Seca e longa estiagem afetam produção de soja no Nordeste do país
Consultorias projetam quebra de até 50% na produção de soja e milho no Piauí e na Bahia. Clima também preocupa o Centro-Oeste
Por bruno.dutra
Rio - Dois estados do Nordeste que tinham a maior previsão de crescimento para a produção de grãos na safra 2014/2015 estão com risco de quebra de safra em função da estiagem, que já ultrapassa 30 dias na região. O Piauí, que contava com uma perspectiva de ampliação de 35,1% na produção de soja, chegando aos 2 milhões de toneladas, contabiliza perdas de 30% nas lavouras. A Bahia, com estimativa de alta de 22,9%, ou 4 milhões de toneladas do grão, tem prejuízo estimado da ordem de 30% para o milho e 15% para a soja. Para consultorias, no entanto, a estiagem pode afetar até 50% da produção de grãos nos estados.
A queda no nível pluviométrico preocupa também outros produtores, não só do Mapitoba — nova fronteira agrícola da soja, que engloba Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia e que responde por 10,2% da produção de grãos — , quanto do Centro-Oeste. “A situação pode ainda piorar se não vierem chuvas nas próximas semanas”, alerta o consultor da Agrosecurity, Luiz Rafael Azevedo. “Estamos indo para o quarto ano seguido de quebra de safra de milho e soja no Mapitoba. Os produtores estão no aperto, com caixa menor e talvez tenham problemas de inadimplência.”
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Diretor da Comissão de Sustentabilidade, Gestão e Meio Ambiente, Pesquisa e Produção da Aprosoja-PI (Associação Brasileira dos Produtores de Soja do Piauí), Emiliano Mellis confirma que, fora a Região Oeste do estado, onde não existe ainda uma previsão de perdas, as demais regiões produtoras do Piauí já contabilizam entre 15% e 30% de prejuízos. <EM> Luiz Rafael Azevedo conta que Maranhão e Tocantins são as únicas regiões da área do Mapitoba que têm se salvado da estiagem. “Por incrível que pareça, o Maranhão teve bastante chuva. Espera-se uma quebra de apenas 5% da safra pela estiagem no início do plantio, entre os meses de novembro e dezembro. Mas, no Tocantins, as lavouras se desenvolvem bem e as perspectivas são de safra cheia”, afirma o especialista, acrescentando que o Sul de Goiás também registra dificuldades.
“Há 25 dias não chove suficientemente na região. Lá também deve haver uma quebra de safra, porém, menor que na Bahia, entre 10%”, acrescenta. Projeções preliminares da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que Goiás chegaria a 9,9 milhões de grãos, 10% acima da safra passada. No entanto, em relatório, a consultoria AgRural já estima que a seca vá comprometer 15% da produção.
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O medo da estiagem tem abalado a confiança, inclusive, dos agricultores do maior estado produtor, responsável por 24,5% das lavouras de grão: o Mato Grosso. Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria, afirma que o ritmo da colheita está atrasado, em função do retardo do plantio, visto que as chuvas começaram a cair a partir de outubro e novembro. Mas os reflexos da estiagem atual seriam, por ora, poucos. “As perdas computadas não são muitas. As duas próximas semanas serão decisivas em termos de resultados da lavoura para sabermos os verdadeiros impactos sobre a safra”, analisa.
De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a colheita deste ano na região apresenta clara redução nos volumes pluviométricos, com estimativas climáticas de chuvas abaixo da média histórica para fevereiro e março.
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“O clima favorável para a colheita da soja desfavorece o desenvolvimento das lavouras. Desta forma, o clima pode ser o fator limitante na busca de ganhos com a produtividade desta safra. Na tentativa de elevar os rendimentos a campo, alguns produtores já estão preferindo postergar a dessecação das lavouras de soja, reduzindo o avanço da semeadura do milho”, aponta o instituto, em relatório.
Superintendente do Imea, Otávio Celidonio considera que, apesar do medo de quebra de safra, ainda não é possível visualizar se a estiagem vem gerando impactos devastadores nas lavouras. No próximo dia 12 de fevereiro, a Conab atualizará as projeções para a safra 2014/2015, que devem trazer um panorama de como a seca vem agindo. As informações preliminares, divulgadas no início do mês, davam conta que a produção brasileira de grãos deverá chegar a 202,18 milhões de toneladas, 4,5% a mais do que à safra passada, o que representa a 8,75 milhões de toneladas a mais do que o registrado anteriormente.
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Segundo o Climatempo, esta semana será ainda de pouquíssimas chuvas no Piauí, na Bahia e em Goiás. Mas, segundo, o meteorologista Marcelo Pinheiro, as perspectivas são de melhora no nível de chuvas a partir de fevereiro. Na sexta-feira uma frente fria vai influenciar o tempo no Sul de Goiás e a tendência é de aumento de chuvas na região, que devem atingir até 50 milímetros no total.