Estudantes protestam durante visita do novo ministro da Saúde em SP
Estudantes protestam durante visita do novo ministro da Saúde em SPDivulgação/UNE
Por O Dia
São Paulo - Durante a sua visita, nesta quinta-feira, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi recepcionado por estudantes que fizeram uma manifestação contra a falta de medidas adotadas pelo governo federal para conter a pandemia do coronavírus e o pedido pela compra de vacinas para os brasileiros. 
Ao som de "mais vacina e menos cloroquina. Bolsonaro genocida", Queiroga foi até o local para uma série de visitas a hospitais no Estado de São Paulo nesta quinta. Na agenda, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Jean Carlo Gorinchteyn, acompanham o novo responsável pela pasta de Saúde. 
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Do lado de fora, estudantes estenderam uma grande faixa que dizia "a gripezinha já matou 300 mil brasileiros #Bolsonarogenocida". Também era possível ver cartazes com frases como, "chega de mortes, vacina já", "governo genocida" e "vida, pão, vacina e educação". 
Promovido pela União Nacional dos Estudantes (UNE), a entidade afirmou que o objetivo foi chamar atenção pela falta de medidas do governo federal diante da pandemia do coronavírus que já causou a morte de 300 mil pessoas. "Não iremos nos calar! Estamos na Faculdade de Medicina da USP para dizer ao novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que queremos um Plano de Vacinação eficaz e denunciar as irresponsabilidades do governo!", dizem. 
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Ciência e humanismo
No hospital, Queiroga voltou a afirmar que é necessária a união de todos "com base na ciência e no humanismo" para lidar com os problemas causados pela pandemia da covid-19 no país. O ministro destacou que o compromisso da Saúde é, em união à Educação, fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) "para levar políticas públicas que tenham concretude para ajudar a nossa sociedade". O novo ministro disse estar "entusiasmado" com a perspectiva de trabalho em conjunto com outras pastas.
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Gorinchteyn, que acompanha o ministro durante sua visita a hospitais no Estado de São Paulo, reforçou a importância de um médico à frente do Ministério da Saúde. "Um médico que sabe os problemas que sempre soubemos", disse, repetindo as falas de Queiroga reforçando a importância de unir as forças de Estados e Ministério que, segundo ele, podem "mudar a trajetória da pandemia".
'Mais vacina, menos cloroquina'
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Em seu discurso para a comunidade acadêmica, o cardiologista adotou tom conciliador e pediu um voto de confiança aos colegas. Disse que está tentando montar uma equipe técnica e que a autonomia do médico está condicionada a "práticas cientificamente aceitas", mas não respondeu objetivamente se, sob sua gestão, o Ministério da Saúde seguirá apoiando o uso de remédios como a cloroquina e a azitromicina contra a covid, defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como suposto "tratamento precoce" para a covid-19, mas que já se mostraram ineficazes contra a doença.

Durante sua fala, o ministro afirmou que sua missão é "conquistar a confiança do presidente" Jair Bolsonaro para subsidiá-lo com as melhores informações para a tomada de decisões. Disse ainda que visitava a FMUSP para aprender, pois vê o local como "casa da ciência". "E não existe medicina sem ciência", completou.

Ao final do pronunciamento, porém, a faculdade abriu espaço para perguntas, e um estudante do centro acadêmico da faculdade o questionou se ele se colocaria contra o chamado tratamento precoce ou se manteria o posicionamento "negacionista" do governo federal. Queiroga desconversou e voltou a afirmar que o objetivo é fornecer informações ao presidente.

"Acho que sua pergunta já foi respondida com a minha fala. Cada um de nós temos que colocar um tijolo nessa parede que aqui estamos construindo e a argamassa que solidica essa parede somos todos nós. Vamos olhar para frente, vamos deixar de gerar calor. O que nós queremos é luz, não calor. Estamos aqui para dialogar com a sociedade brasileira. Eu preciso da colaboração, sobretudo um voto de confiança de cada um de vocês, para que possamos construir um ambiente melhor e para que eu possa ser útil, subsidiar nosso presidente da república com informações que o convençam acerca do melhor caminho a ser seguido. Se eu conseguir fazer isso, a minha missão estará cumprida", declarou o ministro.

Queiroga deixou no ar como pretende tratar o tema da prescrição dos remédios ineficazes contra a covid. O Conselho Federal de Medicina (CFM) afirma que ainda não há consenso científico sobre o tema e se apoia na questão da autonomia médica para autorizar profissionais a prescreverem as drogas. Embora o ministro tenha dito que a autonomia esteja condicionada a evidências científicas, ele questionou que tipo de evidências seriam aceitas.

"O médico tem um razoável campo para exercer a sua autonomia. A autonomia está condicionada a práticas cientificamente aceitas. O que são práticas cientificamente aceitas? São aquelas que têm nivel A? A opinião dos médicos, estudos observacionais, eles não servem?", questionou.
Respostas para a pandemia
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Sem mencionar diretamente o protesto, Queiroga disse que os óbitos pela covid não podiam ser atribuídos a ele nem individualmente a ninguém. "Isso é um passivo de 30 anos do sistema de saúde que se fez universal sem ter uma fonte de financiamento", justificou. Ao deixar a faculdade, o ministro ainda teve que passar por um corredor formado por estudantes e ouvir gritos de: "Bolsonaro genocida" e "mais vacina e menos cloroquina".

Apesar do tom conciliador que Queiroga adotou em sua fala, professores da faculdade classificaram as respostas do novo ministro como evasivas. Ao final da transmissão, alguns docentes que permaneceram na "sala virtual" do evento comentaram que ele não explicou as medidas concretas que serão adotadas para enfrentar a situação e que não conseguiu transmitir esperança de que as coisas irão melhorar.

Ao Estadão, o professor Mario Scheffer, do Departamento de Medicina Preventiva, diz ter ficado decepcionado com a falta de respostas. "Infelizmente, ele não tocou em questões a meu ver centrais: banir o tratamento precoce sem evidência, planejar urgentemente com governadores e prefeitos medidas para redução da transmissão, explicar como e quando chegaremos a um milhão de vacinados que ele ontem anunciou, e voltar a fazer coletivas diárias de prestação de contas, em respeito à sociedade", disse o docente.
*Com informações do Estadão Conteúdo