O governo procurou não fazer grande estardalhaço sobre as medidas de estímulo ao mercado de crédito, embora elas obviamente tenham sido bem recebidas. “É uma medida técnica do Banco Central (BC), não é um pacote do governo”, diz uma bem informada fonte palaciana. A postura discreta também tenta não estimular as inevitáveis leituras de que o BC teria agido sob pressão ou mesmo politicamente, buscando criar boas notícias em um momento em que a economia fraca atrapalha a popularidade da presidenta Dilma em sua disputa pela reeleição. “São medidas tecnicamente corretas, acertadas, mas também pontuais e graduais, não têm efeito de curto prazo para influenciar no voto de quem quer que seja”, reage a fonte.
Uma coisa é certa: a retração do crédito já era tema de preocupação dentro governo há algum tempo, além de objeto de reclamações públicas do Ministro da Fazenda, Guido Mantega. A Fazenda chegou a sugerir medidas específicas para setores, então rejeitadas pelo BC, que também estava estudando o assunto. A autoridade monetária optou por reverter travas impostas em 2010, quando a rápida expansão do crédito mostrou-se um risco. Foi anunciada a redução no recolhimento de parte dos compulsórios e no requerimento de capital para risco de crédito ao varejo, com potencial para injetar R$ 45 bilhões de reais na economia. Feito isto, a sinalização é de que o BC não tem mais medidas na mesma linha no forno, ao menos no momento.
Assim como o próprio BC, a mesma fonte sustenta que não há contradição entre a manutenção dos juros em 11% ao ano, alcançados após um longo processo de aperto monetário, e a flexibilização no crédito editada na sexta-feira. “É uma medida simples e eficaz, mas tópica”, diz a fonte. Busca-se eliminar obstáculos específicos ao crédito e abrir novas opções de negócios a bancos menores, sem pressionar a demanda e prejudicar o objetivo maior de manter o combate à inflação. Além disso, argumenta o BC, o volume potencial de recursos liberados para ingressar na economia depende da disposição das instituições financeiras em emprestar. E é pouco representativo em comparação ao volume de crédito do mercado.
Explicações à parte, analistas se mostraram confusos. O anúncio em uma sexta-feira certamente não foi por acaso. O final de semana costuma ajudar na digestão de novas medidas e “baixar a poeira” das que causam polêmica.
A caminho
Nos próximos dias, será a vez da Moody’s iniciar sua agenda de entrevistas com economistas, empresários e representantes do governo para uma nova rodada de avaliação do risco soberano brasileiro. Os especialistas da agência marcaram diversas reuniões em São Paulo, Rio de Brasília. A Moody's tem uma classificação de grau de investimento Baa2 para o Brasil, com perspectiva estável. A rodada de coleta de informações tem o objetivo de avaliar a classificação e decidir se ela será mantida, como fez a agência Fitch recentemente, ou rebaixada — medida adotada pela Standard & Poors no início deste ano.
A Moody's baixou recentemente a previsão de alta do PIB de 1,8% para 1,3% em 2014, e para 2015, de 2% para 1,5%. Em documento, a agência afirmou que a perspectiva do rating do Brasil “será provavelmente determinada pelo sucesso ou fracasso da próxima administração em reverter as tendências econômicas negativas e impulsionar o crescimento do Brasil para perto de seu potencial”. Para alguns economistas, avaliações deste tipo são uma indicação que a agência tenderia a seguir o mesmo caminho da Fitch: não mudar nada por enquanto. A conferir.
Posicionamento estratégico
Há uma grande dúvida sobre como se comportarão os fluxos de capitais quando os juros dos títulos americanos começarem finalmente a subir — algo esperado para o próximo ano. A preocupação reside do comportamento da taxa de câmbio brasileira, vista como uma das mais sensíveis às oscilações de capitais entre os países emergentes. A desvalorização do real frente ao dólar imporia pressões extras sobre a inflação. Mas um experiente especialista em política monetária que já teve de lidar, de dentro do governo, com vários momentos de aperto na liquidez internacional no passado diz que o câmbio mais caro não é uma fatalidade. Em 2004, lembra a fonte, houve um aperto de liquidez de grandes proporções que o mundo não sentiu. Além disso, as retirada dos estímulos monetários vêm sendo bem comunicados. Mas, sobretudo, é o elevado nível da taxa de juros brasileira que faz a fonte apostar em uma instabilidade cambial menor. Mesmo que os treasuries fiquem mais atraentes, o Brasil continuará sendo um bom negócio com a taxa Selic na casa dos 11%.