Por bruno.dutra

Rio - O que vai mal sempre pode piorar. Só neste ano, o setor de transportes deve amargar perdas de R$ 3 bilhões em investimentos públicos voltados para melhorias em infraestruturas rodoviária, ferroviária, portuária e aérea em todo o país. A estimativa é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o órgão, a previsão de R$ 14 bilhões aplicados pelo governo federal anualmente nos quatro modais deverá cair para R$ 11 bilhões em 2015. As causas seriam o ajuste fiscal promovido em época de crise econômica e o acúmulo de dívidas dos estados e municípios.

De acordo com o Ipea, somando os investimentos públicos e privados, o setor deverá receber aportes de R$ 30 bilhões neste ano. O valor é apenas 0,55% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e quase se equipara aos 0,6% que vêm sendo investidos anualmente de 2010 a 2014, graças ao aumento da participação privada. Segundo o pesquisador Carlos Campos Neto, que dirigiu o trabalho, outros países emergentes, como Rússia, Índia, China, Coreia, Vietnã, Chile e Colômbia, aplicam 3,4% do PIB — seis vezes mais que o Brasil — a cada ano, para projetos de mobilidade.

“Essa porcentagem é muito baixa. O Brasil precisa multiplicar pelo menos quatro vezes o atual patamar de investimentos em transportes para eliminar os gargalos acumulados ao longo de 25 anos de subinvestimento”, afirma o especialista, ressaltando que, mesmo com os investimentos em transportes saltando de 0,26% do PIB, em 2003, para 0,6% atualmente, ainda há muito a se fazer. “Se o país quer ter disponível uma infraestrutura adequada ao tamanho e à importância de sua economia, tem que investir”, alerta Carlos Campos.

Para ter uma ideia da falta que esses recursos fazem, com R$ 3 bilhões é possível, por exemplo, é possível implantar três sistemas de BRT com a estrutura do Transoeste, que transporta 180 mil passageiros por dia, distribuídos em 57 estações e 51 quilômetros de corredor. Ou construir quase toda a Linha 3 do metrô, prevista para ligar Niterói a São Gonçalo, e orçada em R$ 3,5 bilhões. A obra foi praticamente descartada pelo governo estadual em razão da crise financeira e pode dar lugar a um projeto de BRT.

Na avaliação do Ipea, o cenário vai continuar sombrio em 2016, já que os investimentos deverão subir pouco, chegando a R$ 31,89 bilhões. Como o órgão não considerou os problemas financeiros de empreiteiras envolvidas em casos de corrupção da Operação Lava Jato, os valores podem ser ainda menores até o ano que vem.

Estados e municípios têm poucos projetos habilitados

“O Rio será uma das poucas cidades que não sofrerá descontinuidade de projetos até 2016, em função dos compromissos assumidos para os Jogos Olímpicos”, diz o diretor da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, Marcos Bicalho.

Como o Observatório da Mobilidade mostrou recentemente, dos R$ 143 bilhões disponibilizados pelo governo federal, desde 2011, para financiar obras de mobilidade urbana, apenas pouco mais de R$ 25 bilhões (17%) tinham sido aplicados pelos estados e municípios até janeiro. 

O panorama, traçado pela NTU, revela que a maioria das prefeituras não possui projetos no nível de detalhamento exigido para a liberação das verbas, na opinião do diretor da entidade, Marcos Bicalho.

Para o presidente da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), Lélis Marcos Teixeira, os investimentos privados precisam ser estimulados a fim de cobrir o déficit de verbas públicas: “O Rio tem condições de dar um salto de qualidade em termos de mobilidade urbana, mas precisa de prioridade para o transporte público e uma política setorial continuada”.

Um estudo realizado pelo World Resources Institute (WRI) no ano passado observou que, de modo geral, mundialmente os gastos privados com o setor são ligeiramente maiores que os públicos. Segundo o levantamento, o investimento global em todos os modos de transporte (excluindo os custos com consumo, de operação e manutenção) gira entre US$ 1,2 trilhão e US$ 2,4 trilhões por ano.

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