Brasília - Com os plenários em funcionamento, comissões permanentes e temporárias instaladas, alguns nomes começam a despontar nesta legislatura como possíveis vozes da futura elite política do novo Congresso Nacional. Pela própria ação pessoal, ou empurradas por padrinhos, essas lideranças ganham destaque em discursos e atitudes que chamam a atenção de colegas veteranos da Casa e da imprensa.
Por conduzir o tema mais polêmico do momento, o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB), tem sido um dos mais observados. Surpreendeu pela firmeza com que conduz os trabalhos, muitas vezes marcados por debates para lá de acalorados. Em seu segundo mandato, o jovem parlamentar inspirou desconfiança de especialistas e colegas quando foi indicado para a difícil tarefa de presidir a CPI. Logo na sessão de instalação, o deputado, de apenas 25 anos, desafiado por experientes parlamentares grisalhos que o chamavam de “moleque”, tratou de buscar impor-se. “Cabelo branco não é sinônimo de respeito”. De lá para cá, tem sido elogiado por colegas de todas as colorações, pela segurança na hora de acalmar os ânimos — como aconteceu na última reunião da Comissão, que ouviria o ex-diretor da estatal Renato Duque. “A tensão daquela primeira sessão, em que ele se impôs, foi decisiva para que pudesse manter a postura de sobriedade e equilíbrio nos debates até o momento”, comenta o veterano deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
“Ainda é cedo para avaliar a atuação de Motta. É importante lembrar que ele está ali sustentado e orientado pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha”, pondera o cientista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). A mesma observação Queiroz faz ao analisar a performance do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), também jovem, apesar de estar em sua quarta legislatura. Picciani tem sido notícia quase diariamente por ser o intermediador nas negociações do pacote fiscal na Casa. “No caso de Picciani, a interferência de Cunha ainda é mais evidente, por pertencerem ao mesmo grupo político em seu estado. A sombra do presidente da Casa acompanhará Picciani por todo o mandato, ficando patente que está ali para executar a vontade do padrinho”, comenta Queiroz.
Já o líder da minoria, Bruno Araújo (PSDB-PE), inovou ao criar instrumentos para atrair atenção do plenário e da mídia para os seus discursos. Na última sessão da semana passada, exibiu uma primeira página do jornal “Zero Hora” de 2005 para demonstrar que o pacote anticorrupção da presidenta Dilma Rousseff já havia sido lançado por Lula dez anos antes. Em performance anterior, Araújo silenciou o plenário e provocou a ira de deputados petistas ao reproduzir pelo microfone da tribuna uma mensagem de Dilma, na campanha presidencial, como forma de comprovar a prática de crime eleitoral quando o governo lançou o pacote fiscal, negando, no entender do parlamentar, aquilo que prometera na propaganda de TV. E no dia seguinte ao 15 de março, bateu panela em pleo plenário, em solidariedade às vozes das ruas. “Não são factoides vazios. Busquei inovar, criando um mecanismo para atrair atenção, de maneira lúdica, para um conteúdo consistente. Todos esses gestos vêm acompanhados de conteúdo que expõe as fragilidades deste governo”, afirma o parlamentar.
“Em início de legislatura, a única maneira de um parlamentar ganhar visibilidade é por meio conjuntural, liderando um partido ou presidindo uma comissão. No caso do Bruno Araújo, ele já deu demonstração de que é bem articulado, tem luz própria, e se sustenta fora da liderança. Pode despontar como um verdadeiro líder”, aponta Queiroz, coordenador da pesquisa Radiografia do Novo Congresso.
Outros destaques apontados pelo diretor do Diap são o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), e o deputado Tadeu Alencar (PSB – PE). Rosso, diz o cientista político, retorna à Câmara, depois de ter sido parlamentar entre 2007 e 2011, como líder de um partido novo, que já nasceu grande, e tem sido um bom articulador na defesa dos interesses do governo. Já Alencar, Queiroz diz que entrou para o Congresso este ano com peso político e qualidade técnica. “Tadeu está em sua primeira legislatura, por isso não vai entrar logo em bola dividida. Mas como titular de comissões importantes, como a da Reforma Política e da CCJ, ele ainda vai mostrar a que veio”, opina.
No Senado, onde a perspectiva no início do ano era de que o embate político ganharia força, especialmente com a chegada de pesos pesados da oposição como Tasso Jereissati (PSDB-CE) e José Serra (PSDB-SP), nenhuma nova liderança despontou, na análise de Queiroz. “Surpreendentemente, no Senado a nova oposição ainda não apareceu. Serra talvez esteja caminhando para ser uma voz forte. Fez alguns discursos bons, mas ainda está tímido”, avalia, citando o discurso contra a política econômica, no qual Serra declarou que o governo estaria “de joelhos” diante da crise econômica.