Presidente da República Jair Bolsonaro: popularidade do governo e pessoal em baixa.Promessas de campanha deixadas de lado - isac Nóbrega/PR
Presidente da República Jair Bolsonaro: popularidade do governo e pessoal em baixa.Promessas de campanha deixadas de ladoisac Nóbrega/PR
Por MARTHA IMENES
A nomeação do chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (PP-PI), Marcelo Lopes da Ponte, para a presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) Nogueira, que tem no cofre R$ 55 bilhões, é mais um passo do presidente Jair Bolsonaro para angariar votos e apoio do Centrão para barrar a abertura de um processo de impeachment. Cargos-chave em órgãos como o FNDE e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) também foram entregue a nomes indicados pelo grupo nos últimos dias. Na Câmara dos Deputados foram protocolados pelo menos 36 pedidos de afastamento do presidente. Esse toma lá, da cá, foi muito criticada por Bolsonaro na época da campanha presidencial em 2018, mas o que se vê hoje é a reprodução das mesmas práticas. É uma espécie de "Nova velha política".
Mas afinal que é o Centrão? São partidos de centro-direita, conhecidos por estarem abertos a negociações por cargos em troca de dar sustentação a governos no parlamento. E como Bolsonaro não tem uma base parlamentar, está acenando com cargos públicos a esse grupo.
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O sociólogo e professor da UFRJ, Paulo Baía avalia que por Bolsonaro estar "emparedado" com as demandas junto ao Supremo Tribunal Federal - que investigam as fake news e ameaças a ministros da Corte - e com os pedidos de impeachment na Câmara dos Deputados, ele está em busca de votos e utilizando as práticas antigas.

"Os processos do Supremo podem chegar à votação na Câmara dos Deputados primeiro", avalia Baía, que avalia que Bolsonaro nunca teve desde o início do seu governo uma base parlamentar, e o que foi aprovado no seu governo eram pautas Rodrigo Maia e não explicitamente pauta do Bolsonaro.

Segundo o professor, todo esse movimento em torno de cargos é para assegurar que ele tenha 172 votos na Câmara, o que poderia barrar um pedido de impeachment. "Esse é o esforço que ele (Bolsonaro) faz trazendo para junto de si Roberto Jefferson e partidos do Centrão" acrescenta o sociólogo. " Os partidos do Centrão são movidos a dinheiro público e por serem movidos a dinheiro público os cargos que ele está oferecendo são muito importantes. É evidente que isto fica mais dramático para a sociedade quando a gente vive essa tragédia da covid-19 e um número de mortos que já chega a 30 mil pessoas. E estados e municípios com muita dificuldade por não terem como atender a essa nova demanda, que já não eram atendidas antes da pandemia", afirma Paulo Baía.

"A aproximação de Bolsonaro com o Centrão faz relembrar as práticas do governo Michel Temer. É importante ressaltar que o Centrão foi o eixo central dos governos Lula e Dilma e quando abandonaram a Dilma já estava tudo montado para o governo Temer. É um grupo que não consegue viver politicamente sem cargos públicos. Isso para eles é fundamental. Não existe diferença nas práticas políticas de Jair Bolsonaro com a dos presidentes anteriores", finaliza o professor.

Bolsonaro faz referência à Mussolini
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) compartilhou na noite de domingo um vídeo que contém uma frase atribuída ao líder fascista Benito Mussolini. As imagens foram postadas na página oficial do chefe do Executivo no Facebook.

O vídeo mostra um idoso italiano caminhando pela rua e fazendo um discurso supostamente a favor da liberdade. Em determinado momento, o homem cita uma frase atribuída a Mussolini. "Melhor um dia como leão do que cem anos como ovelha", afirma.

Ao compartilhar o vídeo, o presidente afirmou que o discurso do idoso resume a situação atual do povo brasileiro. "Em 1 minuto o velho italiano resumiu o que passamos nos dias de hoje", postou Bolsonaro.

Recorrente

Não foi a primeira vez que o governo Bolsonaro usou estética extremista em um discurso. Em janeiro deste ano, o então secretário da cultura, Roberto Alvim, divulgou um vídeo em que usa frases semelhantes às de um discurso de Joseph Goebbels, ministro responsável pela propaganda nazista no regime de Adolf Hitler. Alvim foi exonerado do cargo após o episódio.

Em maio, a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República usou um lema associado ao nazismo - "O trabalho liberta" - para divulgar as ações que o governo federal vem tomando para conter o avanço do novo coronavírus no País. A Secom negou qualquer ligação com qualquer ideia totalitária.

Na última semana, Bolsonaro bebeu um copo de leite durante uma live. O gesto teria sido em apoio ao setor lácteo, que lançou uma espécie de "desafio do leite". Críticos do presidente disseram que a atitude foi um cumprimento velado a grupos neonazistas, já que se exibir bebendo leito virou um símbolo associado a grupos de supremacistas brancos.

'Não coordeno nada, só prestigio'
Mais um domingo em Brasília, mais um dia de manifestações antidemocráticas pedindo fechamento do Supremo, do Congresso, volta da ditadura e que contou com a participação do presidente Jair Bolsonaro, que minimizou sua participação nas manifestações. O presidente disse que apenas prestigia quem o apoia e que não é responsável pela organização das manifestações.

"Tão marcando domingo movimento né, deixa sozinho domingo, deixa sozinho. Não sou dono de grupo, não coordeno nada. Eu apenas compareço. Só vou prestigiar vocês que estão me apoiando. É um movimento limpo, pela democracia, pela lei, pela ordem. Eu apenas compareço, não conheço ninguém desses grupos. Já que marcaram, deixa eles domingo lá ", disse, em conversa transmitida por seu perfil no Facebook.


Moro critica flexibilização de porte de arma
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O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro afirmou que a flexibilização do porte e da posse de armas não pode ser usada para “promover espécie de rebelião armada contra medidas sanitárias impostas por governadores e prefeitos” durante a pandemia causada pelo novo coronavírus.

Ontem, Moro divulgou uma nota no Twitter em que rebate as críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro sobre sua gestão à frente da pasta. “Sobre políticas de flexibilização de posse e porte de armas, são medidas que podem ser legitimamente discutidas, mas não pode se pretender, como desejava o presidente, que sejam utilizadas para promover espécie de rebelião armada contra medidas sanitárias impostas por governadores e prefeitos”, escreveu.

Em conversa com apoiadores mais cedo, na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro criticou o ex-ministro, que, segundo ele, agiu “de forma covarde” durante reunião ministerial do dia 22 de abril e atuou para dificultar armas para “cidadãos de bem”.

Moro ainda se posicionou contra a revogação de controle e rastreamento de armas no Brasil e classificou a medida como “irresponsável”. “Nem sendo igualmente recomendável que mecanismos de controle e rastreamento do uso dessas armas e munições sejam simplesmente revogados, já que há risco de desvio do armamento destinado à proteção do cidadão comum para beneficiar criminosos”, acrescentou.

Também segundo o ex-ministro, medidas de isolamento e quarentena são necessárias para conter a pandemia de coronavírus e “salvar vidas” e “devem, certamente, ser acompanhadas de medidas de para salvar empregos, rendas e empresas”.