Por marta.valim

A escassez de chuvas, aliada à dificuldade cada vez maior para construir hidrelétricas com reservatórios no Brasil, reduziu ainda mais a participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira em 2013. Os dados são da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que aponta uma queda da participação dos renováveis na oferta de energia do país para 41%, ante os 42,3% registrados em 2012. Foi o segundo ano seguido de queda, o que vem contribuindo para o aumento de 7% das emissões de gases poluentes pelo setor energético nacional. Em 2013, calcula a EPE, a oferta interna de energia cresceu 4,5%, para 296,2 milhões de toneladas de petróleo equivalente.

“Gás natural, petróleo e derivados responderam por 80% deste incremento. Isto se deveu basicamente à redução na oferta interna de hidroeletricidade com consequente aumento de geração térmica, seja gás natural, carvão mineral ou óleo”, diz o texto de apresentação do Balanço Energético Nacional (BEN) 2013, lançado esta semana pela EPE. “Outro aspecto refere-se ao consumo do setor de transporte, que pelo segundo ano consecutivo cresceu significativamente”, completa. Com a expansão da frota de automóveis, o consumo de energia por este segmento apresentou crescimento de 5,2% com relação ao ano anterior.

Apesar do crescimento das vendas de etanol, provocado pelo aumento da mistura na gasolina, o segmento de transportes é também o maior poluidor do país, responsável por 46,9% das emissões de gás carbônico provocadas pela ação do homem, ou 215,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO). “Em termos de emissões por habitante, cada brasileiro, produzindo e consumindo energia em 2013, emitiu em média 2,3 toneladas de CO equivalente, ou seja, cerca de 8 vezes menos do que um americano e 3 vezes menos do que emite um europeu ou um chinês”, destaca a EPE. A entidade não abre os dados sobre emissões do setor elétrico, mas o crescimento das fontes não renováveis indica que também houve crescimento.

Segundo o BEN, houve um aumento de 3,6% no consumo de energia elétrica no ano passado, com maior participação de gás natural, derivados de petróleo, energia eólica e carvão entre as fontes de suprimento. A fatia das fontes renováveis na geração de eletricidade caiu, pela primeira vez, para abaixo dos 80% — foi de 79,3%, contra 84,5% no ano anterior. “É um problema gerado pela crise hidrológica, que ficou abaixo da média em 2013, levando o governo a usar mais térmicas para poupar água nos reservatórios”, comenta Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica do Instituto de Economia da UFRJ (Gesel). “Mas é fato também que a dificuldade em termos reservatórios contribui para piorar o quadro, já que os estoques de água são cada vez menores”, completa ele.

De fato, o BEN 2013 aponta uma queda de 5,4% na oferta de energia hidráulica em 2013. Já a oferta por térmicas movidas a carvão e gás natural cresceu 75,7% e 47,6%, respectivamente. A energia eólica, que vem apresentando crescimento vertiginoso nos últimos anos, registrou alta de 30,2%. Como resultado, a fatia da energia hidráulica na matriz elétrica brasileira caiu de 76,9% em 2012 para 70,6% no ano passado. A tendência deve se manter este ano, diante da necessidade de manter as térmicas em operação para poupar água nos reservatórios, estratégia que tem levado o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a reduzir as vazões em algumas barragens.

Projeções do mercado apontam para o incremento de fontes não renováveis também nos próximos anos, como alternativa para driblar a dificuldade na construção de novas hidrelétricas na Amazônia, última fronteira energética do país. O governo tem, inclusive, adotado medidas para melhorar a atratividade de térmicas a gás natural, para evitar que a expansão fique dependente de fontes mais poluentes. Para o próximo leilão com entrega em cinco anos (A-5), o preço-teto foi aumentado, de forma a permitir a participação de usinas com gás natural importado, mais caro do que o produzido no país.

Embora reconheça que as emissões de gases poluentes pelo setor energético brasileiro vêm apresentando crescimento, a EPE destaca que os volumes emitidos no país ainda estão bem abaixo dos verificados nos Estados Unidos, União Europeia e China. Em 2013, o indicador de emissões per capita no Brasil chegou a 2,3 toneladas de CO por habitante, contra 16,9 toneladas de CO por habitante nos Estados Unidos, 7 toneladas na Europa e 5,9 na China. “Apesar do aumento da geração térmica, o setor elétrico brasileiro emitiu, em média, apenas 115 kg de CO para produzir 1 MWh. É um índice ainda muito baixo quando se estabelece comparações internacionais. Por exemplo, os setores elétricos americano e chinês emitem, respectivamente, 9 e 14 vezes mais”, completa o documento.

Consumo per capita cresceu 31% nos últimos 13 anos

O crescimento da renda dos brasileiros levou o consumo per capita de energia no país a atingir 3 mil quilowatts-hora (kWh) no ano passado, um crescimento de 31% com relação ao valor verificado no início do século. Ainda baixo em relação a países desenvolvidos, o consumo per capita brasileiro foi impulsionado, segundo analistas, por políticas de distribuição de renda, eletrificação rural e incentivos para as compras de eletrodomésticos. Já o indicador de consumo por PIB vem se mantendo estável, tendo fechado o ano em 272 kWh por cada US$ 1 mil.

“Com o crescimento da renda, a população certamente consome mais energia. Por outro lado, a economia tem crescido em ritmo lento, o que explica o indicador de consumo de energia por PIB”, explica Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ (Gesel). Entre 2000 e 2013, o consumo de energia por PIB cresceu apenas 2,25%. Segundo o Balanço Energético Nacional 2013, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os dois indicadores tinham desempenho semelhante até o início dos anos 2000 e começaram a se distanciar a partir de 2010, quando o consumo per capita intensifica o ritmo de crescimento.

Os últimos indicadores do mercado de energia no Brasil indicam que a tendência se manterá este ano. De acordo com a própria EPE, o consumo residencial tem puxado o desempenho do setor em 2014, enquanto a indústria se mantém estável. Entre janeiro e abril, o segmento residencial apresentou alta de 8,6%, na comparação com o primeiro quadrimestre do ano anterior, atingindo 45,6 mil megawatts-hora (MWh). Já o segmento industrial registrou queda de 0,16% no mesmo período, para 59,8 mil MWh.

As maiores taxas de crescimento do consumo residencial têm se dado em regiões mais beneficiadas com as políticas de distribuição de renda: na região norte, por exemplo, a alta foi de 15% no primeiro quadrimestre. O consumo per capita brasileiro, porém, ainda está muito abaixo do verificado em países desenvolvidos. Equivale, por exemplo à metade do indicador da Alemanha e quase quatro vezes menor do que os Estados Unidos — que, segundo dados do Banco Mundial, tinham em 2011 um consumo per capita de energia de 7,1 mil kWh e 13,2 mil kWh, respectivamente.

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