Por douglas.nunes

Rio - Consideradas território importante para propagação do marketing político durante o período eleitoral, especialmente pelos candidatos à Presidência da República, as redes sociais deverão exigir mais trabalho, atenção e mudança de postura por parte dos políticos. De acordo com recente estudo divulgado pela equipe do Scup, ferramenta de monitoramento de redes sociais, de março até as vésperas do início oficial das eleições no último domingo, os candidatos à Presidência foram o tema direto de mais de 1,1 milhão de menções entre postagens e compartilhamentos no Facebook, Google+, Twitter e Instagram. Contudo, o que acontece na rede sobre política não tem agradado.

Dados da pesquisa revelam que há mais ódio do que amor em relação à política e as menções negativas sobre o tema chegam a 37% dos compartilhamentos, enquanto que somente 22% são positivas. Outro fator importante é que os internautas rejeitam a histórica prática de acusações entre os concorrentes.

“Existe uma forte onda, por parte dos candidatos, do uso de uma retórica de acusação ou de defesa no marketing disseminado nas redes sociais. Esse ponto, de maneira geral, tem causado maior repulsa em relação às campanhas”, disse o cientista político e especialista em marketing político da USP, Gaudêncio Torquato.

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as eleições de outubro contarão com quase 142 milhões de eleitores – 1,7 milhão com idades entre 16 e 18 anos, a chamada “geração selfie” - líder em número de conexões nas redes sociais. Nesse terreno, as discussões, como mostra a pesquisa do Voto Conetado, são motivadas por temas sobre a ideologia e os valores dos candidatos, o dia a dia da campanha, compartilhamentos de posts oficiais, histórico político dos candidatos, pesquisa eleitoral, resultados do governo, denúncias e propostas. Esses foram os assuntos mais comentados de março à última semana e mostra a força de propagação de informação na internet.

“O aumento de compartilhamentos sobre política e candidatos específicos nas redes sociais não necessariamente significa maior engajamento político, mas, sim, maior acesso à informação e isso é o ponto mais importante. Dessa maneira, não existe um só candidato que não pense na rede social como ferramenta importante para estratégia de campanha”, disse Ricardo Azarite, um dos autores da pesquisa e especialista em mídias sociais.

Ainda de acordo com o estudo, de todas as menções públicas sobre os candidatos no período da pesquisa, a candidata à reeleição, Dilma Rousseff, saiu na frente e teve 45% das postagens, seguida de Aécio Neves (PSDB), com 34%, e de Eduardo Campos (PSB), com13%. O nome do PSOL Luciana Genro teve 4% dos comentários.

Campanha online

De acordo com dados do Facebook Brasil, este deve ser o ano das eleições nas redes sociais e o Facebook, em particular, tem um papel importante nesse cenário, já que são nada menos que 87 milhões de pessoas usando a plataforma todos os meses no Brasil. Os números podem ser confirmados pelos dados do estudo que apontam o “face” na liderança em menções políticas, com 72% das postagens sobre o assunto. “A internet tem o papel de democratizar a informação e disseminar o conhecimento. E o Facebook é um canal importante para essa democratização nas eleições. Atualmente, quase metade da população brasileira está no Facebook e os candidatos não podem ignorar esse fato”, afirma o diretor de relações institucionais do Facebook Brasil, Bruno Magrani.

Ao lançar sua conta no Twitter, Aécio Neves faz um "selfie" para fazer sua primeira postagemDivulgação/Twitter

Em tempos de campanha em que a “geração selfie” cresce em importância na estratégia eleitoral, candidatos à Presidência marcam presença maciça na internet. Mídias sociais, como o Twitter, o Facebook, o Instagram e até o WhatsApp, serão usadas para o marketing político e deverão estar em segundo lugar na escala de atenção dos partidos, atrás apenas da propaganda eleitoral gratuita veiculada na TV.

“As redes sociais, daqui pra frente, crescerão de maneira extraordinária em relação à importância para os candidatos. Não se trata, porém, de uma competição com a TV. O diferencial, nesse caso, é a interação almejada por eleitores e buscada pelos candidatos”, destacou o especialista em marketing político Gaudêncio Torquato.

Na corrida por mais espaço nas redes, o candidato tucano Aécio Neves (PSDB) colocou no ar o site da campanha presidencial, nessa terça-feira. Com apenas 16 postagens no twitter da campanha, lançado na última segunda-feira, já conseguiu quase 50 mil seguidores.  Dilma Rousseff e Eduardo Campos já marcam presença na internet com sites oficiais, além de contas no Facebook e no Twitter.

“Finalmente estou no Twitter. Resolvi aprender a operar essa importante rede de diálogo”, postou Aécio Neves no Twitter pela primeira vez, após fazer um selfie e publicar em sua conta.

Para candidatos com tempo mais expressivo de campanha na televisão – caso de Dilma Rousseff e Aécio Neves – as redes sociais podem servir de plataformas auxiliares, mas, para os concorrentes com menos tempo de TV, as mídias sociais são a bola da vez. A campanha da postulante à Presidência pelo PSOL, Luciana Genro, que terá 51 segundos de propaganda política na TV, será pautada na busca de potenciais jovens eleitores que, segundo ela, não estão mais interessados na mesmice da propaganda gratuita na televisão.

“Temos pouco tempo de TV para divulgar nossa campanha e as redes sociais serão importantes nesse sentindo. Além disso, acredito que nossa estratégia para a internet está pautada na intensa interação, o que contribuirá para chegar aos jovens que não são mais público da propaganda tradicional”, afirmou.

Para a campanha, a legenda usará várias estratégias nas redes sociais: um site interativo para criação do programa de governo colaborativo, chamado de Plataforma 50 e videodebate com personalidades do partido através do Hangout - chat do Google. Além disso, o PSOL investirá pesado no Facebook, com a criação de publicações de teor mais leve, os chamados “memes”. “Isso atinge os jovens e os trazem para a campanha”, disse a candidata.

Candidato Pelo Partido Social Cristão (PSC) Pastor Everaldo diz que as redes sociais serão importantes para o partido e, como outros candidatos com menor tempo de propaganda na TV, concentrará esforços nas mídias sociais. O postulante à Presidência diz que estará no Facebook, no Twitter e no site oficial da campanha de forma contundente e descarta que existe qualquer resistência a ele devido a ligação com uma religião específica. “Não me preocupo com tempo de TV porque não me preocupo com o que não tenho. Além disso, a questão religiosa deverá ser superada, à medida que os eleitores nos conhecerem. O PSC é um partido plural, que prega princípios cristãos e não religiosos”, argumentou Everaldo, que acredita ainda no crescimento da candidatura ao longo da campanha.

Já o Partido Verde (PV), que lançou a candidatura de Eduardo Jorge à Presidência, também dependerá das redes para propagar a campanha política. A legenda, que tem ideais polêmicos como a legalização da maconha no país, terá apenas um minuto e um segundo para expor as ideias na televisão. “O mundo virtual ainda é novo para mim. Quando fazia campanha, na época em que fui deputado estadual e federal, a interação acontecia nas ruas e através dos meios de comunicação tradicionais. Hoje temos mais esse canal à disposição, que se mostra muito importante no sentido de possibilitar a interação direta com o público, espaço para debate e exposição de ideias e propostas”, disse o candidato Eduardo Jorge.

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