Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de MoraesReprodução/redes sociais
Segundo Moraes, há justa causa e indícios de autoria e materialidade suficientes para pôr Bolsonaro e seus aliados no banco dos réus. Na avaliação do relator, as provas produzidas pela Polícia Federal ao longo da investigação da Operação Tempus Veritatis já seriam "suficientes", mas há ainda vários depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, corroborando os achados dos investigadores.
Agora, os demais integrantes da Primeira Turma do STF, colegiado que analisa as imputações contra o ex-presidente e demais acusados, vão apresentar seus pareceres sobre a denúncia. Votam, na seguinte ordem, os ministros: Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia, e Cristiano Zanin, presidente da Turma.
Se o STF tornar Bolsonaro réu, terá início o trâmite da ação penal contra o ex-chefe do Executivo. Somente ao final de todo o processo, que inclui uma série de oitivas e diligências - que podem ser requeridas tanto pela acusação quanto pela defesa -, será marcado o julgamento que pode sentenciar Bolsonaro.
A PGR acusa Bolsonaro dos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. O órgão fatiou as denúncias oferecidas contra os 40 indiciados pela tentativa de golpe de Estado. A acusação que atinge Bolsonaro é a primeira a ser analisada pelo STF.
No entanto, ponderou que o recebimento da denúncia em si não representa culpa dos acusados. As declarações ocorreram durante o seu voto no julgamento da Primeira Turma do STF se recebe ou rejeita a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados de tentarem um golpe de Estado após as eleições de 2022.
"Não há, portanto, nenhuma inépcia da denúncia, como alegado pelas defesas, porque a descrição fática da denúncia permite o pleno exercício do contraditório, da ampla defesa, não havendo, me parece, com certeza, nenhuma dúvida de todos os requisitos exigidos", afirmou Moraes.
O ministro prosseguiu: "Da mesma forma, está presente a justa causa para a instauração da ação penal. Sabemos que o recebimento da denúncia, além dos requisitos previstos no Artigo 41 do Código de Processo Penal, exige a justa causa, que deve ser analisada dentro do tripé da tipicidade, punibilidade e viabilidade."
Na ocasião, Moraes lembrou que o Código de Processo Penal prevê a necessidade de suporte probatório mínimo para a denúncia avançar. Segundo o ministro, porém, apesar de indícios mínimos e razoáveis, o recebimento da denúncia não representa culpa.
"O recebimento da peça acusatória não representa análise de culpabilidade de nenhum dos denunciados. O recebimento da peça acusatória depende da materialidade dos crimes, que está comprovada, mas não é uma cognição exauriente dos fatos", declarou.
"Isso não é violência?", questionou o ministro. "Ninguém estava passeando", seguiu, indicando que é possível ver pedidos de intervenção nas imagens.
O ministro também indicou que servidores, policiais, foram feridos gravemente. "É um absurdo pessoas dizerem que não houve agressão (no 8 de janeiro) e consequentemente não houve materialidade", destacou.
Segundo o ministro, houve uma "tentativa de golpe de estado violentíssimo", com "incivilidade total" e "violência selvagem".
O ministro prosseguiu: "Dia 8 de janeiro de 2023 foi uma notícia péssima para a democracia, para as instituições, para todos os brasileiros e brasileiras que acreditam num País melhor". Na sequência, ele disse que esse "viés da positividade" contribui para a relativização dos fatos e para que "esqueçamos que não houve um domingo no parque".
"Não foi um passeio no parque. Ninguém, absolutamente ninguém que lá estava, estava passeando", declarou. Para o ministro, a denúncia da PGR deve "comprovar materialidade dos delitos" e salientou que esses crimes foram reconhecidos pelo STF em 474 denúncias.
"A Procuradoria-Geral da República demonstrou conhecimento de Jair Messias Bolsonaro sobre o plano criminoso Punhal Verde e Amarelo, que tinha como finalidade o monitoramento e a execução de autoridades públicas brasileiras", declarou Moraes.
Na sequência, o ministro afirmou que a denúncia apontou diálogo entre o general Mario Fernandes e o ex-ajudante de Ordens Mauro Cid em 8 de dezembro de 2022, "corroborando o acompanhamento de Jair Messias Bolsonaro sobre essa operação criminosa e violenta"
Na ocasião, Moraes leu uma mensagem de Fernandes em que o militar diz: "Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo [Lula], não seria uma restrição. Que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo… Mas aí na hora eu disse: pô, presidente, mas o quanto antes… a gente já perdeu tantas oportunidades".
Em relação aos ataques à Justiça Eleitoral, Moraes disse que a PGR demonstrou que Bolsonaro sabia que não havia fraude nas urnas eletrônicas. O ministro lembrou que o ex-presidente convocou uma reunião com embaixadores "para falar mal" e "plantar notícias falsas" sobre as eleições.
"Todos se recordam que, a partir de um determinado momento, o então ministro da Defesa, general Paulo Sergio, passou a comandar no âmbito das Forças Armadas que tinha uma missão dada pelo então presidente Jair Bolsonaro. Essa missão era comprovar fraude às urnas. Era a necessidade de comprovar que a eleição era fraudulenta", disse Moraes.
As declarações ocorreram nesta quarta-feira, 26, quando o Supremo julga se recebe ou rejeita a denúncia da PGR contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados de tentarem um golpe de Estado após as eleições de 2022. O ex-presidente nega envolvimento com a trama.
"Seria a chamada operação de Garantia da Lei de da Ordem, o discurso a ser proclamado pelo então presidente Jair Messias Bolsonaro depois do golpe e como seria essa divisão de poder", citou Moraes. "A denúncia ressalta ainda que Jair Messias Bolsonaro tinha pleno conhecimento das ações da organização criminosa."
Moraes continuou: "(A denúncia) Destaca que, mesmo após a derrota, determinou que as Forças Armadas emitissem nota técnica com a finalidade de manter os seus apoiadores. O presidente determinou, após as eleições, que assinassem uma nota pela manutenção das pessoas na frente dos quartéis".
Na sequência, Moraes reforçou o caráter criminoso dos acampamentos. "Hoje, ninguém mais tem dúvida, porque o Supremo Tribunal Federal já se deparou com o tema, já realizou diversas condenações e também mais de 500 acordos de não persecução penal, que é crime, é infração penal você acampar na frente de quartéis para pedir a decretação de golpe de Estado, para pedir a volta do AI-5, da tortura, a quebra da normalidade democrática". Moraes acrescentou: "E isso foi feito expressamente, esse pedido, pelo então presidente ora denunciado".
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