Por douglas.nunes

Com apenas 7.611 pagantes, o jogo entre Vasco e Cuiabá na Arena Pantanal, realizado na última quarta-feira, foi um retrato dos problemas enfrentados por estados com os bilionários estádios construídos para a Copa do Brasil. Pouco menos de um ano após o início dos jogos, a baixa taxa de ocupação das arenas tem provocado prejuízos aos cofres de estados com menor tradição no futebol, confirmando previsões mais pessimistas sobre o surgimento de “elefantes brancos” nas cidades-sede da competição vencida pela Alemanha.

Em Cuiabá, o maior público do ano foi registrado no jogo Cruzeiro e Corinthians, no último domingo: 11.773 pagantes, ou apenas 27% da capacidade da Arena Pantanal, de 43.600 torcedores. O estádio tem sediado jogos do campeonato mato-grossense, com público médio de cerca de 1,2 mil pessoas — em uma das partidas, houve apenas 106 pagantes. Com investimento estimado em R$ 600 milhões, o estádio tem um custo de manutenção que varia entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão por mês, dependendo do número de eventos.

A situação é ainda pior no Amazonas, onde os clubes locais têm preferido mandar seus jogos para estádios mais baratos. Em 2015, a Arena Amazônia sediou apenas quatro partidas — três de um torneio amistoso que reuniu Flamengo, Vasco e São Paulo, e uma da Copa Verde. O estádio consumiu R$ 670 milhões e chegou a custar aos cofres do estado cerca de R$ 500 mil por mês em manutenção. No início de maio, o governo estadual anunciou a renegociação de contratos com fornecedores, reduzindo o prejuízo para R$ 120 mil mensais.

“Todo mundo sabia que ia dar nisso. Se até o Maracanã tem registrado prejuízo, imagina as arenas em estados com campeonatos menos tradicionais”, comenta o consultor de marketing esportivo Amir Somoggi. “O custo de manutenção destes estádios é mais caro do que a receita. Para abrir uma arena destas, é preciso arrecadar pelo menos R$ 250 mil”, calcula. Ao todo, 12 estádios brasileiros foram construídos ou reformados para a Copa de 2014, a um custo global estimado em R$ 8,4 bilhões. Além dos prejuízos com a manutenção, os estados têm compromissos com o pagamento dos empréstimos obtidos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“É um desafio muito grande, não só aqui em Brasília, dar funcionalidade, dar sentido a essas arenas”, reconhece o secretário de Turismo do Distrito Federal, Jaime Recena. Mais caro entre todos os estádios da Copa, o estádio Mané Garrincha sediou apenas um jogo de futebol oficial este ano, entre Gama e Brasília, com pouco mais de 8 mil pagantes — o segundo ocorrerá neste domingo, entre Atlético-MG e Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro. Com capacidade para 69.349 torcedores, o estádio consumiu R$ 1,4 bilhão em investimentos e custa aos cofres públicos cerca de R$ 600 mil por mês.

Em crise financeira, o governo do Distrito Federal transferiu três secretarias (Desenvolvimento Econômico, Esportes e Desenvolvimento Social) para escritórios dentro do estádio, economizando R$ 14 milhões em aluguel. “Mas é uma solução temporária, apenas enquanto as obras do novo centro administrativo são concluídas”, diz Recena. Pouco mais de 300 pessoas trabalham diariamente no estádio. “A economia com aluguel cobre as despesas. Mas, apenas com o estádio, a conta ainda não fecha”, admite o secretário.
Sem times na elite do futebol brasileiro, o esforço nos três estados para reduzir os prejuízos vai na mesma direção: atrair jogos da Série A e muitos eventos culturais e corporativos. Em Brasília, foram 18 eventos até agora, em 2015 — outros 50 estão agendados até o fim do ano. “Estamos intensificando um trabalho para melhorar o aproveitamento do estádio e formatar um modelo que atraia um operador privado”, conta Recena, citando negociações com Flamengo e São Paulo para jogos do Campeonato Brasileiro e a confirmação do show da banda norte-americana Pearl Jam no fim do ano.

O governo do Mato Grosso informou, por e-mail, que fez uma parceria com a Federação Matogrossense de Futebol para o uso da arena durante o campeonato estadual mediante o custeio de reparos e que “vem estudando formas de utilização da Arena Pantanal e ocupação do espaço.” Em audiência na Câmara dos Deputados na última quarta-feira, o superintendente de obras responsável pelo estádio, André da Costa Ferreira, lembrou que as instalações ainda não estão totalmente concluídas, o que impede o governo de buscar alternativas de gestão, como concessão ou parceria público-privada.

Em Manaus, a Fundação Vila Olímpica (FVO), gestora da Arena Amazonas, também conta com shows e jogos de times de elite para reduzir as perdas — o aluguel para um show, por exemplo, custa R$ 160 mil, se utilizado todo o estádio. A FVO defende que, com a realização de 20 eventos desde sua abertura, o equipamento não pode ser considerado “obsoleto”. “Os eventos geraram uma bilheteria de R$ 17 milhões, público pagante de 361.616 pessoas e uma receita de R$ 2 milhões para o estádio”, diz a entidade, em nota oficial.

Durante a audiência na Câmara dos Deputados, o presidente da Associação Brasileira dos Operadores de Arenas Multiuso, Eduardo Martins, reconheceu que, apesar do foco em eventos alternativos, a sustentabilidade das arenas depende da melhoria da qualidade do futebol brasileiro, com campeonatos bem organizados e facilidades para o torcedor chegar aos estádios. Ele disse que, mesmo as arenas de cidades onde o futebol é forte precisam da modernização do esporte, sob pena de inviabilizá-las.
“Sem futebol, a arena quebra”, afirmou, lembrando que o Campeonato Brasileiro de 2014 teve média de público de apenas 16.555, com ocupação média dos estádios de 40%. Somoggi concorda: “Embora tenhamos arenas modernas, a qualidade do produto futebol ainda é muito baixa”, argumenta. Com ABr

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