Por monica.lima

Professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), José Márcio Camargo faz uma análise dura da situação econômica brasileira. Para o especialista, que há 40 anos se dedica ao tema, as políticas adotadas pelos governos petistas nos últimos sete anos criaram um conjunto de desequilíbrios graves. E só com um ajuste forte, sem hesitações e feito ainda em 2015, é que o país conseguirá ter fôlego, a partir de 2017 — quando o desemprego já deverá estar perto dos dois dígitos. O economista faz questão de frisar que o governo Dilma Rousseff não está fazendo superávit primário apenas porque quer: “Se não fizer, a trajetória da relação dívida-PIB será insustentável”. Chegaríamos, então, à mesma situação da Grécia, acrescenta. O risco, para Camargo, está mais perto do que se imagina. E ele alerta que o governo “dá sinais de que está diminuindo o compromisso com o ajuste”, referindo-se ao Programa de Proteção ao Emprego e à mudança no crédito consignado.

O Partido dos Trabalhadores vai alcançar seu pior momento em termos de emprego e renda neste seu quarto ano de governo. Como o sr. vê este momento e os efeitos do ajuste fiscal?

As políticas adotadas pelo governo nos últimos sete anos conseguiram criar um conjunto de desequilíbrios extremamente importantes. O primeiro deles, um desequilíbrio fiscal muito forte. Hoje o país precisaria de um superávit primário de mais de 13,5% do Produto Interno Bruto (PIB). O que se tem é déficit primário de 0,7% do PIB. A relação dívida-PIB aumentou quase 10 pontos de porcentagem ao longo desses quatro anos. Hoje temos uma relação dívida-PIB próxima a 65%. Se fizermos uma conta simples você vai ver que na atual situação essa dívida é insustentável. Temos uma taxa de juros real próxima a 6%, em uma dívida de 65% do PIB. Só aí você tem quase 4 pontos de porcentagem de crescimento dessa relação. Então você vai sair de 65% para 69%. O PIB vai cair 1,5 ponto de porcentagem e aí vai para 70,5%. Suponha que se consiga fazer 1 ponto de porcentagem de superávit, logo chegamos a 70% de relação dívida-PIB. O que é muito alto. Para tornar a evolução da dívida sustentável será preciso fazer um superávit primário muito alto também. Logo, o governo não está fazendo um superávit primário porque ele quer, e sim porque, se ele não o fizer, a trajetória da relação dívida-PIB será insustentável.

Isso aconteceu com outros países?

Temos os exemplos reais da Grécia e dos países periféricos europeus, em que a relação dívida-PIB se tornou insustentável. O segundo desequilíbrio que foi criado no Brasil ao longos desses últimos sete anos foi o fato de a demanda ter crescido muito mais rapidamente do que a oferta, o que gerou uma taxa de inflação extremamente elevada. Na verdade, o Banco Central foi conivente com uma inflação alta, num período em que se tinha taxas acima da meta, algo em torno de 6%, 6,5% ao ano, quando a meta era de 4,5%. E até esse valor foi conseguido via controle de preços administrados, intervenção na taxa de câmbio e valorização cambial. Se tivessem reajustado os preços administrados em uma posição de equilíbrio, a taxa de inflação já estaria acima da banda de tolerância há muito tempo. Esse desequilíbrio passou a ser consertado agora, com a correção drástica dos preços administrados. O preço da energia já subiu quase 50% este ano e isso vem provocando uma pressão inflacionária extramente forte. E, ao mesmo tempo, o BC está tendo que aumentar juros, caso contrário não se vai conseguir reduzir a taxa de inflação para números próximos a 4,5% — e não falo nem de 2016, me refiro a 2017, 2018...

E qual é o terceiro ponto?

Houve três elementos significantes. Primeiro, observamos uma redução das taxas de juros, em 2011; depois uma queda do superávit primário; e, logo em seguida, um aumento das concessões de crédito pelos bancos públicos. Esses três efeitos geraram um excesso de demanda na economia que, além de provocar uma pressão inflacionária, em parte gerou também a redução da taxa de desemprego a níveis claramente insustentáveis, a níveis próximos de 4,5%. Em outras palavras, com taxa de desemprego de 4,5% da força de trabalho, a taxa de inflação do setor de serviços vai girar em torno de 9% a 10% ao ano. Basta olhar o dado atual.

Como se estrutura essa relação entre desemprego e inflação?

O que há é uma relação muito forte entre a taxa de desemprego e a inflação de serviços. Quanto menor é a taxa de desemprego, maior é a inflação de serviços. Isso acontece porque o salário real aumenta, a renda aumenta e as pessoas passam a consumir mais. Quanto mais renda a pessoa tem, mais ela compra serviços e menos bens industriais. Como o preço dos serviços depende basicamente de oferta e procura interna, e como a taxa de investimento no país é baixa, o crescimento da oferta não foi suficiente para atender ao aumento da demanda. Nos bens comerciáveis esse problema existe menos. Porque o preço de um bem comerciável é igual ao preço dele lá fora, vezes a taxa de câmbio. Então, a taxa de inflação dos comerciáveis é a taxa de inflação lá fora, vezes a desvalorização cambial. Como se estava segurando o câmbio com a venda de swaps e a inflação lá fora é zero ou negativa, logo a inflação dos bens comerciáveis é muito baixa. Toda a inflação que temos hoje é uma inflação de serviços. Uma inflação extremamente difícil de se reduzir.

Por que?

Como depende muito da taxa de desemprego, e como a taxa de desemprego é a última variável a reagir a uma redução do nível de atividade, o tempo de começar um processo de ajuste da economia e o momento em que esse processo de ajuste chega no mercado de trabalho (via aumento do desemprego e redução de salários) é muito longo. De 10 a 12 meses para se chegar lá com toda a força. Logo, começou-se a ter um efeito sobre o desemprego agora neste ano, mas só vai se ter um impacto sobre a inflação de serviços lá para meados do ano que vem. Isso torna o processo extremamente doloroso. Ou se faz isso, ou se vai ter uma taxa de inflação muito mais elevada. Isso cria um terceiro desequilíbrio que nós não temos como não resolver. Ou se resolve via política econômica, ou o mercado resolve para você, desorganizadamente: o desequilíbrio nas contas externas.

Em que sentido?

Nós temos um déficit em conta corrente de 4,5% do PIB, US$ 100 bilhões de dólares, que está caindo nos últimos meses por uma razão simples. O país vai ter uma recessão de 2% do PIB este ano. O que quer dizer que estamos diminuindo mais as importações do que as exportações. Isso quer dizer que estamos importando menos e exportando menos, porque a economia está em recessão. A única forma de realizar esse ajuste externo é fazendo com que os preços dos bens comerciáveis cresçam mais do que os preços dos bens não comerciáveis, que são os serviços, em 8% a 8,5% ao ano. O que se sabe é que, com esse déficit em conta corrente, em algum momento a taxa de câmbio vai se desvalorizar, o que vai gerar uma pressão inflacionária interna. Logo, se a inflação de serviços continuar em 8% na hora que vier a desvalorização cambial para resolver o desequilíbrio externo, a taxa de inflação vai ser de 2 dígitos. Logo, não há muita saída, infelizmente.

Como chegamos a este ponto? 

Tudo o que falei aqui não tem relação com uma crise internacional. Tudo está relacionado a uma política monetária e fiscal mal feita, e a uma política de crédito, de preços administrados e de câmbio equivocada. O cenário externo afeta, sim, a economia brasileira, mas ele só torna o ajuste mais difícil.

De que maneira?

Por exemplo, será preciso desvalorizar o real, fazer com que os preços relativos mudem em favor dos bens comerciáveis. Acontece que o real desvalorizou em relação ao dólar quase 100% nos últimos 12 meses. Mas não foi só o real que desvalorizou, todas as moedas de emergentes se desvalorizaram. Isso significa que a desvalorização que o real teve em relação a uma cesta de moeda de seus parceiros comerciais foi pequena. Logo, temos um cenário de dólar forte, que dificulta ainda mais o ajuste interno. Mas todo o problema foi criado por políticas econômicas equivocadas. Da mesma forma, o fato de a China estar em um processo complicado, gera queda nas receitas de nossas exportações. Como produzimos e vendemos matérias-primas para a China, o preço dos nossos bens comerciáveis está caindo. Logo, a desvalorização que a gente precisa é ainda maior.

Qual é a sua expectativa?

Estou muito pessimista para este ano e para os próximos dois anos. Minha expectativa é de queda do PIB próxima a 2% e taxa de inflação de 9,6%. Mas se for feito um reajuste da gasolina, chegará, possivelmente, aos dois dígitos. Mas esta necessidade de reajuste vai depender ainda do comportamento do preço da gasolina lá fora. E, dado o preço de ontem (segunda-feira), a gasolina aqui dentro tinha um valor defasado de 13%, comparada à comercializada lá fora. Além disso, há um problema no setor de energia que ainda não foi resolvido. As geradoras tiveram um déficit no ano passado de R$ 20 bilhões e estão repetindo esse déficit neste ano. Como choveu pouco, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) está despachando as termelétricas para poupar as hidrelétricas, mas isso significa que as hidrelétricas têm que comprar das termelétricas a energia que elas têm que fornecer. Como esta é uma energia mais cara, logo, gera-se esse déficit. São mais R$ 20 bilhões vindo aí; quem vai pagar essa conta, não se sabe — o consumidor, ou as empresas. O que se tem é um problema jurídico, pois as empresas já entraram com ações na Justiça e ganharam liminar para não serem responsabilizadas por esses custos.

E para 2016?

A nossa previsão é de uma inflação próxima a 6%, apesar da recessão. Já o crescimento será próximo de zero.

O sr. vê na crise econômica um reflexo direto da perda de confiança e credibilidade do governo?

Sem dúvida. No que toca à inflação, há dois problemas. O primeiro, é a falta de credibilidade da própria equipe do BC — uma equipe que aí está há cinco anos e que em nenhum momento, até janeiro de 2015, teve o compromisso de atingir a meta de 4,5% no ano. Logo, as pessoas não acreditam que a equipe que aí está tenha esse compromisso nos próximos anos. Independentemente do que o BC fala. Ele tem que fazer um esforço muito maior para chegar nos 4,5%, do que se fosse uma equipe que estivesse perseguindo sistematicamente a meta ano a ano, mas que, por efeitos externos a ele, não tivesse conseguido.

Mas a falta de credibilidade é um problema também do governo?

Sim. Os agentes (econômicos) confiam muito pouco naquilo que está sendo dito pelo governo.

Como o sr. vê essas o PPE (Programa de Proteção ao Emprego) e o aumento da parcela de crédito a ser usada no empréstimo consignado?

Há alguns sinais importantes de que está diminuindo o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. Os sinais menos sutis são o protagonismo do ministro Nelson Barbosa, e o pouco protagonismo do ministro Joaquim Levy, nos últimos 15 dias. Veja que, na viagem a Washington, o ministro Levy foi adoentado, ele não foi protagonista de nenhuma reunião importante. Todo o protagonismo foi do Barbosa. Como o ajuste fiscal foi arduamente defendido pelo Levy em grande parte, isso dá um sinal de que algo pode estar acontecendo. Mas há coisas menos sutis, como esse PPE. Eu li que, do ponto de vista fiscal, o programa não seria deficitário, porque o governo não vai deixar de arrecadar, pois vai diminuir o desemprego. Se for verdade, o governo deveria estender para todos — se é bom para as empresas, e para o trabalhador, porque não fazer isso definitivamente? O argumento para mim não parece racional. Eu fiz as contas e elas me dizem que, para que o gasto com o programa seja menor do que o que se gastaria com seguro-desemprego, é necessário, em média, que as empresas demitam mais de 30% dos seus trabalhadores. Se é essa a expectativa...

O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) teria estrutura para esse gasto?

E alguém parece estar preocupado com isso? O FAT financia tudo! Outro sinal de que o comprometimento com o ajuste fiscal está diminuindo é essa questão dos 30% do crédito consignado. Não seria apenas um problema de comprometimento com o ajuste, mas com o programa como um todo. Ao se aumentar de 30% para 35% o limite de crédito consignado e se justificar que será um dinheiro para ser usado apenas no cartão de crédito, não se considera que, ao pagar com cartão de crédito consignado, vai sobrar dinheiro para outra coisa. O que significa dizer que o BC vai precisar de uma taxa de juros maior para conseguir o mesmo efeito que conseguiria sem ter aumentado o consignado. A medida significou uma redução da taxa de juros de mercado. Se o BC tinha um objetivo, ele vai ter que aumentar esse objetivo. O que tem uma consequência fiscal importante. A taxa Selic, que o governo tem que pagar em seus títulos, necessária para gerar inflação na meta, hoje é maior do que ontem. Logo, o custo fiscal para o governo aumentou.

Então essa medida tem um impacto no ajuste fiscal?

Sim. A mesma coisa foi essa história de se criar uma banda para o superávit primário. É como se as pessoas não tivessem o mínimo de inteligência... Quando se cria uma banda para inflação, entende-se que quanto menor a inflação, melhor. Isso significa que é bom para o BC perseguir a meta. Mas quando se cria uma banda para o superávit, quanto maior o ajuste fiscal, pior para todo mundo, menos para o futuro governo. A pergunta é: quem vai perseguir o centro da banda e produzir mais do que o mínimo de superávit necessário? Logo, o mínimo de superávit vai se transformar na meta, óbvio. Tudo isso são sintomas de que o comprometimento com o ajuste fiscal está diminuindo. Sou pessimista, acho que eles não vão conseguir atingir os 1,1% de meta de superávit primário. Mas também acho que eles não devem mudar a meta agora.

Por que?

O efeito disso em termos de credibilidade e de esforço para se conseguir atingir a meta é enorme. Uma coisa é você ter uma meta de 1,1% do PIB e tentar alcançá-la até o final. Mas se você já diz, previamente, que vai ser só 0,3% do PIB... para quê fazer ajuste fiscal?

E a consequência disso...

Faz com que a credibilidade do governo se reduza ainda mais. E a probabilidade de se ter um rebaixamento do grau da dívida é muito alta e está aumentando rapidamente. Deve haver um rebaixamento ainda este ano das agências que estão a dois níveis acima do grau de investimento. Mas a probabilidade de se ter um rebaixamento com outlook negativo está aumento muito.

Num momento em que o cenário externo vai ter um aumento de juros nos EUA...

Seria um problema adicional. Eu fiz a conta da sustentabilidade da dívida com os juros que temos hoje, de 5% real ao ano, imagina se tivermos que voltar a pagar, como já precisamos no passado, uma dívida de 8% a 9% ao ano. A dívida fica insustentável. É esse o risco e é por isso que as agências diminuem as notas de risco dos países.

E o emprego, nesse cenário?

O mercado de trabalho está só no começo do processo. Nós vamos chegar a uma taxa de desemprego no final do ano próxima a 8% da força de trabalho (considerando a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE como indicador base) e a tendência é de continuar crescendo. Já os salários, considerando essa aceleração da inflação que prevemos, devem ter uma queda real de 4%. Se o governo persistir na tarefa de eliminar os desequilíbrios criados por ele no passado, vamos acabar chegando, no final de 2016, em uma taxa próxima a 11% da força de trabalho. Desde que se continue a perseguir uma inflação de 4,5% e um superávit primário de 2% e tentar equilibrar o setor externo. Num ambiente como este, se espera uma queda do salário nominal, sem descontar a inflação, próxima a 1%. É um processo extremamente doloroso, mas eu não conheço outra forma de resolvê-lo. No governo Fernando Henrique se fez um ajuste também, funcionou, a inflação foi para a meta. Quando o presidente Lula assumiu, no primeiro mandato, o ministro Palocci reforçou o processo de ajuste, e a coisa estava caminhando ótimamente, até que mudou a política econômica. É importante frisar que a taxa de desemprego é lenta para subir, como é lenta para cair. O mercado responde de forma lenta porque é difícil demitir e contratar.

Isso vai fazer com o desemprego chegue a seu pico perto das eleições presidenciais?

Em 2017 já teremos taxas de desemprego próximas a dois dígitos. Se tudo funcionar direito, positivamente, vamos chegar em 2018 começando um processo de recuperação. A economia começaria a sentir um alívio do ajuste feito em 2015, 2016 e 2017 — se tudo funcionar direito.

Qual seria a consequência de se desistir do ajuste?

Mais desemprego, mais inflação. O ajuste externo em algum momento o país tem que fazer, porque ele não emite dólar. Logo, se não for feito o ajuste, a sua relação dívida-PIB vai se tornar insustentável.

O governo está postergando o aumento do desemprego?

Acho difícil o governo conseguir segurar o desemprego, pelo fato de que a confiança dos empresários já caiu de tal ordem que ninguém hoje está disposto a investir. Se a situação se deteriorar ainda mais, aí é que os investimentos não vão existir mesmo. Logo, de onde virá o crescimento? Outro ponto que é preciso salientar é que toda a aceleração inflacionária gera queda real de salários. E esse movimento é inevitável. Os salários não acompanham a inflação, nunca. Os salários só não perdem quando a inflação pára de subir, ou cai. Logo, se não se fizer o ajuste, a inflação vai subir e os salários vão cair.

A presidenta está convicta da necessidade do ajuste?

Não sei te responder. O discurso dela antes de 1º de janeiro de 2015 e depois mostra pessoas diferentes. Totalmente esquizofrênico, no meu ponto de vista. Não sei se ela mudou por convencimento. Acho difícil que ela tenha mudado tanto em tão pouco tempo. Por isso é que fico preocupado se eles vão levar esse processo até o fim.

Alguns economistas dizem que o custo do ajuste é muito alto...

Não dá para entender... Tem gente que acha que o ajuste pode ser empurrado com a barriga. Quem vai comprar os títulos da dívida brasileira, se a taxa de juros for menor do que é? O país tem que financiar sua dívida. Quando a taxa de juros é baixa, o preço do título é alto. Para que tenha quem compre, o comprador vai ter que acreditar muito que o governo vai pagar — caso do título do governo americano, que paga 2,5% ao ano, mas é o mais seguro do mundo. Se você tem um título brasileiro, que pague 1,5% ao ano, por exemplo, como em 2012, quem vai comprar? Quem determina o preço do mercado, é o mercado.

O sr. acredita que a Operação Lava Jato possa gerar mais efeitos sobre o desemprego?

Essa projeção que fizemos independe da Lava Jato e essa operação só piora a situação do emprego. As empreiteiras envolvidas terão muitas dificuldades para se desfazer de obras do governo. As empresas estão em uma situação financeira bastante difícil. O segundo ponto é que uma série de obras estão sendo paralisadas, como em Itaboraí, por exemplo, onde shoppings e outros empreendimentos foram parados. No Rio, parte grande das obras das Olimpíadas está com essas empreiteiras. Realmente não sei o que vai acontecer. Além de tudo, há o fato de que essas empresas têm dívidas monumentais com bancos brasileiros. O que significa que esses bancos terão que fazer uma provisão para esses devedores, levando, assim, a uma restrição ainda maior de crédito.

O sr. espera que o BC mantenha a trajetória de alta da Selic?

A pergunta é: o BC quer manter o compromisso de chegar na meta em 2016? Se ele quer manter o compromisso, a Selic ainda vai ter que subir, pelo menos até 14,5%. Mas o BC precisa manter o compromisso, até setembro, outubro. Ainda assim, isso não garante que vá chegar aos 4,5% em 2016. Será difícil alcançar, já que se está partindo de uma taxa de inflação de serviços muito alta e de uma taxa de desemprego muito baixa. A menos que se tenha um acidente no percurso, fazendo com que o desemprego acelere de forma mais rápida, em 10%, no fim do ano, aí se chega lá. Mas esse não seria o comportamento natural do mercado de trabalho, que costuma demorar um ano e meio para responder à desaceleração da economia. Parece maldade, mas não é. Há uma relação forte entre taxa de desemprego e taxa de inflação dos serviços: quanto maior é o desemprego, menor é a inflação de serviços.

O preço do ajuste passa pelo desemprego?

Para se chegar a 4,5% em 2017, é preciso fazer, hoje, uma política monetária dura. O preço do ajuste passa, sim, pelo desemprego. Eu não conheço ninguém que tenha feito diferente, nunca. E esse é o pavor dos governos de esquerda.

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