anos no Rio — quando o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) pediu ao governo um calendário de leilões de novas áreas exploratórias, alegando que a indústria precisa de previsibilidade para definir investimentos. A proposta foi negada pelo secretário de petróleo e gás do Ministério de Minas e Energia (MME), Marco Antônio Martins Almeida, que acenou com novos leilões, mas disse que a ideia de um calendário não estava na pauta. A expectativa é que uma nova rodada de licitações seja realizada no primeiro semestre do ano que vem.