Por monica.lima

O gargalo logístico do setor de petróleo é um dos trunfos da Prumo Logística Global para finalmente virar o jogo no Porto do Açu, o gigantesco empreendimento desenvolvido por Eike Batista em São João da Barra (RJ), que viveu tempos sombrios após o estouro da crise do grupo X. Em fase final de obras, o terminal de transbordo de petróleo tem início de operações previsto para o ano que vem, contribuindo com uma receita anual de até R$ 100 milhões para o projeto. Com os recursos, a empresa passa a gerar caixa suficiente para começar a reduzir sua dívida de R$ 3 bilhões. “É o nosso grande pulo do gato”, diz o presidente da empresa, Eduardo Parente.

“Cliente óbvio” do porto, nas palavras de Parente, a indústria do petróleo desponta como a atividade com maior potencial de crescimento neste momento, uma vez que o projetado polo siderúrgico caiu por terra após a crise internacional. Atualmente, duas fabricantes de dutos submarinos (Technip e National Oilwell Varco), uma de motores para navios (Wartzila) e uma de serviços de ancoragem (Intermoor) já estão em operação no terminal 2. A operadora portuária Edison Chouest, que tem contrato para prestação de serviços para a Petrobras, toca as obras de construção de seu cais.

Os clientes instalados garantem à Prumo uma receita anual de R$ 100 milhões com aluguel. Já o terminal de minério, em funcionamento desde outubro do ano passado, acrescenta R$ 300 milhões. “Fazendo uma conta absolutamente de padaria, começamos a poder pagar dívida na hora em que passarmos de R$ 400 milhões em receita. E a gente já vê isso acontecendo no curto prazo”, diz Parente. A perspectiva reside na projeção de receita de R$ 100 milhões com o terminal de transbordo de petróleo, operação conhecida como ship to ship, que consiste em passar a produção de navios aliviadores (que retiram o óleo das plataformas) para grandes petroleiros, que levam a commodity para exportação.

O gargalo na infraestrutura para este tipo de operação leva parceiras da Petrobras no pré-sal, como a BG, ao Uruguai, em uma viagem que dura três ou quatro dias a mais em cada trecho. Este mês, o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Inea) revogou a licença para operações ship to ship em Angra dos Reis, reduzindo ainda mais a capacidade brasileira. “No cenário atual, de exportação de 500 ou 600 mil barris por dia, as soluções disponíveis funcionam. Com 2 milhões de barris por dia de exportação, o Brasil não poderá contar só com elas”, comenta Parente, que diz negociar contratos com quatro petroleiras que atuam no país.

Localizado ao lado do terminal de minério de ferro, o terminal de transbordo do Porto do Açu terá capacidade para movimentar até 1,2 milhão de barris por dia, o equivalente a metade da produção brasileira atual. A previsão é que as obras sejam concluídas no final deste ano. “É uma coisa muito importante para o nosso plano de negócios e, quanto mais rápido entrar, melhor para a gente”, afirma o executivo, que na quinta-feira da semana passada teve outra boa notícia: a confirmação de parceria com a gaúcha Bolognesi para a implantação de um complexo com térmica e terminal de gás natural liquefeito (GNL) no porto.

A ideia é repetir o modelo desenvolvido pela Bolognesi para o leilão de energia nova do ano passado, quando a empresa teve dois projetos contratados pelo governo, um no Rio Grande do Sul e outro em Pernambuco. O acordo prevê uma primeira usina, com potência de até 1,4 gigawatt (GW), que viabiliza o terminal de GNL. “A partir daí, podemos atrair mais duas usinas, o que vai garantir uma demanda de até 15 milhões de metros cúbicos por dia, o que cria a demanda para viabilizar a chegada de gás nacional produzido em alto mar”, explica Parente.

Com os terminais de minério de petróleo já encaminhados, a Prumo trabalha para deslanchar outros empreendimentos no porto. O terminal de contêineres está em negociação com dois operadores especializados e a companhia conversa com traders de soja para tentar atrair carga que hoje é destinada aos abarrotados portos de Santos e Paranaguá. São os clientes “desesperados por infraestrutura”, na classificação de Parente, que vende o projeto como uma solução aos gargalos nos maiores portos brasileiros. Ele adianta ainda que está em negociações avançadas com uma montadora de automóveis, que analisa locais para se instalar no Brasil.

No porto, o vai e vem de caminhões carregados indica que o pior da crise, que chegou a paralisar quase completamente as obras em 2013, está passando. As grandes obras de infraestrutura devem ser concluídas este ano, gerando um alívio de caixa na empresa, após investimentos já realizados de R$ 7,6 bilhões. O orçamento de 2015 prevê investimentos de R$ 1 bilhão, quase metade do ano passado, parte em execução física e parte para o pagamento de fornecedores que tiveram que desmobilizar pessoal e equipamentos durante o período crítico. “O risco do negócio é hoje bem menor”, diz o executivo.

O retorno aos acionistas — a controladora EIG colocou R$ 1,9 bilhão desde que entrou no projeto — porém, ainda deve demorar. “A gente gostaria de fechar 2016 com fluxo de caixa positivo, mas não sei se vai dar. Mas estamos otimistas para o ano seguinte”.

5 MINUTOS
EDUARDO PARENTE
Presidente da Prumo Logística Global

‘O inverno está acabando, estamos chegando à primavera’

1. Qual a previsão de conclusão das obras?

Não vai acabar nunca. Se olharmos o porto de Tubarão, que é do início dos anos 70, há obras até hoje. E vai continuar. Então, não tem uma data para acabar. O que acontece agora é: as grandes obras já acabaram ou estão acabando. A infraestrutura básica, o grande gasto de capital para botar de pé, para a gente conseguir operar, está praticamente pronta. Um dia um político me perguntou: não tem uma coisa aqui para a gente inaugurar? Eu disse que ele pode voltar aqui mensalmente pelos próximos 30 anos que vai ter coisa para inaugurar.

2. O porto já começa a gerar receita. Há alguma previsão de chegar a fluxo de caixa positivo?

Estamos em uma situação bem mais confortável. O take or pay da Anglo na Ferroport já entra cheio este ano (no ano passado entrou por apenas quatro meses) e tem cliente que entrou no ano passado com um ano de carência e agora começa a pagar. A base de apoio da Edison Chouest, que tem contrato com a Petrobras, muda completamente todas as conversas para atrair novos parceiros. O terminal de transbordo de petróleo não opera este ano ainda, mas esperamos ter boas notícias de contratos de longo prazo em breve. Na hora em que o porto está pronto, a situação comercial fica muito mais simples.

3. A evolução financeira do projeto é comum para um empreendimento deste porte ou foi prejudicada pela crise?

Difícil encontrar um projeto deste porte para comparar. Tem projetos grandes, como Belo Monte e a duplicação de Carajás, mas um projeto de uso público financiado com capital privado, não tem. As pessoas comparam com Suape, mas é uma realidade muito diferente, apesar de ser o mesmo conceito de complexo porto-indústria. Suape avançou com dinheiro do governo, em um ritmo bem mais lento, e está em uma região que não tem um cliente gigantesco como o petróleo. O que dá para dizer é que temos equacionado os fundos. A gente tem um desafio muito grande hoje, que é alongar a dívida. As duas coisas que tomam meu tempo hoje são arrumar clientes e trabalhar no alongamento da dívida. Mas a gente sabe de onde os fundos vêm, sabe o que falta fazer... Os anos negros, o inverno está acabando. Estamos chegando à primavera.

4. Mas ainda é preciso resolver a infraestrutura de acesso...

A BR 101 tem uma concessionária muito competente, que é a Arteris. E estamos trabalhando junto à Firjan, a Arteris e a secretaria de transportes do Estado no sentido de incorporar à concessão um ramal, com o qual a gente rapidamente conseguiria construir um acesso muito melhor do que o atual, sem desembolso de dinheiro público. Com a ferrovia, dentro do plano ferroviário do PIL (Programa de Investimentos em Logística)existe a possibilidade de concessão da ferrovia Rio-Vitória. E tem uma série de ferrovias com atuação na região, MRS, VLI, que estão com contratos vencendo no médio prazo e eventualmente poderiam ter o interesse em realizar este investimento, em um processo de prorrogação de concessão. Estou muito otimista, acho que vamos ter bons acessos terrestres em um prazo de tempo relativamente curto, antes de engargalar nosso acesso atual.

5. A crise econômica atrapalha de alguma forma?

É até surpreendente, porque é um momento difícil da economia, com as empresas repensando investimento... Mas por outro lado, a gente está pronto. Então, as minhas conversas são muito mais fáceis do que há um ano.

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