Rio - A escalada da inflação de alimentos e bebidas tem acirrado a atenção dos consumidores para a economia. Enquanto nos últimos 12 meses até maio o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou alta de 8,47%, o IPCA dos alimentos teve um avanço de 8,8%. Nessa disputa pelo menor preço, ganham as redes que misturam atacado e varejo — o atacarejo.
De janeiro a abril deste ano, comparado a igual período de 2014, os atacarejos cresceram 7,5% em volume de vendas, de acordo com pesquisa da consultoria Nielsen. O percentual é superior ao registrado em 2014, quando houve um avanço de 5,3%, frente aos primeiros quatro meses de 2013. Já em termos de faturamento, a expansão este ano foi de 5,8%, descontada a inflação.
Parte desse crescimento está ligado a uma maior participação das famílias, que aumentaram em 7% a frequência nos atacarejos e também o gasto de compra. O tíquete médio em reais cresceu 8%, também no período de janeiro a abril deste ano, comparado aos primeiros cinco meses de 2014.
“Há tendência de crescimento dos atacarejos. Mas, com o bolso mais restrito, seja pela inflação ou pelo endividamento, essas lojas passaram a ser vistas como alternativas de compra também para as famílias”, avalia o diretor de Atendimento de Varejo da Nielsen, Olegário Araújo.
O sucesso das redes de atacarejo se deve, também, à maior oferta. Enquanto em 2010 havia 309 lojas dessa modalidade no país, em abril deste ano o total saltou para 401. “Há mais famílias descobrindo o atacarejo. Esse movimento ocorre também porque, hoje, no bolso do brasileiro, tem que caber além dos itens essenciais um consumo mais qualificado, como o smartphone”, observa Araújo.
Com 87 lojas no país, a rede Assaí, do Grupo Pão de Açúcar, já inaugurou, só neste ano, três novas unidades e conta com mais seis em construção. Presidente da rede, Belmiro Gomes também enxerga que o segmento de atacado de autosserviço vem se consolidando como uma alternativa econômica no abastecimento das famílias. “Dependendo do produto, é possível conseguir o preço de atacado na compra a partir de uma quantidade mínima, o que é bastante atrativo para o consumidor final”, diz o executivo.
“Mesmo em um cenário econômico desafiador, o setor consegue ter um desempenho favorável por oferecer esse diferencial”, acrescenta Gomes. A Nielsen calcula que a economia média dos itens vendidos chegue a 12%.
Do grupo Carrefour, a rede Atacadão também planeja manter os investimentos previstos no seu plano de negócios. Só em 2014, a rede inaugurou 13 lojas. Hoje são 115 unidades de autosserviço e 20 centrais de atacado.
Na contramão da expansão do atacarejo, o varejo tradicional de alimentos sente os impactos da retração na demanda. As vendas dos supermercados no acumulado de janeiro a maio tiveram um crescimento em valores reais de apenas 0,59%, segundo dados divulgados ontem pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras). É o menor percentual, no acumulado do ano, desde março de 2014, quando o setor atingira retração de 0,57%.
O mesmo cenário de baixo crescimento se dá no atacado. Com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fabio Bentes identificou que o atacado está perdendo espaço. “Se tomarmos a geração de vagas como um termômetro do nível de atividade, percebemos que o ritmo de criação de vagas no ramo atacadista de alimentos nos últimos 12 meses encerrados em maio além de ser o menor da série histórica (+1,6%), é metade do varejo (+3,2%)”, afirma Bentes.
Para o economista, embora seja difícil precisar o nível de atividade dos atacarejos, pode-se entender que essa modalidade também têm ganhado espaço no mercado. “Diante da retração na demanda, o varejo pode estar usando das estratégia do atacado, como o aumento dos estoques e a compra direta com fornecedores, para reduzir o número de atravessadores e, assim, o preço dos produtos. É dentro dessa mesma lógica que o atacarejo está crescendo”, diz.