Por monica.lima

São Paulo - Foi-se o tempo em que ficar desempregado por um período longo, próximo de um ano, era a regra, e não a exceção. No início dos anos 2000, o prazo para uma pessoa se recolocar era de quase 11 meses; agora, é de pouco mais de seis meses. Entretanto, a taxa de desemprego oculto — em que as pessoas exerceram algum trabalho de forma irregular, os “bicos”, enquanto procuravam ocupação — piorou muito, principalmente pelo maior tempo no desemprego. Essas são algumas das conclusões de um estudo da Fundação Seade sobre os 30 anos da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da região metropolitana de São Paulo.

“Tivemos importantes melhorias, a começar pela taxa de desemprego, que diminuiu muito nesses 30 anos, tanto a total, quanto a oculta. Mas é preciso investigar melhor o que causou a piora do cenário para quem fica no desemprego oculto”, afirma a analista de mercado de trabalho da Fundação Seade Leila Luiza Gonzaga.

Ela explica que, ao longo dos 30 anos de pesquisa, a taxa de desemprego total (desemprego aberto mais oculto) recuou a patamares próximos aos do início da série histórica. Para Leila, isso se deveu principalmente à redução da taxa de desemprego oculto (de 4,1%, em 1985-86, para 2,1%, em 2012-13), já que a taxa de desemprego aberto — busca de emprego sem exercer qualquer tipo de trabalho, inclusive “bico” — cresceu de 6,7% para 8,5% de 1985 a 2013.

“Esses movimentos refletem um mercado de trabalho menos desestruturado, em que a característica principal do desemprego passou a ser, mais fortemente, a do período em que as pessoas procuram ativamente trabalho entre uma ocupação e outra, e não mais a recolocação em si”, diz Leila.
Por faixas de tempo de procura por trabalho, a proporção de desempregados distribui-se principalmente nos intervalos de tempo mais curtos, apresentando maior concentração na faixa de 2 a 6 meses. Entretanto, enquanto a parcela de menos de 2 meses de procura se reduziu fortemente nesse período, as de 6 a 12 meses e acima de 12 meses aumentaram muito, especialmente entre aqueles na situação de desemprego oculto.

Em 1985, as pessoas que passavam menos de 2 meses procurando emprego eram 29% do total de desempregados; em 2013, caíram para 14,8%. Entre os com mais de 12 meses, passaram de 9,9% para 13,8% e, acima de 6 meses até 12 meses, de 16,8% para 13,8%.

Esse é o caso de Alessandra Cruz de Souza, formada em Psicologia e desempregada há 10 meses. Moradora da Zona Sul de São Paulo, Alessandra conta que sua última colocação com carteira assinada foi em uma administradora de condomínio. “No ano passado, por conta da dificuldade que o mercado imobiliário entrou, a empresa foi vendida e a nova administração optou em demitir aqueles com maiores salários. Perdi o emprego depois de quatro anos e meio.” Desde então, Alessandra não consegue uma recolocação e acha que o impedimento é o salário, na faixa de R$ 4,5 mil a R$ 6 mil. “Em novembro e dezembro, fiz um bico em uma doceria portuguesa na área de seleção, mas era por tempo determinado, sem registro em carteira e sem nenhuma expectativa de efetivação”, diz.

Embora dentro do perfil de desempregados por longo período, Alessandra é considerada um ponto fora da curva. Segundo Leila, da Fundação Seade, as pessoas com curso superior completo ou com fundamental incompleto são as que conseguem se recolocar mais rapidamente: “As que permanecem mais tempo fora do mercado formal são as que têm ensino médio completo e superior incompleto, justamente as que refletem o perfil da população brasileira”.

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