Presidente Jair Bolsonaro - Liamara Polli/Parceiro/Agência O Dia
Presidente Jair BolsonaroLiamara Polli/Parceiro/Agência O Dia
Por MARTHA IMENES

Rio - A viagem do presidente Jair Bolsonaro a Washington para encontrar seu homônimo Donald Trump será pautada por uma agenda conservadora que visa, inclusive, aumentar a pressão sobre Nicolas Maduro, da Venezuela. No prato principal do encontro dos chefes de Estado a assinatura de um acordo que permitirá o lançamento de satélites americanos da base de Alcântara, no Maranhão. O que é visto como risco à soberania por nacionalistas brasileiros.

Durante uma "live" no Facebook na última quinta-feira, Bolsonaro anunciou a ida à Casa Branca, a primeira de caráter bilateral desde a sua posse em 1º de janeiro. Com a sua posse, décadas de relações que não passavam de cordiais entre Brasília e Washington ficaram para trás com a chegada ao poder do capitão da extrema direita, apelidado de "Trump dos trópicos" por sua admiração e sintonia ideológica com a agenda nacionalista e antiglobalista do americano.

Bolsonaro se hospedará até quarta-feira na Blair House, residência oficial para hóspedes em frente à Casa Branca.

No palácio onde Bolsonaro ficará em Washington já se hospedaram os presidentes Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.

Salão Oval

Além de manter uma "reunião privada" com Trump prevista para depois de amanhã no Salão Oval, Bolsonaro aproveitará sua estada na capital americana para se reunir com o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e participará de vários fóruns para mostrar as oportunidades oferecidas pelo Brasil.

Hoje Bolsonaro participará de um jantar na residência do embaixador do Brasil em Washington com "vários formadores de opinião", ao qual comparecerão o escritor brasileiro residente nos Estados Unidos, Olavo de Carvalho, considerado o guru de Bolsonaro, e Steve Bannon, controverso ex-assessor do presidente americano.

Comitiva

Bolsonaro viajou acompanhado por seis ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Tereza Cristina (Agricultura) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).

Também presente à comitiva está o filho do presidente, o deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro, que é muito ativo nas articulações com representantes da onda neoconservadora mundial.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que deveria estar na viagem, ficará no Brasil para "amarrar" a proposta que prevê a inclusão dos militares na Reforma da Previdência. Até o momento o que se sabe de concreto é que a proposta dos militares será mais branda que a dos civis, com uma regra de transição que pode chegar a 20%, a dos trabalhadores privados é de 50%, e a criação do cargo de sargento-mor, que prevê o pagamento de adicionais.

Países assinarão acordo para instalar base no Maranhão

O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ao lado de Bolsonaro no programa semanal do Facebook, afirmou que na visita serão assinados vários acordos, entre eles o que dará salvaguardas tecnológicas para que os Estados Unidos possam usar a base de lançamento de satélites de Alcântara. E isso desperta desconfiança de setores nacionalistas, que veem neste acordo entre os dois países o risco de perda da soberania.

A base Alcântara tem uma localização ideal para os lançamentos, pois está muito próxima à linha do Equador, o que permite economizar até 30% do combustível ou levar mais carga.

Segundo Araújo, sem o acordo não seria possível o uso de tecnologia americana, e sem tecnologia ninguém faz lançamento de satélites.

"A assinatura de Alcântara é outra mostra do alinhamento do Bolsonaro com os Estados Unidos, como já fez ao aceitar o acordo entre Boeing e Embraer", explicou o internacionalista Paulo Wrobel, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Os analistas esperam que os dois presidentes também discutam medidas para aumentar o comércio bilateral - sem reduzir limites que o Mercosul impõe no caso do Brasil - e a entrada do país na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Depois de sua viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro visitará o Chile e no fim do mês para Israel, em uma demonstração clara de sua tentativa de aproximação a governos que considera comprometidos com suas opções ideológicas conservadoras e economicamente liberais.

Adeptos das tuitadas

Assim como Trump, Bolsonaro além de ser adepto da comunicação direta via Twitter, também adota uma retórica polêmica e críticos da imprensa. Os dois presidentes abordarão um dos temas que mais os une: sua ferrenha oposição à "ditadura" da Venezuela e a vontade de tirar Maduro do poder. O Twitter, pelo jeito, vai bombar nos próximos dias.

Os Estados Unidos estão à frente dos mais de 50 países - entre eles o Brasil - que reconhecem o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino, e aplicaram sanções econômicas e um embargo ao petróleo venezuelano, crucial para a sua economia, que começará a vigorar em 28 de abril.

Trump afirmou reiteradas vezes que todas as opções estão sobre a mesa e não exclui uma intervenção militar na Venezuela.

Mas Bolsonaro, que participou da frustrada operação de entrada de ajuda humanitária à Venezuela pelas fronteiras de Brasil, Colômbia e Curaçao, segue a linha do Grupo de Lima - formado por uma dezena de países latino-americanos e o Canadá - partidário de apertar o cerco econômico e diplomata sobre Maduro sem recorrer à força.

"É pouco provável que o Brasil adote ações militares para resolver a situação na Venezuela, mas é possível que Bolsonaro adote uma postura mais firme publicamente depois desta viagem a Washington", explicou à Agência France Presse Roberta Braga, diretora associada do centro latino-americano do Atlantic Council, com sede em Washington.

Apesar de seu repúdio à via militar, Trump se interessa em ter um aliado de peso como o Brasil "para seguir exercendo pressão sobre Maduro e garantir que esta onda de apoio que Guaidó recebeu não diminua com o passar do tempo", avaliou Thomaz Favaro, analista da Control Risks.

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