Ministro interino, Pazuello suspendeu as coletivas diárias para informar as ações de combate à covid-19 - Agência Brasil
Ministro interino, Pazuello suspendeu as coletivas diárias para informar as ações de combate à covid-19Agência Brasil
Por MARTHA IMENES
O governo federal vem colecionando crises e mais crises desde o início da pandemia do coronavírus. Primeiro foi a pasta da Educação, que teve 4 ministros em um ano e meio, em seguida os holofotes miraram o próprio presidente Jair Bolsonaro - por conta do seu negacionismo diante da pandemia e os escândalos envolvendo os primeiros-filhos-, agora o pivô da "crise do momento" é o ministro interino da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello.

O militar, ao que tudo indica, tem feito ouvido de mercador e tomado medidas que contrariam as orientações do Comitê de Operações de Emergência em Saúde Pública, órgão técnico da pasta, que em maio alertou sobre a falta de 267 insumos para combater a covid-19, entre eles, remédios. E que sem medidas de isolamento eficazes o Brasil levará dois anos para controlar a pandemia. Resultado: falta material no SUS e o país tem hoje 2.343.366 de casos confirmados e 85.238 mortes.

Levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde divulgado no fim de junho concluiu que estavam em falta medicamentos para pacientes internados nas UTIs de 21 estados e no Distrito Federal. Hospitais não conseguiam ter acesso a itens como sedativos, anestésicos e bloqueadores neuromusculares, usados nos pacientes que precisam ser intubados. O que tem de sobra é cloroquina. São 4 milhões de comprimidos em estoque.

"Devido a atual situação não é aconselhável trazer uma quantidade muito grande (de cloroquina), pois caso o protocolo venha a mudar, podemos ficar com um número em estoque parado para prestar contas".
Esse alerta foi dado cinco dias depois de o Ministério da Saúde atualizar o protocolo para covid-19 no SUS e permitir a prescrição de cloroquina até para pacientes com sintomas leves. Lembrando que o remédio é o "queridinho" de Bolsonaro para tratamento da doença, mesmo sem ser eficaz.

Diversos países já proibiram o uso da medicação em pacientes com covid-19. E a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda o uso da cloroquina para tratamento da doença.

'CADÊ O ISOLAMENTO?'
Outra bola fora do ministro-general foi o isolamento social, ação comprovadamente eficaz para evitar a propagação do vírus. Em uma reunião no dia 25 de maio, o comitê alertou que sem isolamento social o país pode levar até dois anos anos para controlar a pandemia.

Em ata, os técnicos informaram a Pazuello que "toda pesquisa leva a acreditar que o distanciamento social é favorável para a população e o retorno da economia mais rápido". Afirmaram ainda que "medidas sociais drásticas dão resultados positivos" e que "sem intervenção, esgotamos UTIs, os picos vão aumentar descontroladamente, levando insegurança à população que vai se recolher mesmo com tudo funcionando, o que geraria um desgaste maior ou igual ao isolamento na economia".

Apesar dos alertas, o Ministério da Saúde adotou orientação contrária: não reforçou qualquer pedido para que estados e municípios endurecessem as regras de isolamento social da população.
Interino incentivou retorno de atividades
Após o alerta sobre o isolamento social, o Ministério da Saúde publicou uma portaria sobre o retorno das atividades, enfatizando seus benefícios, e reforçou que essa decisão cabe às autoridades locais.

O texto, assinado por Pazuello diz que "retomar as atividades e o convívio social são também fatores de promoção da saúde mental das pessoas, uma vez que o confinamento, o medo do adoecimento e da perda de pessoas próximas, a incerteza sobre o futuro, o desemprego e a diminuição da renda, são efeitos colaterais da pandemia pelo sars-cov-2 e têm produzido adoecimento mental em todo o mundo".
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Substituto de Mandetta
O negacionismo e a inércia do Planalto, que fez pouco caso da doença, foram ofuscados pela atuação do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que com sua equipe, elaborou medidas e estratégias para conter a propagação do vírus e diariamente colocava a população a par dos acontecimentos. O seu desempenho diante da crise sanitária teria causado "ciumeira" e isso acabou com sua saída do ministério em abril.

Para o seu lugar Bolsonaro designou o general Pazuello. E de lá pra cá muita coisa mudou: as coletivas não ocorrem mais, o Ministério da Saúde ignora os alertas das autoridades sanitárias e do próprio comitê, não divulga os números, e não faz a testagem na população, prometida pelo seu antecessor.