Por bruno.dutra

Rio - Após desacelerar na passagem de novembro para dezembro, o Índice de Preços ao Produtor (IPP), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou deflação de 0,13% no mês de janeiro — variação mais baixa em seis meses. Em novembro, o indicador havia avançado 1,06% e, em dezembro, perdeu fôlego e ficou em 0,59%. Para analistas, por trás do desaquecimento da inflação ao produtor, está o tombo dos preços dos insumos à indústria, especialmente o petróleo e o minério de ferro, e a perda de ritmo do mercado de trabalho, com menor pressão dos salários.

Com a retração de janeiro, o indicador, que mede a evolução dos preços dos produtos na porta da fábrica (sem impostos e fretes) de 23 setores da indústria de transformação passou a acumular nos últimos 12 meses alta de 2,85%, abaixo dos 4,46% verificados para o indicador em dezembro. Na análise mensal, observa-se que as maiores retrações aconteceram em setores que têm o petróleo em sua base de produção ou que são intensos no uso de mão de obra.

Nas indústrias de outros produtos químicos houve deflação de 2,30%. Assim como a atividade de refino de petróleo e produtos de álcool, com retração de 1,43%. Houve queda de custos também na indústria de confecção de artigos do vestuário, com o IPP registrando baixa de 2,23%; alimentos, com retração de 0,52%; e calçados e artigos de couro, que caiu 0,43%.

Economista da RC Consultores, Thiago Custódio Biscuola aponta que os salários dos trabalhadores na indústria tëm apresentado retração em termos nominais desde o segundo semestre de 2014. A queda explicaria parte dessa menor pressão nos custos de produção revelado pelo IPP, especialmente nas atividades que tem mais trabalhadores, como vestuário, calçados e alimentos.

“Em 2014, o índice de salário nominal médio da indústria, medido pela Federação das Indústria de São Paulo (Fiesp), caiu 2,7%, frente a 2013”, cita Biscuola, que chama a atenção também para a menor pressão das commodities, com a redução dos preços do petróleo e do minério de ferro.

“Na passagem de dezembro para janeiro, o preço do barril do petróleo caiu 20%. Soma-se a essa queda o recuo nos preços do minério de ferro, de 12,7%, que impacta no valor do aço, e do alumínio, de 5,6%. Os insumos estão mais baratos, o que ajuda nessa redução dos custos que, no entanto, deve ser passageira”, avalia o economista, referindo-se às pressões do aumento da energia elétrica e também dos combustíveis, que devem aparecer de forma mais intensa e generalizada no IPP a partir de fevereiro.

Para as atividades que usam intensamente energia no processo de produção, não foi possível driblar a pressão do aumento nas tarifas. A indústria de produtos de metal, por exemplo, saiu de uma alta de 0,58% em dezembro para uma expansão de 1,60% em janeiro. Assim como a têxtil, que depois da retração de 0,32% em dezembro, avançou 1,33% em janeiro.
Do ponto de vista do consumidor, a queda de 0,52% do IPP de alimentos é indicativo de alívio no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

“A deflação hoje no atacado significa inflação baixa no varejo em dois meses. E para a atividade de supermercados é uma ótima notícia: logo os alimentos, que ficaram tão pressionados em 2014”, afirma o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes. Para o especialista, no entanto, o aperto do orçamento das famílias por causa dos preços administrados e dos juros, a alta do dólar e o aumento do custo com energia devem tornar mais difícil ao comércio manter o ritmo de deflação.

“Espero apenas uma inflação baixa no varejo. O cenário não ajuda o empresário a subir preços. A decepção com o ambiente econômico é latente”, diz Bentes. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio da CNC, divulgado ontem, atingiu 100,6 pontos, o pior patamar da série e o mais próximo do campo negativo, abaixo dos 100 pontos.

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