Ataque à Dilma Rousseff foi criticado por várias personalidades políticas, inclusive adversários
Por MARTHA IMENES
Respeito e solidariedade. Essa foi a tônica de parlamentares, ex-presidentes, sociólogos e personalidades após a fala - mais uma vez jocosa - do presidente Jair Bolsonaro questionando não só a ditadura militar, que assolou o país por 21 anos, mas também a tortura sofrida pela ex-presidente Dilma Rousseff, na época com 22 anos. Falando à sua claque costumeira de apoiadores na porta do Palácio do Planalto, Bolsonaro ironizou os relatos de Dilma sobre o período em que foi presa, em 1970, e disse que aguardava um raio-X de Dilma para provar que ela teve a mandíbula fraturada.
"Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio-X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio-X", afirmou. A reação foi imediata nas redes sociais e fora dela.
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Em nota publicada no Twitter, Dilma escreveu que "quem não se sensibiliza diante da dor de outros seres humanos, não merece a confiança do povo brasileiro" e que Bolsonaro tem uma "índole de torturador".
"A cada manifestação pública como esta, Bolsonaro se revela exatamente como é: um indivíduo que não sente qualquer empatia por seres humanos, a não ser aqueles que utiliza para seus propósitos. Bolsonaro não respeita a vida, é defensor da tortura e dos torturadores, é insensível diante da morte e da doença, como tem demonstrado em face dos quase 200 mil mortos causados pela covid-19 que, aliás, se recusa a combater. A visão de mundo fascista está evidente na celebração da violência, na defesa da ditadura militar e da destruição dos que a ela se opuseram", escreveu.
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Na GloboNews, a jornalista Miriam Leitão fez um alerta: "Esse é o presidente Bolsonaro, ele se diz cristão e ri do sofrimento humano".
No Twitter os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT) manifestaram apoio. "Brincar com a tortura dela (Dilma) – ou de qualquer outra pessoa – é inaceitável", escreveu Fernando Henrique. Ele acrescentou ainda que a atitude de Jair Bolsonaro "passa dos limites".
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De Cuba, de onde só volta no próximo mês, o ex-presidente Lula escreveu que "o Brasil perde um pouco de sua humanidade a cada vez que Jair Bolsonaro abre a boca".
Adversários políticos de Dilma, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi se manifestaram.
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Para Maia "Bolsonaro não tem dimensão humana". No Twitter, Maia escreveu: "Tortura é debochar da dor do outro. Falo isso porque sou filho de um ex-exilado e torturado pela ditadura. Minha solidariedade à ex-presidente Dilma. Tenho diferenças com a ex-presidente, mas tenho a dimensão do respeito e da dignidade humana."
Já Baleia Rossi, candidato à presidência da Câmara, escreveu: "Não é sobre esquerda, centro ou direita. É sobre a dignidade humana, é disso que se trata. Nossa solidariedade à ex-presidente Dilma Rousseff. Tortura nunca mais."
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O vice-presidente nacional do PDT e ex-ministro Ciro Gomes, disse que Bolsonaro atacou Dilma por ser "frouxo, corrupto e incapaz". "Enquanto ela defende suas convicções, ele vende o País ao estrangeiro e, por sua irresponsabilidade, quase 200 mil brasileiros já perderam suas vidas", comentou.
Molon: 'Um perverso na presidência'
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Em conversa com o jornal O DIA o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) criticou a postura de Bolsonaro: "É simplesmente inacreditável que alguém se comporte de maneira tão sórdida. Debochar de um crime inafiançável como a tortura mostra que temos na Presidência da República uma pessoa perversa".
Já para o sociólogo Paulo Baía a tortura é abominável em qualquer que seja a sua forma, seja lembrar, fazer apologia, ou ser leniente com a tortura. "Não há possibilidade dentro da humanidade de qualquer convívio com a tortura ou com o torturadores. A tortura avilta a humanidade, ela não só humilha a vítima do torturador, mas a todos nós se ficarmos calados diante de uma pessoa torturada", avalia o professor da UFRJ.
Ex-presas políticas enviam carta ao STF e Congresso
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Os ataques de Jair Bolsonaro à ex-presidente Dilma Rousseff foram parar no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Congresso Nacional. Em carta, 23 vítimas da tortura na ditadura militar cobram providências das instituições democráticas contra agressão de Jair Bolsonaro, que para apoiadores na porta do Planalto, fez piada com a tortura sofrida por Dilma nos anos 70, quando foi presa por militares.
Entre as signatárias, Maria Amélia de Almeida Teles, Eleonora Menicucci, Iara Seixas e Lenira Machado. "Não permitiremos que nosso país mergulhe de novo no fascismo e no obscurantismo", apontam.
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"Em mais uma atitude irresponsável e incompatível com o cargo que exerce, o presidente mais uma vez faz apologia à tortura e humilha as vítimas torturadas a quem o Estado brasileiro já anistiou e pediu desculpas pelas violências cometidas", diz o texto da carta, assinada pelas militantes contra a ditadura militar.
"Nós, mulheres, ex-presas políticas, que nos rebelamos e resistimos contra o autoritarismo da Ditadura Civil Militar que impuseram à sociedade brasileira naquele período, vimos repudiar estes atos e demandar que as instituições democráticas do Estado Brasileiro tomem as providências cabíveis", escreveram na carta.