Prefeitos denunciam que pastor Arilton Ribeiro (à direita) cobrava propina para liberar recursos do Ministério da Educação (MEC)Reprodução

Rio de Janeiro - Prefeitos que participaram de reuniões com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, relatam que receberam pedidos de propina do pastor Arilton Moura para que os recursos da pasta fossem liberados para a construção de escolas. De acordo com os denunciantes, Moura teria pedido pagamentos em dinheiro e em ouro.
As revelações vêm a público depois que a Folha de São Paulo divulgou um áudio em que o ministro da Educação afirmava que os municípios indicados pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, ambos da Assembleia de Deus, tinham prioridade no repasse de verbas. Segundo Ribeiro, a vantagem indevida seria um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O prefeito da cidade goiana de Bonfinópolis, Kelton Pinheiro (Cidadania), contou ao O Globo que Arilton pediu R$ 15 mil de propina para liberar recursos do Ministério da Educação (MEC) para a construção de uma escola na cidade. Além disso, Kelton teria que doar bíblias para a igreja do pastor, como uma forma de oferta.
Kelton relata que o Arilton teria dito: “Papo reto aqui. Eu tenho recurso para conseguir com você lá no ministério, mas eu preciso que você coloque na minha conta hoje R$ 15 mil. É hoje. E porque você está com o pastor Gilmar aqui, senão… Pros outros, foi até mais”.
O pedido teria sido feito em um almoço com outros prefeitos que participaram de uma reunião com Milton Ribeiro. Segundo Kelton, que afirma ter recusado a proposta, o pastor Gilmar Santos também estava presente no encontro, que aconteceu em março de 2021.
Antes disso, em janeiro do ano passado, Arilton já teria pedido propina a outro prefeito, José Manoel de Souza (PP), gestor de Boa Esperança do Sul, em São Paulo. Souza conta que após pedir a construção de uma escola profissionalizante em seu município, Arilton condicionou a entrega do centro de educação a um pagamento de R$ 40 mil.
O pastor teria dito: “Se você quiser, eu passo um papel agora, ligo para uma pessoa e as escolas profissionalizantes vão chegar ao seu município, mas em contrapartida, você precisa depositar R$ 40 mil para ajudar a igreja. Uma mão lava a outra, né?”, relata Souza, que afirma ter negado a proposta.
“Eu bati nas costas dele e falei: "Obrigado senhor Arilton, mas para mim não serve", diz o administrador de Boa Esperança do Sul.
Além dos dois gestores, Gilberto Braga (PSDB), prefeito da cidade maranhense Luís Domingues, afirmou ao Estadão que Arilton teria pedido R$ 15 mil apenas para protocolar os pedidos da cidade junto ao Ministério. Para que as demandas fossem atendidas, ele teria que pagar 1kg de ouro ao pastor.
De acordo com Braga, o pedido também teria sido feito aos outros prefeitos que estavam presentes no almoço, que aconteceu após uma reunião na sede do Ministério da Educação.
"Então, o negócio estava tão normal lá que ele não pediu segredo, ele falou no meio de todo mundo. Inclusive tinha outros prefeitos do Pará. Ele disse: 'Olha, para esse daqui eu já mandei tantos milhões'. Os prefeitos ficaram todos calados, não diziam nem que sim, nem que não'", afirmou Braga.
Desdobramentos
Depois do escândalo que o áudio de Milton Ribeiro gerou, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a instauração de um inquérito sobre a suspeita de favorecimento dos municípios indicados por Gilmar Santos e Arilton Moura.
Nesta quarta-feira, 23, Milton Ribeiro confirmou à CNN que recebeu os Gilmar e Arilton, mas negou ter conhecimento dos pedidos de propina. Já para o programa Pingo nos Is, da Jovem Pan, o ministro disse que recebeu uma denúncia anônima sobre os pedidos de propina em agosto de 2021 e que acionou a Controladoria-Geral da União (CGU) para investigar o caso.