Por douglas.nunes

A presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, manteve o domínio nos estados do Norte e Nordeste, mas perdeu participação em estados do Sudeste e Sul, em comparação com o primeiro turno das eleições de 2010, que disputou com o tucano José Serra e Marina Silva, então candidata do PV. A redução dos votos em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina custou à campanha petista o risco de iniciar o segundo turno com uma margem mais apertada com relação ao seu concorrente, o senador Aécio Neves (PSDB). Dilma saiu do segundo turno com 41,59% dos votos válidos, 5,31 pontos percentuais abaixo do verificado em 2010. Já Aécio manteve percentual semelhante ao registrado por Serra.

“Vemos um aprofundamento da divisão norte-sul do Brasil”, diz o cientista político Jairo Nicolau, para quem a perda de Dilma em estados mais ricos pode refletir um sentimento de piora na avaliação do governo, principalmente em estados menos beneficiados por programas de transferência de renda. “Com a economia pior e os escândalos de corrupção, o sentimento anti-PT se acirrou”, comenta ele, lembrando que o partido teve também um mau desempenho nas eleições legislativas. Nas eleições de domingo, Dilma teve 4,4 milhões de votos a menos do que em 2010 — no período, o número de eleitores subiu de 135,8 para 141,8 milhões.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), seis estados concentraram 85% dos votos perdidos por Dilma: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraná, Goiás e Santa Catarina. Apenas em São Paulo, foram 2,8 milhões de votos a menos do que em 2010 — no estado, o PT teve grandes derrotas, tanto na eleição para governador, com Alexandre Padilha, como na eleição para o Senado, com Eduardo Suplicy. Em Pernambuco, especialistas concordam que se trata de um caso atípico, já que a maioria votou na candidata do ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo no início da campanha — o PSDB também perdeu muitos votos lá.

A supremacia de Aécio Neves no Paraná e em Santa Catarina são vistas como sinais de desgaste do PT no sul-sudeste. Em Santa Catarina, o senador mineiro teria vencido no primeiro turno, com 52,89% dos votos válidos. No Paraná, ficou com 49,79% dos votos válidos. Nos dois estados, houve aumento dos votos no PSDB com relação a 2010, enquanto Dilma perdeu 7,95 e 6,40 pontos percentuais, respectivamente. Já Aécio perdeu votos, com relação a Serra em 2010, em estados do Nordeste, como Alagoas, Sergipe e Piauí, mas compensou as perdas com o crescimento nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

De acordo com os dados do TSE, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro concentram 90% dos votos ganhos pelo candidato do PSDB neste primeiro turno, em relação à votação de José Serra em 2010. Apenas em Minas Gerais, foram 1,1 milhão de votos a mais. “É bem provável que Aécio mantenha, no segundo turno, a vitória em estados do Sul e do Sudeste. O desafio da campanha de Dilma é reduzir a margem em alguns estados, que foi alta neste primeiro turno. Vai ser uma eleição muito disputada”, aposta Nicolau.

Dilma manteve sua supremacia no Nordeste, com desempenho de vitória em primeiro turno em todos os estados da região, excluindo Pernambuco. Também teve boa votação no Norte. Mas tem pouco espaço para crescimento nestas regiões, o que indica que a disputa pelo voto nas regiões Sul e Sudeste pode definir o segundo turno. O grande número de abstenções e votos brancos e nulos pode ser um trunfo nesta disputa.Segundo o TSE, 29% dos eleitores optaram por não eleger um candidato — abstenção de 19,4% mais 9,6% de brancos e nulos.

É um contingente maior do que o número de eleitores da candidata Marina Silva e que poderia decidir o segundo turno para qualquer um dos candidatos. Mas, segundo especialistas, o alto número pode indicar a descrença dos brasileiros no cenário político, o que torna mais difícil o esforço de convencimento dos eleitores.

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