Por douglas.nunes

O primeiro pregão depois da divulgação do balanço auditado da Petrobras é pautado pelo desempenho das ações da estatal, que operam com forte volatilidade. A notícia de que a companhia não vai pagar os dividendos referentes ao exercício de 2014 beneficia as ações ordinárias, que historicamente pagam uma parcela menor do benefício. Entretanto, neste cenário, a ON apresenta uma vantagem, pois permite o direito ao voto e por isso atrai mais compradores nesta quinta-feira. Por volta das 16h, Petrobras ON avançava 6,24%, enquanto a PN perdia 1,6%. No mesmo horário, o principal índice da Bolsa subia 1,63%, aos 55.506 pontos.

"A diferença quanto ao recebimento de dividendos, de acordo com dados de 2012, é que a PN pagaria R$ 0,92 por ação, enquanto a ON pagaria R$ 0,47. Como a empresa afirmou que não vai pagar os dividendos, ambos papéis acabam ficando em igualdade neste quesito, mas a ON tem a vantagem de permitir o direito ao voto", afirmou o analista de renda variável da São Paulo Investments, Fabio Lemos. 

A Petrobras apresentou prejuízo de R$ 21,6 bilhões em 2014, reflexo das perdas contábeis - R$ 50,8 bilhões. A cifra não foi bem recebida pelo mercado, que avalia ainda o fato de a petroleira não pagar os dividendos relativos ao exercício do ano passado.

O balanço traz também um elevado endividamento, que atingiu R$ 351 bilhões no fim de 2014 - alta de 31% na comparação anual. Em teleconferência, os executivos da companhia buscaram acalmar os investidores e a diretora de Exploração,Solange Guedes, admitiu pela primeira vez que desinvestimentos podem ser feitos também nos projetos do pré-sal.

O presidente da petroleira, Aldemir Bendine, prometeu ainda apresentar um novo plano de negócios em 30 dias e adiantou que o corte dos investimentos deve cair 37%, para US$ 25 bilhões.

"A companhia resolveu um problema, que era a divulgação do balanço. Agora precisa resolver o problema de má gestão, elevado endividamento, venda de ativos, tentar mudar o modelo de partilha e o conteúdo nacional", avaliou a Corretora XP, em nota.

Os resultados financeiros auditados foram divulgados pela Petrobras na noite de quarta-feira, após meses de atraso, sobre o terceiro e o quarto trimestres de 2014 decepcionaram analistas de mercado.

"Tudo isso nos deixa com a impressão de que a Petrobras irá continuar a ser 'mais do mesmo': fará apenas o necessário para garantir liquidez e recursos para executar investimentos, mas sem nenhuma urgência para alcançar fluxo de caixa livre positivo ou retornos elevados", disseram os analistas Andre Sobreira e Vinicius Canheu, do Credit Suisse, em relatório a clientes.

O BTG Pactual destacou que a companhia não pagará dividendos, mesmo tendo pago participação nos lucros aos funcionários. "À primeira vista, os números realmente fracos ficaram muito abaixo do que esperávamos", disseram os analistas do BTG Gustavo Gattass, Andres Cardona e Julia Ozenda.

O UBS salientou que o não pagamento de dividendos é muito negativo para as ações preferenciais da Petrobras, mas positivo para as ordinárias.

"Isso, no entanto, já está mais do que refletido na diferença de preços entre preferenciais e ordinárias", disse a analista Lilyanna Yang, do UBS, em nota a clientes.

Já o Itaú disse que a divulgação dos resultados auditados é um "alívio", mas que agora virá a parte mais difícil para a petroleira, que é atacar sua alta alavancagem.

A relação entre dívida líquida e Ebitda alcançou 4,8 vezes ao fim de 2014 e, presumindo preços de diesel e gasolina estável até o fim de 2016 e um dólar a R$ 3,4 a alavancagem da Petrobras pode atingir 6,1 vezes até o fim do próximo ano, estimou o Itaú BBA.

"O investimento previsto é maior que os números que temos em nosso modelo, enquanto a produção sobe apenas 3% até 2016: nós esperamos que o mercado leia isso negativamente", disse a analista Paula Kovarsky, do Itaú.

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