Por monica.lima

A cada dia, 20 assaltos a ônibus são registrados no Estado do Rio, 95% deles na Região Metropolitana. Só na capital, o crime cresceu de 679 registros no primeiro trimestre de 2013 para 1.220 casos entre janeiro e março deste ano, um aumento de mais de 79%, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), da Secretaria de Segurança. O quadro é um desafio para a cidade, que espera receber 500 mil turistas nos Jogos Olímpicos de 2016. Esbarra também na campanha da Prefeitura de incentivo à substituição do automóvel pelo transporte público para amenizar o trânsito.

Há um ano, com os dados já em alta, a Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) pediu ao governo estadual que reforçasse o efetivo do Grupamento de Policiamento Transportado em Ônibus Urbano (GPTOU), que contava com cerca de 100 PMs à época. O incremento veio tímido, da ordem de 40 policiais. Só na capital, o grupo precisa dar conta de 3,5 milhões de passageiros por dia. É como se cada PM fosse responsável por 25 mil passageiros de ônibus.

“Em matéria de policiamento ostensivo, a proporção de um policial por 350 a 400 habitantes é satisfatória, e acima de 500, deficitária”, explica o ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel da PM de São Paulo José Vicente da Silva.

“Já fui assaltado diversas vezes. No último assalto que presenciei, quando eu ia de Madureira para Vaz Lobo (bairros da Zona Norte), os bandidos limparam quase todos no ônibus. Eu estava de terno e devem ter pensado que eu era pastor ou advogado, duas categorias que eles procuram muito, e me pouparam”, conta, com ironia, o corretor de seguros Neilton Ferrer, de 65 anos.

Na semana passada, dois assaltos a ônibus causaram pânico em passageiros no Rio. Na sexta-feira, um coletivo que seguia da Ilha do Governador (bairro que abriga o Aeroporto Internacional do Galeão) para o Centro foi assaltado e um passageiro chegou a ser agredido por bandidos fortemente armados. Os criminosos portavam até explosivos. Um dia antes, a barca que também transporta passageiros do Centro para a Ilha colidiu com a estação de destino. O serviço precisou ser suspenso.

"Parece que tinha que acontecer. Só pego a barca porque me sinto mais segura, mas, justamente quando vou de ônibus, acontece isso. Parecia um filme de terror, aquela granada e arma ameaçando a gente o tempo inteiro. Espero que a barca volte logo a funcionar porque não quero pegar ônibus de novo segunda-feira (hoje)”, lembrou V. , já na delegacia onde o caso foi registrado.

Dias antes, um ônibus executivo foi assaltado no bairro de Jacarepaguá, na Zona Oeste. Uma vítima contou que os passageiros enfrentaram momentos de pânico. Segundo ela, um dos criminosos faziam ameaças a todo momento e um tiro chegou a ser disparado dentro do coletivo, o que levou as vítimas ao desespero.

Com efetivos insuficientes, grupamento tem pouca ação

Criado em 2006, o GPTOU parece ter se transformado em um grupamento "fantasma". Ao contrário dos primeiros anos, quase ninguém mais vê blitz de PMs do grupamento, que paravam os ônibus, entravam fardados nos coletivos e revistavam suspeitos. “Nunca mais vi, mas lembro disso sim. Tenho tido sorte de não ser assaltado, mas ouço relatos de parentes e, principalmente ataques de menores no Centro, que até pulam na janela para roubar celulares de passageiros distraídos”, recorda o administrador de empresa João Carlos Fonseca, de 51 anos.

Em defesa da atuação do GPTOU, a PM enviou uma nota com o balanço do grupamento nos quatro primeiros meses deste ano. Segundo os dados, foram presos 94 adultos, apreendidos 20 menores, um revólver e 85 cargas de drogas. A produtividade do GPTOU, porém, entra em dúvida se comparada à de três batalhões da própria PM no interior em três meses de 2015.

O 28º BPM (Volta Redonda) apreendeu 289 cargas de drogas; 61 armas e prendeu 338 adultos. Os efetivos do GPTOU e dos batalhões são similares. O 10º BPM (Barra do Piraí) recolheu às grades 165 adultos; 34 armas e 184 ocorrências com entorpecentes. Na pequena Nova Friburgo, o 11º BPM <QA0>
prendeu 124 pessoas e recolheu 194 cargas de drogas, além de 36 armas.

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