Por monica.lima

Brasília - O Banco Central (BC) traçou um quadro alarmante para a inflação e para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, mas, ao mesmo tempo, revelou estar mais confiante com o cenário econômico esperado para os próximos anos. A avaliação dos analistas é que o mais recente relatório de inflação, divulgado ontem, deixa claro que a autoridade monetária trabalha com dois cenários distintos: para o curto prazo, as notícias são as piores possíveis; mas, a partir de 2016, a tendência é de melhora gradual dos fundamentos econômicos, o que depende, porém, da capacidade do país de atravessar as turbulências esperadas para este ano.

E não são poucos os desafios pela frente. Diante do aprofundamento da debilidade econômica, o BC avalia como alta a probabilidade do PIB retrair-se por dois anos consecutivos, em 2014 e 2015, indicando um cenário de recessão ainda mais intenso do que o esperado pela maioria dos analistas. Em dezembro do ano passado, mesmo diante das evidências de que a economia havia decaído a um vale, a autoridade monetária projetava leve expansão da atividade econômica, de 0,2%. Agora, a estimativa foi revisada para uma queda de 0,1%.

O cenário para este ano é ainda mais preocupante: tombo de 0,5% do PIB, o pior desempenho em 25 anos. Mas, por mais alarmante que seja essa projeção, ela ainda é considerada otimista diante da queda esperada pelo mercado financeiro para 2015. “O fato é que a retração do PIB será bem mais forte do que o BC está projetando”, assinalou o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, que prevê retração de 1,5% na atividade.

O BC considerada as projeções “realistas”, mas avalia que é preciso garantir a retomada do crescimento mais forte no longo prazo, o que depende, segundo explicou o diretor de Política Econômica, Luiz Awazu Pereira, do restabelecimento dos indicadores de confiança. “Chegamos a um platô em termos de crescimento e temos agora que fazer ajustes para que possamos ingressar em uma nova fase de crescimento mais sustentado.”

A avaliação igualmente dura também foi feita para o custo de vida. Diante da intensificação das pressões inflacionárias este início de ano, combinadas à escalada do dólar, a tendência é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avance 7,9% em 2015, o maior patamar desde 2003. Em outras palavras, significa que o BC já prevê o estouro da meta de inflação, conforme antecipou o Brasil Econômico  na segunda-feira.

Mas, se o curto prazo preocupa, o mesmo não se pode dizer do futuro. Em sintonia ao que disse o presidente do BC, Alexandre Tombini, na terça-feira,a autoridade monetária está confiante que conseguirá trazer o IPCA para 4,5% ao fim de 2016, o que não acontece desde 2009. O problema, dizem analistas, é que parte relevante da tarefa de derrubar o custo de vida não será exercida pela ação “vigilante” do BC, mas sim por fatores imponderáveis, aos quais o BC tem pouca ou nenhuma capacidade de influência.

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Ao repetir o discurso de Tombini, Awazu listou fatores que, combinados, contribuiriam para dissipar pressões inflacionárias deste início de ano e garantiriam o cumprimento da meta em 2016. São eles: a política monetária; o fortalecimento da política fiscal; o realinhamento de preços relativos (em especial reajustes de contratos administrados e a elevação do dólar); o mercado de trabalho mais fraco, resultado do aumento do desemprego e menor expansão de salários; e a retração da economia e o menor repasse do câmbio para a inflação por causa da queda de preços de commodities.

Estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno é enfático: embora todos esses fatores possam, de fato, ajudar o BC a trazer a inflação para baixo, somente uma ação mais firme por parte da política monetária convencerá o mercado de que os tempos de preços altos ficaram no passado. Para ele, as expectativas de inflação para 2016 estão atualmente em 5,6% mesmo considerando mais uma elevação da Selic, de 0,25 ponto percentual, para 13% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Não por outro motivo, Awazu finalizou: “Apesar de reconhecer que existem progressos na convergência na expectativa de inflação para a meta ao longo de 2016, isso me parece ainda insuficiente. 

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