O presidente Jair Bolsonaro discursa para manifestantes que protestavam a favor da intervenção militar e pelo fechamento do Congresso Nacional em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília - GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente Jair Bolsonaro discursa para manifestantes que protestavam a favor da intervenção militar e pelo fechamento do Congresso Nacional em frente ao Quartel General do Exército, em BrasíliaGABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO
Por MARTHA IMENES
O domingo foi de "passeio" e carreata para o presidente Jair Bolsonaro que, contrariando novamente as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), sobre isolamento social para conter a pandemia do coronavírus, provocou aglomeração de pessoas. Apoiadores participaram de carreata em Brasília, Niterói, no Rio de Janeiro, Salvador, Manaus e São Paulo, onde o "alvo" era o governador João Doria. Além de ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso, os apoiadores de Bolsonaro pediram a volta do regime militar, o fim do isolamento com a volta ao trabalho e a abertura do comércio. Cabe destacar que 38.654 pessoas estão infectadas e outras 2.462 morreram por covid-19 no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.

O presidente tem incentivado os protestos pelo fim do isolamento e negado a gravidade da pandemia do coronavírus, além de promover passeios e aglomerações em Brasília, ao contrário do que recomenda a OMS. Inclusive por conta desse posicionamento, Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que defendia o isolamento.

Do alto de uma caminhonete na frente do do QG do Exército e se dirigindo à uma multidão, o presidente afirmou que "acabou a época da patifaria" e gritou palavras de ordem como "agora é o povo no poder" e "não queremos negociar nada".

Tossindo ao discursar, Bolsonaro afirmou: "Todos têm que ser patriotas, acreditar e fazer sua parte para colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais que direito, vocês têm a obrigação de lutar pelo país de vocês".
Este foi o segundo dia seguido de manifestação em Brasília que Bolsonaro participou, provocando aglomerações em meio à pandemia do coronavírus. "Chega da velha política. Agora é Brasil acima de tudo e Deus acima de todos", declarou.

Nas suas redes sociais, Bolsonaro publicou um vídeo onde discursava para a multidão que o seguia. Entre os apoiadores do presidente, alguns carregavam faixas pedindo "intervenção militar já com Bolsonaro".
Apoiar a volta da ditadura é crime contra a Constituição

A participação de Bolsonaro na carreata que pedia o fim do isolamento social e a volta da ditadura militar foi duramente criticada. Para Manoel Peixinho, especialista em Administração Pública e professor da PUC-RJ, o apoio a essas manifestações é um atentado contra a democracia e o Estado de Direito. "Diz o art. 4 da lei 1079/50 que se constitui crime de responsabilidade os atos do presidente que atentam contra a Constituição. Ora, o atentado à democracia é uma afronta direta a Constituição", avalia Peixinho.

"Democracia não é o que presidente Bolsonaro pratica: mandar o povo brasileiro para as ruas, correndo riscos de se contaminar, de tornar o nosso Brasil um país doente, em meio a uma grave crise de saúde mundial", escreveu o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), no Twitter.
Também no microblog, o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) escreveu: "As carreatas que Bolsonaro está estimulando são cortejos fúnebres. Elas colocam em risco a vida de todos os brasileiros, não só dos lunáticos que participam delas. O presidente e seus apoiadores são responsáveis pelas mortes."

O Fórum Nacional de Governadores divulgou carta onde manifesta apoio ao presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, diante das declarações de Bolsonaro, sobre a postura dos dois líderes do parlamento brasileiro, afrontando princípios democráticos que fundamentam a nação.
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