"É uma somatória de tudo isso. Fica difícil separar o que é afetado diretamente pela covid, até mesmo pelas consequências e efeitos secundários de uma internação prolongada em UTI", afirma, citando que a "síndrome pós-UTI" também acomete pacientes de outras doenças, mas é intensificada pelo longo período em intubação ou ventilação mecânica em vítimas do coronavírus.
A síndrome de fragilidade, explica Pompeu, é mais comum entre idosos, mas também tem impactado o quadro de recuperação para pacientes adultos da covid. Ela se manifesta por meio da perda de peso não intencional, exaustão, redução da velocidade ao caminhar, diminuição da força muscular e também da atividade física.
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Livre da covid desde setembro do ano passado, Keli Cristina Macedo, de 45 anos, conta que até hoje tem dificuldades para respirar e vive em constante medo de uma nova infecção. Ela passou 15 dias internada, sete deles na UTI, teve uma hemorragia e um AVC por causa do coronavírus e durante todo o período não teve contato com nenhum familiar ou amigo.
"Senti o alívio de ter saído, mas cheguei em casa ainda muito ruim. Não conseguia tomar banho sozinha, com a respiração muito ruim e um problema nas pernas e no braço", conta Keli. Foram dois meses e meio com três sessões de fisioterapia por semana até recuperar as funções motoras e, mesmo hoje, ela precisa fazer sessões em casa para melhorar o movimento dos braços. "Se eu for estender uma roupa, meu pulmão já começa a doer."
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Logo após ela receber alta, Keli diz que já sentia as sequelas neurológicas da covid. "Minha memória continua uma porcaria, tudo que eu faço tenho que contar para a minha filha. Quando saí, nem a senha do cartão e meu endereço de casa eu lembrava."
O pavor de contrair o vírus novamente também permanece. "A vida muda muito. Você fica com mais receio, com pânico de sair na rua, não quer que ninguém venha na sua casa, chega a ter medo da própria família, sabe assim? É muito difícil."
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Os dados preliminares do HCFMUSP apontaram que, além da fragilidade, cerca de 30% dos pacientes entrevistados também apresentaram sintomas prováveis de ansiedade e depressão, a maioria pelo medo de ficarem doentes de novo. Ao mesmo tempo, atividades rotineiras também são afetadas por sequelas como incontinência urinária, dificuldade em ir ao banheiro, trocar de roupa, subir escada, tomar banho ou até se mover da cama para uma cadeira.
"Só de voltar vivo pra casa já é uma vitória. Mas você sabe que não tá voltando 100% do jeito que era. Não adianta, sempre tem alguma coisa", conta Antonio Sabino, cadastro -->