Obra de Di Cavalcanti foi danificada durante o ataque terrorista deste domingo (8)Reprodução
Destruição de obras de arte durante ataques em Brasília gera revolta nas redes sociais
Quadro 'As Mulatas', de Di Cavalcanti, foi furado em sete pontos por vândalos
Brasília – Obras do acervo cultural e histórico brasileiro foram destruídas durante os ataques terroristas realizados neste domingo (8) ao Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Entre as mais emblemáticas, está o quadro “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, exposto na sede do Executivo, que foi furado sete vezes e tinha valor estimado em R$ 8 milhões. A foto da pintura depredada viralizou nas redes sociais.
A historiadora Lilia Moritz Schwarcz, professora titular da USP, comentou o ocorrido: “Um trabalho de Emiliano Di Cavalcanti e muitas obras de arte que estavam nas paredes do Palácio do Planalto foram destruídas pelos terroristas criminosos. Toda vez que governos autoritários atacam a democracia, a arte sofre. O Museu Nacional da República também recebeu ameaças de bomba e por isso foi fechado”, disse ela.
Outras personalidades do meio artístico também se manifestaram, destacando a destruição da pintura de Di Cavalcanti, como é o caso da atriz Ana Beatriz Nogueira, da TV Globo. “Seis facadas... Dia triste e vergonhoso”, comentou em seu Instagram.
De acordo com a Subsecretaria de Imprensa do Planalto, os estragos são extensos. No andar térreo, toda a galeria dos ex-presidentes foi destruída. Já a obra “Bandeira do Brasil”, de Jorge Eduardo, foi encontrada boiando sobre a água que inundou as salas após vândalos abrirem os hidrantes.
O corredor do 2º andar do Planalto foi brutalmente vandalizado. Há registro de muitos quadros rasurados ou quebrados. A extensão dos danos não pôde ser determinada, uma vez que é necessário aguardar a perícia e a limpeza dos espaços, que possibilitará acesso às obras.
No 3º andar, a escultura “O Flautista”, de Bruno Giorgi, foi completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão. Outra escultura, esta de Frans Krajcberg, foi quebrada em diversos pontos – a obra se utiliza de galhos de madeira, que foram quebrados e jogados longe.
Ainda no prédio do poder executivo, de acordo com o senador Randolfe Rodrigues (Rede) em vídeo publicado nas suas redes sociais, um relógio de pêndulo que foi pertenceu a Dom João VI foi destruído.
“Foi um presente a Dom João VI. Ele trouxe da Europa para o Brasil em 1808, então é um relógio que tinha certamente mais de 230 anos. Esse relógio era o relógio original, que estava aqui no Palácio do Planalto e foi totalmente destruído, danificado. O valor dessa obra é inestimável, não tem paralelo”, afirmou o senador.
Segundo o diretor de curadoria dos palácios presidenciais, Rogério Carvalho, a recuperação da maioria das obras vandalizadas será possível, mas a restauração do relógio é considerada “muito difícil”. A peça, que recebe o nome “Relógio de Balthazar Martinot”, foi fabricada pelo relojoeiro de Luis XIV. Existem apenas duas dela no mundo, a outra estando exposta no Palácio de Versailles, na França.
No Congresso, um alvo dos ataques foi a obra “Bailarina”, do artista ítalo-brasileiro Victor Brecheret. A escultura de bronze polido, que é parte do acervo da Câmara dos Deputados e fica em exposição no Salão Branco, foi encontrada debaixo de uma poltrona e, segundo a assessoria de imprensa da Câmara, teria sido arremessada durante a invasão. Ainda não foi determinada a extensão dos danos à peça.
Na sede do poder judiciário, onde há um espaço dedicado a bustos de figuras históricas como Dom Pedro I, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, também houve destruição. Imagens publicadas nas redes sociais mostram o estado de um salão do STF, onde vasos raros eram exibidos, durante a invasão.
De acordo com as assessorias de comunicação do STF e da Câmara dos Deputados, uma perícia está sendo realizada para determinar o montante do patrimônio danificado.
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