Por marta.valim

A queda da produção na indústria de transformação e na construção civil derrubou também outros setores que fornecem para esses segmentos. Aço, plásticos, compósitos, embalagens e eletroeletrônicos são alguns exemplos de materiais cujas indústrias viram o faturamento despencar em 2014.

Presente na construção de casas, veículos e obras de infraestrutura, a produção de aço bruto teve queda de 1,5% no primeiro semestre deste ano, na comparação com igual semestre de 2013, para 16,7 milhões de toneladas. A produção de aço laminado teve queda ainda maior, de 4,5% em igual período, para 12,5 milhões de toneladas, de acordo com o Instituto Aço Brasil. E foi o mercado interno que puxou para baixo a produção. Só em junho, as vendas internas caíram 21% em relação a junho de 2013, para 1,6 milhão de toneladas de produtos. No acumulado do primeiro semestre, as vendas de 10,7 milhões de toneladas mostraram queda de 5,3% com relação ao mesmo período do ano anterior.

Com aplicação de veículos a aviões, o setor de materiais compósitos também teve produção reduzida. De acordo com o presidente da Associação Latino Americana de Materiais Compósitos (Almaco), Gilmar Lima, os principais mercados desse plástico de alta resistência (transportes, construção civil e energia eólica), recuaram de forma significativa no primeiro semestre deste ano, o que afetou toda a cadeia de fornecimento. Só no segundo trimestre, o faturamento das empresas da cadeia produtiva caiu 13% em comparação ao resultado dos três meses anteriores, totalizando R$ 739 milhões. Em termos de volume de material processado, a queda foi de 8,8%, fechando em 49 mil toneladas. Frente a igual período do ano anterior também houve redução: de 8,4% no faturamento e 6,5% no volume.

Segundo Lima, transportes consomem 18% do total produzido; por isso, a diminuição na produção de veículos tem forte influência no faturamento. “Embora a construção civil represente 45% do material produzido, o valor agregado é muito baixo. Por isso, ao vender menos caminhões e ônibus, por exemplo, as empresas sentem mais a retração”, diz.
Por conta do baixo desempenho no primeiro semestre, as projeções para o ano não são animadores. O segundo semestre deve reagir, diz Lima, mas não o suficiente para recuperar as perdas. Estudo encomendado pela Almaco aponta que as empresas associadas devem faturar R$ 3,298 bilhões em 2014, alta de 1,5% ante 2013. No ano passado, o percentual de crescimento frente a 2012 foi de 8,9%.

Reposição também é o que espera o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. Para ele, apoiada mais no período de vendas maiores, pelo volume de recursos com a entrada do 13º salário, do que uma reação da economia: “A queda que verificamos no primeiro semestre é reflexo da política do Banco Central de conter a inflação com aumento de juros, o que derruba a atividade econômica. Portanto, por mais irônico que possa parecer, podemos dizer que a política do BC está dando certo”.
Sondagem da Abinee mostra que, em junho, 44% dos empresários ouvidos apontaram queda nas vendas ante junho de 2013. Em maio, esse índice era de 31%.

A indústria de material de construção acompanhou a queda da atividade e tem retração de 4,6% nas vendas no primeiro semestre, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Segundo o presidente da associação, Walter Cover, até maio o acumulado era de queda de 2,8%, mas o mau resultado de junho derrubou o resultado do semestre.

“Boa parte da queda verificada em junho está relacionada à redução do número de dias úteis devido aos feriados da Copa. Mas o consumidor também reduziu o ritmo de reformas e compras no varejo, afetando o segmento”, diz.

O setor de papelão ondulado, que fornece para todos os outros, também teve retração. Dados preliminares da Associação Brasileira de Papel Ondulado (ABPO) mostram que, em junho, a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado teve queda de 3,38% na comparação com igual mês do ano passado, e de -9,49% ante maio, alcançando 261,5 mil toneladas. No primeiro semestre a produção alcançou 1,6 milhão de toneladas. Se confirmado, o resultado ficará praticamente estável ante o primeiro semestre do ano passado, com queda de 0,25%.

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