Sigilo do cartão corporativo usado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi derrubadoEVARISTO SA / AFP

Brasília - A Secretaria Geral da Presidência derrubou mais um sigilo de 100 anos imposto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e divulgou os dados do Cartão de Pagamento do Governo Federal (CPGF), conhecido cartão corporativo dos presidentes da República. Os gastos de Bolsonaro somam R$ 27,6 milhões em despesas durante os quatro anos de gestão. 
Na quarta-feira, 11, a lista de visitas recebidas pela ex-primeira dama Michelle Bolsonaro no Palácio da Alvorada, entre dezembro de 2021 e 2022, já havia sido revelada, com 565 visitantes, como pastores, cabeleireira/manicure, estilista, entre outros.

Os maiores valores registrados na planilha foram gastos em hotéis de luxo. As informações foram apuradas pela agência de monitoramento de dados públicos, 'Fiquem Sabendo', especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI). A planilha lista 59 modalidades de despesas pagas com o cartão corporativo pessoal de Jair Bolsonaro. Os gastos com hospedagem, no total R$ 13.669.149,08 milhões, concentram a maior fatia das faturas.

Com diárias que variam de R$ 436 a R$ 940 por noite, o hotel de luxo Ferraretto Hotel, em Guarujá, São Paulo, recebeu um valor de R$ 1,46 milhão ao longo dos quatro anos de mandato. O montante seria suficiente para mais de 2,9 mil diárias (com base de cálculo na média entre os valores das diárias).
Alimentação
O relatório que reúne o detalhamento de despesas pessoais de Bolsonaro e da equipe presidencial revelou o apetite por comidas carregadas em calorias, gorduras, açúcar e sódio. A lista destaca o valor gasto em sovertes (R$ 8,6 mil), lanches no McDonald's (na casa dos R$ 800), quitutes na Casa de Doces e Queijos Brasília (R$ 9 mil). Um estabelecimento identificado como 'hamburgueria e pizzaria' teve a conta fechada em R$ 25 mil no dia 8 de fevereiro de 2022.
Em padarias, vale destacar a Panificadora São Francisco do Sul, com gastos de R$ 61 mil, no dia 3 de janeiro de 2022. Na Padaria Santa Marta, na Zona Sul do Rio, entre 2019 e 2022, a fatura do cartão corporativo teve uma despesa de cerca de R$ 362 mil. Na véspera de uma motociata realizada na Cidade Maravilhosa, no dia 22 de maio de 2021, o cartão corporativo de Bolsonaro teve gastos de R$ 33 mil.
As dez maiores notas fiscais são de hospedagem, mas chama a atenção gastos expressivos em um acanhado restaurante Sabor de Casa, em Boa Vista, em Roraima: R$ 109 mil, no dia 26 de outubro de 2021. O estabelecimento fornece marmitas promocionais a R$ 20. O mesmo local recebeu dois pagamentos de R$ 14 mil R$ 28 mil em setembro do mesmo ano. O assunto se tornou um dos mais comentados no Twitter e um dos mais buscados no Google, gerando críticas da população e de políticos da oposição, como os deputadoa federais Sâmia Bonfim (PSOL-SP) e André Janones (Avante-MG).
"Em um país onde metade da população vive em insegurança alimentar, o ex presidente Jair Bolsonaro se sentia a vontade em gastar milhões no cartão corporativo com hotéis de luxo e doces na padaria", publicou Janones, no Twitter, em alusão ao questionamento de Bolsonaro sobre os dados do Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, que apontou que mais de 33 milhões de brasileiro vivem em situação de fome (insegurança alimentar grave).
Os gastos com cartão corporativo de Bolsonaro têm valor menor que os do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua duas gestões anteriores. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT), durante seu primeiro mandato, também gastou mais que Jair.

Gastos de todos os presidentes com o cartão corporativo desde o 1º mandato de Lula

Valores corrigidos pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo)
- Lula gastou R$ 59.075.679,77 no 1º mandato
- Lula gastou R$ 47.943.615,34 no 2º mandato
- Dilma gastou R$ 42.359.819,13 no 1º mandato
- Dilma/Temer gastaram R$ 25.482.904,75 no 2º mandato
- Jair Bolsonaro gastou R$ 27.621.657,23 no mandato
- Hospedagens: R$ 13.669.149,08
- Fornecimento de alimentação: R$ 5.511.790,53
- Gêneros de alimentação: R$ 4.783.581,22
- Apoio administrativo, técnico e operacional: R$ 1.538.381,15
- Locação de bens móveis e intangíveis: R$ 699.775,01
- Combustíveis e lubrificantes automotivos: R$ 668.824,56
- Material de limpeza e higienização: R$ 207.975,15
- Locação de imóveis: R$ 69.097,25
- Locação de máquinas e equipamentos: R$ 64.058,50
- Material de copa e cozinha: R$ 50.394,26
- Material de acondicionamento e embalagem: R$ 49.008,87

O 'Cartão Corporativo' foi instituído por decreto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2001 para: atender a despesas de pequeno vulto (aquelas que não ultrapassem o limite estabelecido na Portaria MF nº 95/2002); atender a despesas eventuais, como viagens e serviços especiais, que exijam pronto pagamento; executar gastos em caráter sigiloso.