Brasília - A desaceleração da economia, combinada à escalada da inflação, tem corroído o orçamento familiar e passou a afetar mais intensamente os resultados do setor de serviços. Após alta de 1,7% em abril, a receita nominal do setor desacelerou para 1,1% em maio, frente ao mesmo mês de 2014 — o pior resultado para o período desde 2012. Considerando a variação da inflação, porém, houve retração de 6,6% no período. Com esse resultado, já são 15 meses consecutivos de queda real da receita de serviços, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Comparando apenas a variação nominal, os resultados também têm mostrado desaceleração. Em 12 meses, o avanço das receitas do setor de serviços foi de 3,8%. Considerando os cinco primeiros meses deste ano, porém, a alta foi de 2,3%, levando em conta o mesmo período de 2014.
Especialistas chamam a atenção para a perda de dinamismo da renda das famílias, que vêm sentindo o orçamento doméstico apertar diante da escalada dos preços e do encarecimento dos financiamentos bancários, em função do aperto monetário. “A perda do poder de compra, proveniente da persistência inflacionária e do enfraquecimento do mercado de trabalho, vem impedindo o crescimento real do setor”, reforçou a nota da Confederação Nacional do Comércio (CNC), assinada pelo economista Bruno Fernandes. Para ele, o fraco resultado da receita dos serviços deixa claro o processo de “deterioração das condições econômicas ao longo de 2015”.
Números do IBGE reforçam esse quadro de pessimismo. Pela primeira vez em toda a série histórica, os serviços prestados às famílias — praticamente imunes à desaceleração da economia, em função da manutenção dos programas sociais e das transferências de renda — apresentaram retração. Em maio, a queda nominal das receitas chegou a 1,4%.
O desempenho foi tão fraco que levou o resultado acumulado em 12 meses a inverter a tendência de alta. Até abril, as receitas estavam no azul em 0,1%. Em maio, o saldo em 12 meses ficou no vermelho em 1,1%.
Os números refletem as dificuldades enfrentadas pelas empresas de serviços, que, diante da queda nas vendas, passaram a cortar postos de trabalho, para assegurar as margens de lucro. Apenas em maio, as demissões líquidas no setor chegaram a 32.602 postos de trabalho, de acordo com dados do Ministério do Trabalho.
Mas, há quem aposte que esses números ainda vão piorar. Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, a desaceleração nas vendas do setor de serviço se deve a uma conjunção de fatores, entre os quais a alta do desemprego, mas sobretudo a piora da recessão. “Os resultados fracos são mais em função da desaceleração da economia, combinada à queda da renda do consumidor, do que que propriamente pela alta do desemprego”, diz.
Para o economista, o efeito das demissões deve “bater pesado” nos resultados do setor de serviços no segundo semestre e, dependendo da intensidade, é possível que mesmo a receita nominal dos serviços passe a recuar, o que ainda não aconteceu.