Enquanto tenta acompanhar as partidas da Copa do Mundo, o líder do Partido dos Trabalhadores no Senado, Humberto Costa (PE), se prepara para um jogo difícil na volta do recesso branco, com a oposição marcando firme na votação de projetos que implicam em aumento de gastos — como a Proposta de Emenda Constitucional que cria o adicional por tempo de serviços para juízes — e nas duas Comissões Parlamentares de Inquérito da Petrobras. Em entrevista ao Brasil Econômico, Costa faz uma avaliação positiva da performance do governo na Copa e diz acreditar em um revés no espírito dos insatisfeitos em relação à realização do campeonato no Brasil. “Aqueles governos que preferiram não se preparar para receber adequadamente a Copa vão se arrepender”, adverte.
O espírito da Copa se sobrepõe às insatisfações?
Eu tenho a percepção clara de que, apesar de todo jogo contra por parte da oposição e de alguns segmentos da mídia, o que está se desenhando é que nada do que foi dito por eles em relação à Copa do Mundo vai acontecer. Havia uma previsão de que faltaria energia, isso não vai acontecer. Diziam que os serviços públicos, aeroportos e sistemas de transporte não iriam funcionar a contento. Isso também não está acontecendo, o sistema está funcionando bem. Há outro ingrediente que se demonstrou muito mais forte do que se imaginava. Este espírito acolhedor da população brasileira, que sabe receber bem, tem gerado uma excelente avaliação por parte dos turistas.
O sr. acredita que o pessimismo de parte da população em relação à Copa vai se reverter?
No final das contas, sim. O que mais chama a atenção é que houve uma mudança de opinião sobre a própria Copa. Tem mais pessoas achando que trazer para o Brasil foi uma boa medida, que vai deixar um saldo importante. Aqueles governos que preferiram não se preparar para receber adequadamente a Copa vão se arrepender. A Bahia e o Ceará estão bombando na mídia internacional com a festa bonita preparada para a Copa. Pernambuco, que se recusou a bancar a Fan Fest, não ofereceu nada para os turistas, só tem a perder.
Alguns analistas dizem que o xingamento à presidenta Dilma Rousseff acabou se revertendo a favor dela, inclusive nas urnas. O sr. concorda?
Não é positivo que um chefe de Estado seja vaiado ou agredido pelos cidadãos de seu país. Por isso não vejo como se reverter positivamente. Mas, de fato, o episódio repercutiu negativamente para os candidatos adversários. Os dois que vêm logo depois da presidenta Dilma nas pesquisas tentaram tirar uma casquinha do episódio e demonstraram desconhecimento de que não se tratava do xingamento a uma candidata, mas sim à presidenta. Presidência da República é uma instituição. Ao invés de demonstrarem essa noção, os opositores tentaram pegar carona. Um (Aécio Neves) disse que a presidenta estava sendo sitiada. O outro (Eduardo Campos) disse que cada um colhe o que planta. Foi uma demonstração de quem não têm a dimensão do que é a instituição Presidência da República. Eles mais perderam do que Dilma ganhou. Deram demonstração de imaturidade e oportunismo. Isso, claro, pode se reverter a favor da presidenta. Mas de forma alguma se pode dizer que vaia ou agressão seja bom para a campanha.
Na volta do recesso branco o sr. estará encarregado de livrar o governo de algumas “pautas-bomba”, como a PEC 63, que eleva o salário dos juízes e a MP 644, da qual é relator, que altera a tabela do Imposto de Renda. Será difícil?
Algumas pautas-bomba são mais fáceis. Está nas mãos do governo federal tentar resolvê-las via negociação. Entre essas, está a PEC 63. O governo só precisa sentar com os representantes do Judiciário e do Ministério Publico para chegar a uma fórmula de consenso, para que a magistratura seja contemplada com o adicional, mas que não estoure o teto constitucional do salário. Essa, o governo só perde se quiser.
O sr. havia apresentado uma emenda com a solução para o adicional, mas vários senadores que a apoiavam retiraram a assinatura. O que houve?
A força do segmento. O Poder Judiciário está fazendo a parte dele no jogo político. O governo federal precisa fazer a dele, ou seja, negociar com o Judiciário, com o Ministério Público.
E as outras pautas-bomba?
Vamos ter que enfrentar na base da disputa, na perspectiva de fazer a maioria. É o caso da MP 644. Querem fazer uma correção na tabela do IR de 60%. Quando eles foram governo, nunca corrigiram em um centavo a tabela de imposto renda. Esta é uma matéria que vamos ter que enfrentar politicamente. Está claro que se trata de uma tentativa de armar um problema para o governo federal. Mas vamos conseguir derrubar.