Por marta.valim

A construção de um aeroporto no município de Cláudio, em Minas Gerais, pelo então governador Aécio Neves, em um terreno que foi de seu tio, pode se tornar a primeira grande denúncia do período eleitoral envolvendo o nome de um candidato à Presidência da República. O PSDB negou a suposta irregularidade, noticiada no último domingo pelo jornal “Folha de S.Paulo”. Mas, diante da decisão da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e do Ministério Público de Minas Gerais de investigarem o caso, analistas medem o impacto da notícia na campanha tucana.

Ainda que nada fique provado contra Aécio na época em que ele esteve à frente do governo do segundo maior colégio eleitoral do país, o cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fábio Wanderley Reis afirma que dificilmente o assunto deixará de ser explorado pela oposição e que o dano está feito, já que o eleitor tende a acreditar muito mais na denúncia do que numa posterior correção da informação.

“Mesmo que a coisa esteja fria daqui a um mês ou mais, é inegável que o PT e a campanha de Dilma Rousseff tentarão reatualizar esse assunto. Acho que esse caso do aeroporto será explorado num pacote, em conjunto com outras situações que naturalmente se somam ao longo da campanha de Aécio. É assim que costuma acontecer com todos os candidatos. Claro que o grau desse assunto vai depender das investigações que virão”, avalia Wanderley Reis.

Para o doutor em Comunicação Política Roberto Gondo, que considera o caso como o “primeiro escândalo da campanha, mas que não é de grandes proporções”. Segundo ele, era, muito provavelmente, de conhecimento do PT há mais tempo. A luz lançada agora sobre a suposta irregularidade teria relação com o crescimento de Aécio nas pesquisas de intenção de voto e a possibilidade de uma disputa entre o tucano e Dilma num eventual segundo turno. “Esse é o primeiro efeito colateral. O PSDB criará mecanismos para ocultar essa situação desagradável, mas já é uma prova de que Aécio está incomodando”.

Gondo, que é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, aposta, porém, num pacto “que não chega a ser um acordo de cavalheiros”, mas que tentará neutralizar a troca de acusações mais explícitas entre Dilma, Aécio e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), já que estes estão ou estiveram recentemente em cargos públicos elegíveis. “Partindo do pressuposto de que todo mundo é vidraça, não é uma estratégia inteligente ficar atacando. O efeito tende a ser contrário. Basta lembrar que dias depois de a oposição explorar o mensalão no governo Lula, veio à tona o mensalão do DEM e o do deputado Eduardo Azeredo, do PSDB”, disse.

O histórico de escândalos no período de campanha eleitoral, aliás, é comum, como lembra o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice. Ele cita a desistência da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), quando ela abriu mão de concorrer na eleição presidencial de 2002, por conta de denúncias, ou no episódio do dossiê dos “aloprados”, que fazia acusações a José Serra (PSDB), então candidato ao governo de São Paulo em 2006.
“Escândalos sempre aparecem. O futuro deles é que vai depender, em primeiro lugar, da qualidade das explicações que o candidato der para o assunto e, em segundo, do interesse da imprensa em continuar investigando e buscando novas informações sobre o episódio. Obviamente, para Aécio isso representa um prejuízo para sua imagem, um risco em potencial, mas a gerência da denúncia é que vai definir o impacto ou não”, argumenta Noronha.

Para Roberto Gondo, o desdobramento da acusãção dependerá não apenas das respostas de Aécio, mas da forma como adversários levarão o caso, que é local, para o debate nacional, ao mesmo tempo em que o tucano vai se tornando conhecido no Brasil. “É uma denúncia regional que tem o objetivo de se tornar nacional. A estratégia é mostrar um candidato que não está isento de acusações. Os adversários terão algum êxito se conseguirem recaracterizar o fato no nível nacional e para um público mais instruído, sobretudo no Sudeste e especificamente em São Paulo, onde se espera que Aécio tenha muitos votos”, afirma.

Wanderley Reis, da UFMG, também aposta num prejuízo maior para Aécio entre os eleitores mais ricos, que, em princípio, estariam propensos a votar no tucano, mas, dependendo do sucesso da denúncia, poderiam ser tomados por algum tipo de desilusão com o senador mineiro, migrando para outro candidato.

Você pode gostar