Pedro Benedito Batista Júnior, diretor-executivo da Prevent Senior, presta depoimento à CPIReprodução

Brasília - A CPI da Covid realiza a oitiva, nesta quarta-feira, 22, do diretor-executivo da operadora de saúde Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior. Segundo denúncias apresentadas à CPI, na documentação referente ao óbito do médico Anthony Wong não constam menções à covid-19, que teria sido a causa de sua morte. O mesmo teria acontecido com a morte da mãe do empresário Luciano Hang. Questionado pelo relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), sobre os atestados de óbito, Pedro Benedito se recusou a dar informações, alegando que não comentaria sobre o prontuário dos pacientes.

No momento em que os senadores falam sobre a morte de Wong, Calheiros exibiu um áudio no qual Benedito nega que o médico Anthony Wong, defensor do chamado "tratamento precoce", tenha morrido de Covid. No mesmo áudio, ele tenta convencer o médico que denunciou a Prevent Senior a voltar atrás na decisão de ir contra a operadora em denúncia. Confira:
O depoente também confirmou que médica Nise Yamagushi, defensora do tratamento precoce, era médica-assistente da Prevent Senior e acompanhava o paciente Anthony Wong, além de outros pacientes da operadora.
Em seguida, a CPI exibiu vídeo no qual o empresário Luciano Hang afirma que poderia ter salvado a mãe, que faleceu de covid, “se tivesse feito o preventivo”. O relator então questionou se a mãe de Luciano Hang havia sido paciente da Prevent Senior. Após a afirmativa, Calheiros questionou o porquê de a covid-19 não constar na declaração de óbito da mãe do empresário. Em resposta, Pedro Benedito disse que a CPI “terá acesso aos documentos para poder avaliar”. Assista:
“Um filho que utiliza dessa forma a sua mãe, trata com os medicamentos do tratamento precoce. Nós temos comprovação de que ele recomendou à médicos ‘escondam que a minha mãe foi tratada com cloroquina, para não desmerecer a eficácia do plano’. Isso é uma coisa macabra, escabrosa, reprovável, repugnável sobre qualquer aspecto”, criticou duramente Calheiros.

“Filho desalmado, né?”, respondeu o senador Otto Alencar (PSD-BA), em coro à fala do relator.
Mais tarde, durante mais críticas ao empresário Luciano Hang, o senador Jorginho de Mello (PL-SC) saiu em defesa de Hang.
"Luciano não está aqui, não pode ser atacado assim. É um empresário sério, de Santa Catarina, que merece respeito. Vamos respeitar a memória da mãe dele", afirmou. Confira abaixo:
Em outro áudio mostrado durante a comissão, um representante da Prevent Senior afirma que, após assinatura de um contrato com a empresa, seria enviado ao cliente um “kit anticovid”. Na conversa exibida, o representante da empresa afirma ainda que a Prevent Senior quer “evitar que o cliente adoeça, porque isso gera custos”. Nesse caso, seria enviado aos clientes o kit com ivermectina, cloroquina e outros medicamentos. Veja:
Após ser questionado pelo relator sobre a veracidade do áudio, o depoente disse que “eram enviadas as medicações prescritas pelos médicos aos pacientes, nunca houve kit anticovid”. Calheiros afirmou que existiam provas do envio deste kit.
Relações externas da Prevent

Durante a inquirição, o depoente negou que a Prevent tenha realizado contatos com o Ministério da Saúde. No entanto, ele disse que o Ministério da Saúde anexou dentro de suas planilhas protocolos de “tratamento precoce" usados pela Prevent Senior, mas negou contato com a pasta.

Em seguida, o relator questionou Pedro Benedito sobre as empresas Vitamedic e Aspen, que forneceram medicamentos à operadora. “A Prevent Senior tem alguma participação no aumento de faturamento vertiginoso dessas duas empresas?”, questionou Calheiros. Em resposta, o depoente disse que não sabia responder, pois era um diretor-executivo médico.

Benedito também não respondeu se os laboratórios patrocinaram estudos realizados pela Prevent Senior com os fármacos ivermectina e hidroxocloriquina. “Não tenho essa informação”, disse.

“Quero dar só uma informação. Em 2020 a Prevent Senior comprou 32 mil comprimidos de ivermectina da Vitamedic. Em 2021 foram quase 28 mil comprimidos até setembro. A operadora também comprou 1,2 milhão de comprimidos de hidroxicloroquina, sendo a metade deles comprado na própria Aspen”, pontuou Calheiros.
Prevent e Bolsonaro
A CPI também lembrou que houve postagens nas redes sociais do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e de seus filhos Flávio (senador pelo Patriotas-RJ) e Eduardo (deputado do PSC-SP), de abril de 2020, saudando o estudo da Prevent Senior. Esse estudo foi usaodo como forma de dar respaldo ao "tratamento precoce" com hidroxicloroquina.

Renan Calheiros perguntou quem enviou a informação ao presidente, já que o estudo não havia sido publicado. O depoente Pedro Benedito Batista Júnior disse que as informações haviam sido enviadas a jornalistas alguns dias antes, e que o presidente poderia ter tido acesso por meio de um deles. 
"No dia 7 de abril, quase 11 dias antes dessa dessa mensagem [publicada por Bolsonaro], uma série de jornalistas recebeu esse compilado com as informações dos 636 pacientes e as mesmas informações que vocês têm aqui", afirmou o depoente.