Brasília - Responsável por 72% do consumo de água no Brasil, a agricultura virou o patinho feio em tempos de crise hídrica. Por isso a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foram a campo para saber onde estão as maiores áreas irrigadas do país. O levantamento identificou que, em 2013, aproximadamente 18 mil pivôs centrais eram responsáveis pela irrigação de uma área de 1,2 milhão de hectares.
De acordo com Thiago Henriques Fontenelle, especialista em Recursos Hídricos da ANA, a escolha pelo pivô central se deu porque é a técnica que mais tem crescido no país nos últimos anos. Semelhante a “chuveirinhos” suspensos, eles irrigam a maior parte das lavouras nacionais. “Estima-se que o incremento da área de pivôs tenha sido da ordem de 50 a 80 mil hectares por ano nos últimos cinco anos. O mapeamento atual (2013) foi o primeiro na escala nacional”, explica.
Segundo o estudo, quatro estados sozinhos concentram quase 80% da área ocupada por pivôs centrais no país — Minas Gerais (31%), Goiás (18%), Bahia (16%) e São Paulo (14%) — e contribuem para uma concentração de uso de pivôs nas bacias dos rios São Francisco, Paranaíba, Grande e Paranapanema, respectivamente em torno de 350 mil, 300 mil, 100 mil e 90 mil hectares. “Essas regiões estão localizadas em área densamente povoadas e com alto índice de industrialização, fatores que ocasionam um maior consumo de água e concorrência entre os usos”, explica a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo (MG) Elena Landau, que coordenou a pesquisa.
Segundo Elena, Minas Gerais é o estado que apresenta a maior concentração de áreas irrigadas por pivôs, cerca de 370 mil hectares, seguido por Goiás (211 mil hectares), Bahia (192 mil), São Paulo (169 mil) e Rio Grande do Sul (76 mil hectares). “Nessas áreas é alta a demanda pelo consumo de água para irrigação, bem como para a geração de energia e abastecimento para consumo humano”, diz.
O especialista da ANA explica que um dos pontos principais da pesquisa é justamente identificar onde há uso competitivo dos recursos hídricos entre a agricultura e outros setores. Assim, será mais fácil auxiliar na gestão da crise hídrica que diversas regiões enfrentam. “O mapeamento aprimorou as estimativas de demandas de água, tanto no cálculo quanto na espacialização, e vão auxiliar, por exemplo, na elaboração dos planos de recursos hídricos e nos estudos de bacias críticas”, afirma Fontenelle.
O mapeamento foi feito através de imagens de satélites e da análise delas. Agora, os pesquisadores afirmam que, além de auxiliar na gestão da crise, com o cruzamento das bases de dados referentes à agricultura irrigada com as bases de bacias hidrográficas da ANA e de municípios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os gestores públicos poderão ter informações para o uso da água na irrigação e até avaliação da safra agrícola.
Diminuindo o estigma da agricultura como vilã
Daniel Guimarães, também da Embrapa Milho e Sorgo, ressalta que em períodos de forte estiagem as altas temperaturas e os baixos índices de umidade do ar contribuem para aumentar as perdas de água para a atmosfera e reduzir a água disponível nos solos.
“No caso da agricultura irrigada, trata-se de uma atividade que permite ganhos expressivos em produtividade e a consequente redução da área antropizada”, complementa. Ele explica que área antropizada é aquela onde ocorrem transformações no meio ambiente (solo, relevo, vegetação, regime hídrico) por consequência da atividade humana.