Eduarda SantosDivulgação

Rio - A brasileira Eduarda Santos de Almeida, de 27 anos, foi morta na cidade de San Carlos de Bariloche, na Patagônia argentina na última sexta-feira, 18. O autor do crime é o também brasileiro Fernando Alves Ferreira, de 26 anos, que confessou ter matado a jovem com nove tiros. Ele disse, em audiência de custódia, que contratou a vítima para ser barriga solidária e, após isso, passou a ser chantageado por ela. No entanto, familiares da vítima afirmam que Eduarda foi assassinada brutalmente e exigem que o homem seja punido.
"Nós fomos criados no Morro do Carmo, com muito orgulho, e isso não nos torna criminosos, como o réu alega. Minha irmã é a vítima e não o contrário", disse Wallace Santos, irmão da vítima. Eduarda morava em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio, e trabalhava com turismo antes de se mudar para a Argentina, onde conseguiu emprego em uma rede de hotéis nas temporadas de inverno.
Alves afirma que cometeu o crime para "proteger sua segurança" e a dos gêmeos que teve com a vítima. Segundo o autor do crime, ela estaria envolvida com traficantes no Rio de Janeiro, onde morava antes de se mudar para a Argentina.
De acordo com Wallace, que é psicólogo do Ministério Público Estadual em Volta Redonda, no Sul Fluminense, Eduarda nunca teve nenhum envolvimento com o tráfico de drogas. "É muito comum em casos de feminicídio ver que a defesa desqualifica a vítima. Estão associando a minha irmã a prostituição, ao tráfico de drogas e destacando o termo “barriga de aluguel” de forma pejorativa", disse.
O irmão de Eduarda Santos acredita que há uma distorção do termo “barriga solidária” e diz que os meios de comunicação estão dando voz ao réu e não à vítima. “Eu acho que falta cuidado de usar o termo certo na hora de se referir a minha irmã. Está sendo veiculado que a minha irmã não tinha família, que estava passando por vulnerabilidade financeira e nenhuma dessas informações são corretas. Minha irmã tinha residência fixa, cidadania argentina, era habilitada pela Marinha. Ela trabalhava e tinha renda fixa”, afirmou. 

Os parentes de Eduarda iniciaram os trâmites para levar o corpo e o bebê, terceiro filho dela, ao Brasil. “Minha irmã deixou três filhos, dos quais estamos lutando pra conquistar a guarda. Me entristece muito ver notícias falsas ligadas ao nome da Eduarda nesse momento. Minha irmã ligava para o Brasil diariamente e sempre manteve um ótimo relacionamento com a nossa família”, concluiu .
Ao juiz Sergio Pichetto, que julga o caso, Fernando se declarou culpado pela morte de Eduarda. "Me declaro culpado pela morte de Eduarda Santos de Almeida", disse o réu. Pichetto determinou a prisão preventiva de Alves por quatro meses. O acusado contou que ele e o marido contrataram Eduarda para que ela desse à luz os filhos gêmeos do casal. O companheiro de Fernando, no entanto, morreu vítima da covid-19 há sete meses.
Morta com nove tiros
Eduarda foi encontrada morta na última quarta-feira, 16, na estrada Circuito Chico. O local fica na zona do Lago Escondido, a poucos metros da estrada que leva ao hotel Llao Llao, centro turístico de luxo da região, onde Alves trabalhava. No início das investigações a polícia afirmou desconfiar que a vítima teria sido morta após um assalto.
De acordo com a versão do réu, Eduarda lhe fazia ameaças e ele se encontrava sem condições financeiras de levar, sozinho, os filhos ao Brasil. O que gerou uma contradição ao dizer que, ainda que preferisse retornar ao seu país, os supostos vínculos de Eduarda com o narcotráfico no Rio ameaçavam a ele e às crianças.
"Se a Justiça argentina mandar meus filhos ao Brasil, estará mandando-os para a morte", disse o acusado. No momento as crianças se encontram temporariamente com a cunhada de Alves, que veio do Brasil para auxiliá-lo. "Não me importo em pegar uma perpétua, mas quero meus filhos em segurança", disse o acusado.
Entretanto, segundo familiares da vítima, Eduarda era habilitada pela Marinha do Brasil para realizar serviços náuticos. O irmão da vítima afirmou que ela trabalhou com turismo na região de Angra dos Reis.
Alves ainda alegou que Eduarda fazia "exigências fora do contrato", como a de participar do cuidado das crianças e inclusive dos gastos, além de ameaças de que os filhos estariam "na mira do narco" se fossem para o Brasil sem que Alves pagasse o que lhe devia. Até o momento, não há provas de que Eduarda teria ligação com organizações criminosas.
Crime
As autoridades locais informaram que a arma usada no crime foi encontrada na ponte de Dos Morenos, perto do local do assassinato. Na casa em que Alves e Eduarda viviam, havia uma caixa de munições em que faltavam 19 balas.

De acordo com a autópsia, a vítima foi morta com seis balas no pulmão, as demais atingiram braço, pernas e o rosto. Também foram identificadas feridas em seu corpo que indicam a possibilidade de uma briga e de ela ter sido atacada antes de morrer, talvez buscando sair do carro. O automóvel foi encontrado com manchas de sangue. A procuradoria afirma que trabalha com a hipótese de um "crime premeditado".
*Estagiária sob supervisão de Cadu Bruno