Empresário Otávio Fakhoury, vice-presidente do Instituto Força Brasil, depõe nesta quinta-feira, 30Leopoldo Silva/Agência Senado

Brasília - Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Otávio Fakhoury confirmou que é vice-presidente do Instituto Força Brasil (IFB) e que financiou os custos para que a entidade passasse a existir formalmente. O instituto é acusado de propagar Fake News contra a pandemia do coronavírus.
Ele disse que começou a ajudar filantropicamente o IFB após pedido do presidente do instituto, coronel Hélcio Bruno, e que não possui nenhuma gerência ou ato de gerência em relação às ações desempenhadas pela entidade.

Quando questionado pelo relator sobre os conteúdos “negacionistas” publicados no site da entidade, ele disse desconhecer, mas ressaltou que a gestão do portal é feita pela equipe que fica em Brasília. Renan ainda quis saber se ele continuava financiando o IFB. Após Fakhoury afirmar que tinha interrompido, o relator exibiu comprovantes de que foram feitos repasses de R$ 80 mil até julho deste ano.

Fakhoury negou conhecer detalhes da relação da empresa americana Davati — que tentou intermediar a venda de vacina AstraZeneca ao Ministério da Saúde — com o Força Brasil.O empresário também disse desconhecer quem apresentou a empresa americana a Élcio Franco, ex-secretário-executivo do ministério.
Mais cedo, Fakhoury afirmou aos senadores que o Instituto Força Brasil serviu de hospedeiro para os sites Awake Brasil e Verdades dos Fatos, mas que não houve colaboração financeira.
O empresário também disse não saber de nenhuma relação entre o instituto e o site Terça Livre, não sendo colaborador financeiro deles.Em relação ao portal Crítica Nacional, Fakhoury disse ter colaborado no passado, mas alegou que o site tem financiamento próprio agora.
O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que Otávio Oscar Fakhoury pode ser indiciado pelos crimes de perigo para a vida, epidemia e propaganda enganosa. Para o parlamentar, o empresário “confessou diversos crimes” durante o depoimento, em que defendeu o uso do kit covid, atacou as medidas sanitárias para conter a pandemia de covid-19.

"Talvez estimulados pelo presidente Jair Bolsonaro, todos eles acham que vão ficar impunes. Eu queria lembrar que o deputado Daniel Silveira [PSL-RJ], que tinha imunidade parlamentar e usou seu mesmo argumento de liberdade de expressão, está preso e vai ser cassado. O senhor está pensando que o relator [Renan Calheiros] vai aliviar para o senhor? Vai não", afirmou o senador.

O senador deu um “aconselhamento” a Fakhoury. "Faça uma autocritica e negue quando for à Justiça boa parte disso que o senhor aqui confirmou. Porque, senão, o senhor vai ser condenado. E talvez, apesar de rico e poderoso, termine acontecendo com o senhor o que aconteceu com o deputado Daniel Silveira: cadeia", disse Humberto.
TrateCov
Questionado por Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Otávio Fakhoury admitiu que foi procurado para “ajudar” no lançamento de um aplicativo — que, segundo Randolfe, era similar ao TrateCov, ferramenta desenvolvida pelo Ministério da Saúde utilizada para a prescrição do chamado kit covid. Em live veiculada no início do ano, Fakhoury defendeu um projeto de “telemedicina para receitar o kit de tratamento precoce”. O empresário, no entanto, disse na CPI que desconhece o TrateCov.

No depoimento, Fakhoury voltou a defender a tese da imunidade de rebanho (sem vacinação), segundo a qual a população desenvolveria anticorpos por meio de exposição em larga escala ao coronavírus. Para Randolfe, essas declarações podem ser caracterizadas como crime.


Marcos Tolentino
Fakhoury disse não conhecer o empresário Marcos Tolentino, dono da emissora de televisão Rede Brasil e apontado como sócio oculto da FIB Bank. A FIB ofereceu uma garantia irregular à Precisa Medicamentos para a compra da vacina Coxavin pelo Ministério da Saúde. "Não tenho conhecimento", disse Fakhoury sobre a garantia.

O depoente admitiu, no entanto, que transferiu R$ 40 mil ao apresentador Fabrizio Fasano Jr. em novembro do ano passado. Fasano Jr. comanda o programa “Coliseum”, veiculado pela Rede Brasil. Fakhoury não detalhou a natureza do repasse, mas informou que vai enviar cópia do contrato para a comissão de inquérito.

"Foi uma ajuda direta para uma pessoa. Um contrato que eu tinha com ele, de uma pessoa privada para outra", disse o empresário.

*Com informações da Agência Senado