Por monica.lima

São Paulo - Encerrado o primeiro bimestre do ano, o temor de que o desemprego comece a crescer como resultado da baixa atividade econômica ainda não se concretizou. Como mostra a pesquisa de emprego e desemprego (PED) da Fundação Seade e Dieese, a taxa de desemprego total na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) passou de 9,9% em dezembro para os atuais 9,8% em um movimento considerado usual para o período.

“Essa relativa estabilidade de janeiro se deu mais pela redução da População Economicamente Ativa (PEA) do que pela criação de emprego”, afirma o coordenador de Análise da Fundação Seade, Alexandre Loloian. Em janeiro, 45 mil pessoas saíram da força de trabalho da região, ou -0,4%, movimento ligeiramente mais intenso do que o verificado no nível de ocupação, que teve eliminação de 30 mil postos de trabalho. “Isso mostra que mais gente está deixando de procurar trabalho e que continuou o processo de demissões”, explica Loloian.

O técnico da Fundação Seade afirma que, a exemplo do que ocorreu no ano passado, foi o setor de serviços que segurou o emprego neste início de ano. Em janeiro, o setor gerou 32 mil vagas, variação de 0,6% sobre dezembro. Já o comércio fechou 24 mil vagas e a indústria criou 24 mil.

“O setor de serviços é que está segurando o nível de emprego. Depois de fechar vagas em novembro e dezembro, o segmento se recuperou em janeiro e está, inclusive, acima do nível de igual mês de 2014, com quase 100 mil pessoas a mais empregadas”, diz Loloian.

Mesmo serviços gerando mais vagas do que os outros setores, Loloian diz que é difícil analisar se está ou não ocorrendo uma migração das pessoas para determinadas atividades. “Sempre ocorre uma migração, mas não conseguimos identificar quantas pessoas deixaram a indústria, por exemplo, e agora estão em serviços.”

Segundo ele, um dado que causou surpresa neste início de ano foi a criação de vagas na indústria. “Ocorre que estamos em um nível de ocupação bem abaixo do que foram janeiros anteriores, especialmente na indústria. Talvez o setor já tenha feito o ajuste mais pesado”, diz Loloian.

Tanto é assim que no primeiro mês deste ano, o estoque de pessoas empregadas na indústria era de 1,635 milhão — 110 mil pessoas a menos do que em janeiro de 2013, por exemplo. Em igual mês do ano passado eram 1,659 milhão e, em 2013, 1,745 milhão de pessoas. Ou seja, de janeiro de 2013 para agora, foram fechadas 110 mil vagas apenas na indústria.

Por regiões, a PED aponta que a taxa de desemprego total manteve-se relativamente estável na cidade de de São Paulo, passando de de 9,7% em dezembro para 9,5 % em janeiro e reduziu-se na região do ABC, que concentra grande parte do PIB industrial, de 10,9% para 10,4% no período.

Ainda assim, a indústria puxou para baixo o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado de São Paulo em 2014. Segundo a Fundação Seade, o PIB paulista teve retração de 1,9% em 2014, em relação a 2013. O PIB industrial caiu 5,3% em igual comparação, enquanto o agropecuário teve queda de 6,3% e o de serviços se retraiu 0,5%. Em 2013, a economia paulista cresceu 1,9%.

Fim da desoneração não deve intensificar demissões

Em relação ao projeto de lei que põe fim às desonerações da folha de pagamento, Loloian diz qualquer diminuição do rendimento causa insatisfação, a exemplo do que ocorre quando a tabela do imposto de renda para pessoa física não tem a correção desejada. E com os empresários não é diferente. Ainda assim, acha difícil afirmar se isso poderá ampliar o desemprego.

“Nenhum empresário abre mão do seu mercado por causa de um novo tributo ou o aumento de um já existente. O que garante o crescimento do emprego é o crescimento da economia. É muito difícil dizer se o fim das desonerações irá aumentar o movimento de demissões”, afirma.

Para ele, fatores de incerteza quanto aos rumos da economia pesarão muito mais nesse movimento do que o aumento da alíquota do imposto. Loloian comenta que as variáveis que podem afetar o mercado de trabalho este ano incluem o ajuste fiscal adotado pela nova equipe econômica.

“Temos um primeiro trimestre atípico, com promessas de ajustes que tendem a arrefecer o nível da atividade econômica.” Ele também cita o risco de racionamento de água e energia, que provavelmente fará o empresariado adiar decisões de investimentos e de contratações.

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