Por rodrigo.sampaio

São Paulo - O piloto de avião José de Oliveira Cerqueira, de 61 anos, que levou o então vice-presidente Michel Temer e sua família em uma viagem de Comandatuba, na Bahia, para São Paulo, em 2011, confirmou em entrevista ao jornal O Globo que a versão contada por Joesley Batista à Procuradoria-Geral da República sobre o empréstimo de um jato da JBS para Temer é verdadeira.

Segundo José, ele foi orientado, a mando da mãe de Joesley, a entregar um buquê de flores para Marcela Temer quando ela chegasse à aeronave. Ainda na entrevista, José revelou que deixou de prestar serviços para JBS naquele mesmo ano e não tem mais contato com os ex-patrões.

Segundo Joesley batista, Temer viajou com a família em jato da empresa em 2011. Segundo piloto do voo, história é verdadeiraEfe

Em nota oficial, Temer alegou que não sabia de quem era o avião que o levou da Bahia até São Paulo naquela data, contradizendo o relato de Joesley Batista, que diz ter recebido do presidente uma ligação para agradecer a gentileza do envio das flores para sua esposa.

O Planalto emitiu uma nova nota confirmando o voo com duas informações consideradas "absolutamente desnecessárias" pelos interlocutores de Temer: o desconhecimento sobre o proprietário do jato e o fato de a viagem ter sido realizada como um "favor". De acordo com eles, esses fatores deram uma proporção muito maior do que esperavam ao episódio.

Apesar disso, o Planalto tenta minimizar a repercussão. Assessores do presidente alegam que não há irregularidade no "favor" e a prática seria comum no meio político. Tentam justificar ainda que a viagem foi realizada logo nos primeiros dias que ele chegou à Vice-Presidência, quando ainda não estava familiarizado com as formalidades de sua nova posição.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), seguiu essa linha de argumentação. "Não vejo nada demais. Não é um tipo de irregularidade ir a um evento de empresários em um avião. Não vejo nenhum problema, a não ser o alarde político por causa do momento. Esse é um assunto menor diante dos problemas que o País está vivendo", afirmou o senador.

De acordo com Jucá, o presidente pegou uma carona, "como diversas autoridades pegam carona em avião". Ele alegou que Temer usou a aeronave para ir a um evento público, um encontro do Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Entretanto, o presidente não usou o jato para o evento, mas para uma viagem particular de sua família.

Temer "acha" que Rossi foi intermediário

O presidente Michel Temer disse a aliados que "acha" que viajou de São Paulo a Comandatuba, na Bahia, em um jato da JBS por intermediação do ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff). Temer e sua família usaram a aeronave em janeiro de 2011, quando ele já era vice-presidente.

Temer tem alegado que o episódio foi "há muito tempo" e não consegue se lembrar de todas as viagens que já fez. Quando veio à tona a informação de que o jato fora emprestado por Joesley Batista, o Palácio do Planalto primeiramente negou. A aliados, o presidente dizia que não se lembrava. "Isso tem mais de seis anos", afirmou, segundo um de seus auxiliares.

A fim de esclarecer o episódio usado por Joesley para mostrar "proximidade" com Temer, o presidente solicitou uma pesquisa sobre suas viagens. Ele pediu também para sua assessoria repassar as informações à imprensa. Segundo relato de auxiliares de Temer no Planalto, foi após conversar com sua mulher, Marcela, e com a checagem de sua assessoria dos voos realizados que o presidente pediu a correção da informação.

A família de Wagner Rossi informou que ele não vai se manifestar sobre a possível intermediação que teria feito no empréstimo do avião para o uso particular do então vice-presidente. Wagner Rossi é pai do líder do PMDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (PMDB-SP).

Em maio, após ser citado na delação de Joesley por ter recebido R$ 100 mil por mês de "mensalinho" por um ano, Wagner Rossi admitiu conhecer o empresário e tê-lo apresentado a Temer. O ex-ministro, porém, refutou o fato de ter recebido "mesada" da companhia e afirmou que prestou "colaboração remunerada" à J&F, holding dona da JBS, após deixar o cargo e passar pelo período de quarentena.

Você pode gostar