Por monica.lima

São Paulo - Analistas econômicos esperam a Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada na próxima quinta-feira, para entender o que fez o Banco Central (BC) mudar de postura e elevar a taxa básica de juros (Selic) para 11,25%, após ter mantido em 11% ao ano nas quatro reuniões anteriores. No mesmo período dessas reuniões, lembram os analistas, o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) não deu sinais de arrefecimento e, mesmo assim, o Copom manteve a taxa.

Em abril, data da elevação da Selic para 11%, o IPCA acumulava 6,28% em 12 meses. A partir da reunião seguinte, a taxa se manteve inalterada, enquanto o IPCA passou para 6,38% (maio); 6,52% (junho); 6,50% (julho); 6,51% (agosto) e 6,75% (setembro).

Embora esperassem a manutenção da Selic na reunião de quarta-feira, era unânime a opinião entre analistas ouvidos pelo Brasil Econômico sobre a necessidade de uma nova alta para ao menos tentar trazer o IPCA para o teto da meta, de 6,5%.

Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, a decisão do BC foi preventiva, por conta da correção da taxa de câmbio nos últimos meses. Para ela, entretanto, é improvável que o ciclo seja prolongado ou de grande magnitude, uma vez que o diagnóstico do BC é de que o Brasil vive um cenário de economia operando abaixo do potencial: “Provavelmente, o BC quis surpreender os mercados justamente para não ter que elevar muito a Selic”.

Professor de Finanças do Ibmec-Distrito Federal, Marcos Sarmento Melo diz que embora a inflação venha rondado o teto da meta em 12 meses praticamente em todo este ano, a manipulação da Selic é a principal arma sendo usada para o combate da inflação. “Como a inflação teima em se manter acima do teto, o BC precisava de fato adotar uma atitude mais enérgica para que ela volte ao menos para o intervalo permitido”, diz.

Melo descarta a alta como uma medida preventiva em resposta à valorização do dólar, ou um possível reajuste no preço de combustíveis. “O Copom leva em conta principalmente a situação presente. Já existiam motivos para a alta”, salienta Melo.

Já o professor de Economia do Mackenzie Pedro Raffy Vartanian acredita que o movimento iniciado pelo BC é um sinal de que, provavelmente, vai perseguir de forma mais rápida o centro da meta de inflação, ao invés da postura de simplesmente perseguir uma inflação apenas abaixo do teto. “O discurso anterior era de convergência para o centro da meta com bastante parcimônia. Agora, pode ser mais rápido do que se previa.”

Ele concorda que a valorização do câmbio nos últimos meses ainda não deve estar preocupando a autoridade monetária. “Apesar da valorização, o dólar mantém um comportamento muito oscilatório. Até que se alcance certa estabilidade, não haverá contaminação dos preços”, afirma Vartanian.
Opinião semelhante tem o superintendente adjunto de Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Salomão Quadros. “Os empresários aguardam ao menos um sinal de estabilidade do câmbio para fazer uma nova tabela de preços, por exemplo. Portanto, no curto prazo, a influência da valorização do dólar tem pouco efeito sobre a inflação”.

A exemplo de Zeina Latif, Quadros acredita que o BC elevou o juro como prevenção. “Mas mirando um possível reajuste do preço de combustíveis”, disse ontem, em São Paulo, durante a apresentação do resultado do IGP-M de outubro, que subiu 0,28% em outubro, após 0,20% de setembro.
Ao contrário do IPCA, em 12 meses o Índice Geral de Preço Mercado (IGP-M) mantém a trajetória de queda. Nos 12 meses encerrados em outubro, a alta é de 2,96%.

Salomão Quadros explica esse descasamento pelo peso que os três indicadores que compõem o IGP-M têm. Ele lembra que o Índice de Preços por Atacado (IPA) tem um peso de 70% no índice, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor (mais semelhante ao IPCA) pesa apenas 20%. “A vantagem para o IGP-M neste ano é que os preços de commodities agrícolas e minerais — captadas pelo IPA — tiveram desvalorização muito grande ao longo do ano, derrubando o indicador. O preço do minério, por exemplo, teve uma queda de quase 40% em 2014, enquanto a soja caiu quase 20%. Entretanto, essas quedas não são carregadas para o IPC, porque a participação desses insumos no produto final que será consumido é muito pequena", explicou.

Isso explica também o reajuste de aluguel de outubro ser o mais baixo desde abril de 2010, quando o IGP-M alcançou 2,88% em 12 meses. “Quem teve reajuste de aluguel neste segundo semestre, foi beneficiado, já que o índice tem se mantido abaixo da inflação medida pelo IPCA. Entretanto, já houve períodos em que foi o contrário. No médio prazo eles acabam se compensando”, disse. Quadros.

Em outubro, os três indicadores que compõem o IGP-M exerceram pressão de alta. O IPA-M saiu de 0,13% em setembro para 0,23% em outubro. Em igual base de comparação, o IPC-M foi de 0,42% para 0,46%; e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M), de 0,16% para 0,20%.

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