Francisco Araújo Filho, ex-secretário de Saúde do DF, depõe na tarde desta quinta-feira, 2, na CPI da Covid Divulgação

Brasília - Em depoimento na CPI da Covid na tarde desta quinta-feira, 2, o ex-secretário de Saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo Filho, reiterou a defesa de sua gestão na pasta quando respondeu perguntas sobre a sua prisão em agosto de 2020, na Operação Falso Negativo, do Ministério Público da capital Federal. A investigação apura irregularidades nas compras de testes rápidos para detecção da covid-19 para a rede pública de saúde da região.
O ex-secretário está na CPI por conta desta prisão. Ele ficou detido por três meses e agora está em liberdade, mas é monitorado por uma tornozeleira eletrônica.
"Durante cinco meses que estive à frente da Secretaria de Saúde, recebi vários políticos preocupados com a covid. Fui bombardeado com mais de 270 ofícios do Ministério Público, sofri três buscas e apreensões. A terceira culminou com a prisão da cúpula [da secretaria]. No meio disso saímos para a menor letalidade do país, oxímetro em todas as unidades básicas,maior cobertura de leitos", falava Francisco. 
Mas o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL) interrompeu o depoente e afirmou que não ficaria discutindo cinco meses de gestão.
Ao responder o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), o ex-secretário de Saúde afirmou que dormia bem, pois tinha "a consciência tranquila". O advogado do depoente interveio e disse que o cliente tem a intenção de colaborar, mas lembrou que o habeas corpus lhe garante um tratamento "civilizado e sem ironia". O senador, que ocupa a relatoria interinamente, afirmou ter respeito pelo depoente "e mais ainda pelas milhares de vítimas da covid-19 no Distrito Federal".
O depoente também confirmou a Izalci que responde a um processo por improbidade administrativa originado da Procuradoria-Geral de Maceió. A ação é relacionada ao período em que Francisco foi secretário de Assistência da prefeitura da cidade.
Já em resposta à senadora Leila Barros (Cidadania-DF), Francisco negou ter indicado integrantes de sua equipe para a secretaria do DF e afirmou não ter conhecimento de quem levou o controlador-geral de Alagoas, Alexandre Lages Cavalcante, para a pasta. O depoente afirmou que a pasta tem 12 subsecretários e 3 adjuntos, e que por ter chegado à secretaria como diretor-adjunto, não tinha conhecimento de quem eram os membros da equipe.

Calheiros lembrou que Alexandre foi nomeado na Secretaria de Saúde da capital e deixou o cargo no começo de 2019, após apenas cinco meses na função, por conta de denúncias de crimes de improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público do Distrito Federal. Mas Francisco afirmou que soube do caso somente pela mídia.
O ex-secretário afirmou que não tem relações com Kennedy Braga, apontado como lobista que teria atuado dentro da Secretaria de Saúde do DF, e negou a existência de uma sala de lobby durante sua gestão. "Não existiu esse fato de empresário lobista ter gabinete ao lado do meu", disse.
Relação com a Precisa Medicamentos
O ex-secretário de Saúde do Distrito Federal, afirmou que não conhece o sócio-proprietário da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano. O depoente negou que a empresa tenha apresentado proposta fora do prazo de licitação para compra de testes rápidos e afirmou que seguiu o trâmite determinado pela secretaria, tendo cancelado um processo de compra de 50 mil testes pela Precisa e depois reaberto, para a aquisição de 300 mil unidades, em licitação na qual participaram sete empresas.
"Tenho minha consciência tranquila e em paz que não tem e nem terá minha digital em nenhum só lugar em relação com a empresa Precisa", disse.
Mesmo assim, a senadora Leila Barros (Cidadania-DF) questionou Francisco sobre propostas apresentadas por ele pelo WhatsApp para a empresa. Ela perguntou por que as mensagens não foram enviadas por um e-mail institucional. O depoente, então, pediu para a que Leila mostrasse tais mensagens para a Precisa no processo. Por sua vez, Leila informou que existem diálogos com a Precisa na Operação Falso Negativo.
O ex-secretário de Saúde Francisco Araújo disse que não participou do processo de contratação da empresa MV Sistemas para o gerenciamento dos hospitais do Distrito Federal. De acordo com Izalci, a empresa foi contratada por R$ 100 milhões em uma licitação que teria sido comandada pelo empresário John Kennedy Braga, ligado ao governador Ibaneis Rocha (DF).
"O sistema MV está nos maiores hospitais do país. Quando cheguei, o sistema já estava implantado no Iges [Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal]. Não teve contratação. O sistema lá já estava. Não existia nenhum processo. Hoje temos o sistema Track Care nos 15 hospitais da rede", disse Francisco.
Izalci perguntou a Francisco se ele conhecia o ex-secretario-executivo do Ministério da Saúde, Adeílson Cavalcante e o depoente confirmou."Foi ele [Adeílson] que comandou e comanda os esquemas da saúde do Distrito Federal. É o mesmo grupo do Ministério da Saúde", disse o senador, que também apresentou um organograma com nomes envolvidos na gestão da Saúde do Distrito Federal. Mas o ex-secretário de Saúde do estado negou ter conhecimento do organograma. Após isso, o depoente preferiu exercer o direito de ficar calado.
Francisco também admitiu que é padrinho de casamento de Fábio Gonçalves Campos, que de acordo com Calheiros, teria tentado fraudar licitação para compra de equipamentos pela pasta. "Fábio Campos utilizou nome da empresa de um amigo para vender seus produtos para a Secretaria de Saúde do Distrito Federal", explicou Renan.
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